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Lembrando Lou Salomé* A alma rufla para longe. O ser se vai em momentos de desespero da alma engaiolada. Em dor, o corpo exige primazia. Em posse dela, os seres se assemelham. Se arrastam pela noite da alma barbarizam seus rostos insanos arranham as paredes da vaidade não vêem a hora de dizer adeus a cada prova mais amarga a cada dia mais exposta e inexplicável. Sim, a vida da alma dói de tal modo que a irradiação nociva atinge camadas e vai penetrando pele e peles internas - mucosas; glândulas; seivas; veias rupestres; fibras nem tão inocentes; e, quando é funda demais, atinge os ossos e diz que veio pra ficar. Sim, a alma se vai como vão-se os anéis. É o divórcio imediato do qual resulta a depressão. Mas, se queres viver, viva por ela neste mundo de Maya. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Brasília/DF

Os dons das fadas*

Era um grande encontro de fadas para proceder à distribuição de dons entre todos os recém-nascidos, chegados à vida, nas últimas vinte e quatro horas. Todas essas antigas e caprichosas Irmãs do Destino, todas essas mães bizarras da alegria e da dor eram bem diferentes: umas tinham o ar sombrio e ranzinza, outras um ar caçoador e malicioso; umas jovens que sempre foram jovens e outras velhas que sempre foram velhas. Todos os pais que tinham fé nas fadas vieram, trazendo, cada um deles, seu recém-nascido nos braços. Os Dons, as Faculdades, as Boas Sortes, as Circunstâncias invencíveis estavam acumuladas ao lado do tribunal, sobre o estrado, para uma distribuição de prêmios. O que havia ali de particular é que os Dons não eram a recompensa de um esforço mas, pelo contrário, uma graça concedida aquele que ainda não vivera e que poderia determinar seu destino e tornar-se tanto a fonte de sua infelicidade quanto a de sua felicidade. As pobres Fadas estavam muito ocupadas, pois a multi
Presente Lunar* O ponto é de chegada e, em breve, de partida novamente. O presente é esta estação que nos permite voltar a considerar e reconsiderar. Celebremos, pois muitos foram os contatos com vibrações felizes em nosso ser. A Lua anterior nos libertou de estados anteriores e nos aproximou de caminhos que desejamos mais, tanto de forma individual como coletiva, e a imobilização saiu de cena. Chegamos a este tempo lunar que abrirá as possibilidades de recomeço, quando tudo poderá ser mexido após ou ao final desse momento, mas ainda não. O silêncio é nossa recompensa para que haja usufruto e regozijo, de diversos modos, pois há ainda quem desfrute de forma violenta, devendo muita sutilização ser alcançada. O tempo localiza-se no agora, no estado corporal, com a respiração tranquilizadora. Reverências ao nosso esqueleto que nos permite elevação. Reverências também ao nosso anahata chakra (do coração) que nos permite enlevarmo-nos. E que sua fala, mesmo baix
Gaia* Você sabe como eu sou despreocupada que me encerro neste quarto e me permito todas as divagações, as fantasias obsessões, perseguições, todos os dias você sabe que eu me viro de inventos que eu me reparto e dou crias que eu mal me resolvo e me aguento carrego pedras no bolso e enfrento ventanias. Você sabe como eu sou desorientada raciocínio pelo instinto e cometo fugas de túnel de ladra de galeria uso malhas e madras manhas e lenhas e percorro superfícies em que você escorregaria Mas você sabe como eu sou de subsolos de subterfúgios, de subversos subliminares como eu sou de submundos subterrãneos, de sub-reptícias folias meio de circo, meio de farsa ervas, panfletos, fluídos, presságios quebrantos, jeitos, gírias, reviras de sensações e cismas, filosofias de como eu sou de estradas, andanças, pressentimentos atmosférica e vadia gato da noite, de crises, guitarras ouros e danças e circunstâncias de vinho azedo e companhia. Que eu sou d
Pretéritos futuros* “Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?” Gaston Bachelard A concepção de um esboço de como seria a tradução de ideias em atitudes, poderia dizer a vida em retrospectiva de amanhãs. Um lugar onde se alcançaria a perspectiva imaginada, como se fora uma invenção a transbordar oceanos. Uma linguagem do futuro pretérito se oferece na palavra tentativa de superar o instante_antítese entre o vivido e sua descrição. Existem pessoas aprisionadas nalguma página do grande álbum das suas vidas. Numa dialética entre passado, presente e futuro, nem sempre conseguem realizar uma desconstrução de qualidade, capaz de alterar aquilo que já deveria ter sido. Raros transitam com leveza e desenvoltura entre um lugar e outro de sua estrutura existencial. Partindo do viés singular, numa percepção reflexiva da realidade plural, é
Fragmentos poéticos, filosóficos* Minha vida não é essa hora abrupta Em que me vês precipitado. Sou uma árvore ante meu cenário; Não sou senão uma de minhas bocas: Essa, dentre tantas, que será a primeira a fechar-se. Sou o intervalo entre as duas notas Que a muito custo se afinam, Porque a da morte quer ser mais alta… Mas ambas, vibrando na obscura pausa, Reconciliaram-se. E é lindo o cântico. (...) As folhas caem como se do alto caíssem, murchas, dos jardins do céu; caem com gestos de quem renuncia. E a terra, só, na noite de cobalto, cai de entre os astros na amplidão vazia. Caimos todos nós. Cai esta mão. Olha em redor: cair é a lei geral. E a terna mão de Alguém colhe, afinal, todas as coisas que caindo vão. *Rainer Maria Rilke
A Filosofia da Criança* A observação é realmente algo bom para se começar um estudo. Antropologicamente falando, a observação de nós homens é boa para termos idéia de costumes locais, crenças, culturas e outras coisas mais. Filosoficamente falando, podemos compreender os sistemas éticos e morais e que nos cercam e nos formam. Mas observando, ainda sob o olhar filosófico, uma outra população formada por gente miúda, as crianças mesmo, podemos ter uma idéia muito boa sobre nós mesmos e sobre nossos sistemas políticos etc.. As crianças são extremamente sinceras e estão sempre prontas a “jogar” sua sinceridade na nossa cara. Não me canso de pensar que elas são o retrato mais puro do que há dentro de nós mesmos e nós nem nos damos conta do quão verdadeiro isso pode ser. Por exemplo: quando aprendemos a dividir? A criança não divide, é dela e ponto! Ela luta pelo que entende ser bom e seu, somente seu. Já tentaram tirar um brinquedo da mão de uma criança? Ela não deixa! Faz uma força inc
Fragmentos filosóficos delirantes* "Quem sou eu? De onde venho? Sou Antonin Artaud e basta que eu o diga Como só eu o sei dizer e imediatamente hão de ver meu corpo atual, voar em pedaços e se juntar sob dez mil aspectos diversos. Um novo corpo no qual nunca mais poderão esquecer. Eu, Antonin Artaud, sou meu filho, meu pai, minha mãe, e eu mesmo. Eu represento Antonin Artaud! Estou sempre morto. Mas um vivo morto, Um morto vivo. Sou um morto Sempre vivo. A tragédia em cena já não me basta. Quero transportá-la para minha vida. Eu represento totalmente a minha vida. Onde as pessoas procuram criar obras de arte, eu pretendo mostrar o meu espírito. Não concebo uma obra de arte dissociada da vida. Eu, o senhor Antonin Artaud, nascido em Marseille no dia 4 de setembro de 1896, eu sou Satã e eu sou Deus, e pouco me importa a Virgem Maria. *Antonin Artaud

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