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PENSAR É TRANSGREDIR* Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido. Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: "Parar pra pensar, nem pensar!" O problema é que quando menos
Pretéritos imperfeitos* “A experiência trivial do dia-a-dia sempre nos confirma alguma antiga profecia (...)” Ralph Waldo Emerson Existem eventos que possuem um começo sem fim. Perseguem uma in_de_termin_ação futura na travessia pelas antigas pontes. Neles é possível vislumbrar uma sombra suspeita, como algo mais a perturbar a lógica bem ajustada das convicções. Assim a grafia parece se orientar por um ontem a perdurar. Atitude rarefeita de olhares a perseguir buscas contaminadas. Esse contágio parece querer singularizar a pluralidade de cada um. Apreciam a menção de fatos acontecidos no prolongamento do instante. Aparecem como atuação simultânea de um em outro, seu paradoxo dilui-se numa dialética de integração. Uma de suas características é realçar fatos no momento em que ocorriam. Essa incerteza quanto ao amanhã, parece coincidir com o desfecho provisório de seu inacabamento. Nessa terra de ninguém uma infindável tram
Fragmentos poéticos, filosóficos delirantes* (...) Estou cansado da inteligência. Pensar faz mal às emoções. Uma grande reação aparece. Chora-se de repente, e todas as tias mortas fazem chá de novo Na casa antiga da quinta velha. Pára, meu coração! Sossega, minha esperança factícia! Quem me dera nunca ter sido senão o menino que fui… Meu sono bom porque tinha simplesmente sono e não ideias que esquecer! Meu horizonte de quintal e praia! Meu fim antes do princípio! Estou cansado da inteligência. Se ao menos com ela se percebesse qualquer cousa! Mas só percebo um cansaço no fundo, como pairam em taças Aquelas que o vinho tem e amodorram o vinho. *Fernando Pessoas
Bem vinda seja tu,mente que pensa...* Sobre a proposta para sair do reducionismo. Eis que entre todos “ismos” (pessimismo,conformismos,modismos,psicologismos..) se encontra o homem. Ao que parece, todos estes lugares comuns e bem comuns, já não servem e não se sustentam. O ser humano começa transbordar na ordem social que criou. Somos criadores e sempre desde sempre, reféns de nossas criaturas, estas que nos impõe para o andar em sentidos antagônicos e paradoxais. No entanto se avaliarmos com uma lupa existencial, a que se considerar alguns pontinhos de convergência. Derruba-se muros e se constrói barreiras. Cai um império sob dominação de outro. Dita-se uma religião e mata-se uma cultura (politeísta Grega por exemplo). Ha neste movimento um quê de sobriedade ante a inconsciência das grandes massas , que reagem automatizadas sobre qualquer verdade que as façam esquecer da dor, das diferenças, da falta de alcance a caminhos dignos a existência. Respondem às vezes hipnotizad
Via Láctea (trecho XIII)* “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora! “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.” *Olavo Bilac
Ao vivo, a cores e em PB* Deus pintou a natureza toda de várias cores, inclusive nossos amiguinhos, os animais. Quando chegou ao homem, resolveu usar apenas duas cores e nós não entendemos nada. Queria ver se a humanidade fosse um verdadeiro arco-íris (Marcos Teixeira**) Nascemos sem cor... a alma que chega ao mundo está vazia, como um quadro branco a ser preenchido com os tons e sobretons da vida. Não sabemos se somos brancos, pretos, amarelos, pardos, rosados, vermelhos, ou seja lá que nuances existam mais. Nascemos apenas com as possibilidades de escolha à frente, ainda que as condições não sejam tão razoáveis. O fato é que não daremos conta, obviamente, das tantas estranhezas que surgirão e provavelmente nem saberemos dar nome às sutilezas que as entrelinhas insinuarão. Nas fotografias existenciais ocorre que nem sempre preto é preto, branco é branco e as outras cores podem enganar os sentidos mais do que somos capazes de perceber. A verdade é que não deveria haver distin
CONFITEOR DO ARTISTA* Ah! Como os fins dos dias de outono são penetrantes! Penetrantes até doer! Porque há certas sensações deliciosas cujas imprecisões não excluem a intensidade; não há ponta mais aguda do que a do infinito. Grande delícia que é a de afogar sua vista na imensidão do céu e do mar! Solidão, silêncio, a incomparável castidade do azul! Uma pequena vela tremulante que, por sua pequenez e seu isolamento, imita a minha irremediável existência; melodia monótona das vagas, todas essas coisas pensam por mim ou eu penso por elas (pois na grandeza dos devaneios, meu eu se perde rapidamente!); elas pensam, digo eu, mas musicalmente e pitorescamente sem perspicácias, sem silogismos, sem deduções. Todavia, tais pensamentos que saem de mim ou se projetam das coisas cedo tornam-se intensos demais. A energia na volúpia cria um mal-estar e um sofrimento positivo. Meus nervos tensos demais só dão vibrações gritantes e dolorosas. E agora a profundidade do céu me consterna; sua l
A psicologia de Sartre* Outro dia estava discutindo com uma colega psicóloga sobre a teoria sartriana da existência que precede a essência. Após a discussão, dei-me conta de uma coisa: e se o existencialismo de Sartre fosse já um essencialismo velado? Pois é. Estávamos conversando sobre a ótica da Psicologia e não da Filosofia. Sobre a ótica da segunda, há vários aspectos problemáticos que podem aparecer. Mas é sobre a primeira minha teoria. O existencialismo de Sartre nos diz que o homem, a sua vida inteira, está sempre se fazendo, ou seja, determinando sua essência através de uma existência prévia. Nesse sentido, há uma primazia da existência sobre a essência. Entendo essência por aquilo que o homem traz dentro de si e que o constitui e, segundo Sartre, o homem não a traz: ela é construída com o passar do tempo. Porém, se formos analisar, o homem está sempre buscando se conhecer e quando procura um atendimento psicológico, antes de mais nada, ele quer entender como é que ele

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