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Entre partir e ficar*

Entre partir e ficar hesita o dia, enamorado de sua transparência. A tarde circular é uma baía: em seu quieto vai e vem se move o mundo. Tudo é visível e tudo é ilusório, tudo está perto e tudo é intocável. Os papéis, o livro, o vaso, o lápis repousam à sombra de seus nomes. Pulsar do tempo que em minha têmpora repete a mesma e insistente sílaba de sangue. A luz faz do muro indiferente Um espectral teatro de reflexos. No centro de um olho me descubro; Não me vê, não me vejo em seu olhar. Dissipa-se o instante. Sem mover-me, eu permaneço e parto: sou uma pausa *Octavio Paz

Solta_lua_solta*

E vem vento através do vento e dos nossos pés. O dia é 22. O Louco também. Soltar, sol e ar. Aí está um outro altar. Que nesse chão haja leveza e assim nos proteja. O momento é de exceção. E com ele vem sua vibração. Saia do seu espaço cativo. Vá até um canto, um mesmo seu, que seja menos visitado. Leve-o para fora, e volte com suavidade para dentro. Num movimento de flexão, caminhe de uma ante para uma retro. Nela se encontra um chakra que é central, mesmo que não fisicamente. Abra esse canal de passagem para as mágoas, e favoreça seu desprendimento. As águas já se puseram fluentes com o poderoso triângulo que chegou nesse céu no mês lunar passado. E ainda aqui/aí/lá se encontra. Foi mesmo um Presente_Lunar. Num movimento de fluência que, após sentido, caminha para o livre e desapegado. Empenhe-se nesse lanç_ar-se, com tranquilidade. Esvazie-se e verá o quão rápido se recarrega e se regenera. Mas mantenha-se no esvazi_ar-se. Triângulos geram resultantes, sen

O Poeta é a Mãe das Armas*

O Poeta é a mãe das armas & das Artes em geral — alô, poetas: poesia no país do carnaval; Alô, malucos: poesia não tem nada a ver com os versos dessa estação muito fria. O Poeta é a mãe das Artes & das armas em geral: quem não inventa as maneiras do corte no carnaval (alô, malucos), é traidor da poesia: não vale nada, lodal. A poesia é o pai da ar- timanha de sempre: quent ura no forno quente do lado de cá, no lar das coisas malditíssimas; alô poetas: poesia! poesia poesia poesia poesia! O poeta não se cuida ao ponto de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo já sabe: não está cortando nada além da MINHA bandeira ////////// = sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar. Isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a r: em primeiríssimo, o lugar. poetemos pois *Torquato Neto /8/11/71 & sempre. Teresina/PI

A arte de escrever*

Quem tem a palavra como companheira, seja por profissão (jornalistas, advogados, escritores...), seja por hobby (contistas, cronistas e poetas nas horas vagas...), sabe o quanto um parto pode ser difícil e sem qualquer segurança de uma bela cria.   Quantas vezes ficamos horas, sem sucesso, em cima de um papel em branco, tamborilando com a ponta da caneta, à espera daqueles versos sublimes, sinceros, que transformam em palavras e ritmos nossos melhores (e piores) sentimentos? Ou então em frente ao computador, vendo o cursor piscando, como prova cabal de nossa incompetência naquele momento para expressar ideias e opiniões? O contrário também acontece. Quando menos esperamos, caminhando na rua, bem no meio de uma prova de matemática, ou então quando estamos dirigindo (e sem papel e caneta), parece que o texto nasce pronto, precisando apenas de alguns pequenos ajustes. O mais interessante (e todos que trabalham com a expressão escrita costumam dizer isso) é que o texto não vem em sucess
Prefácio para o livro Não, de Augusto de Campos* O filósofo Ludwig Wittgenstein (que comparece neste livro intraduzido em om / e. e. wittgenstein) dedicou toda sua obra à reflexão sobre os limites da linguagem. É famosa a asserção com que ele encerra o seu Tratactus Logico-Philosophicus: “O que não se pode falar, deve-se calar”. No extremo mais extremo dessa (im)possibilidade, para onde a filosofia ou a fala de todo dia apenas apontam, sem alcançar, emerge a linguagem-coisa de Augusto de Campos. Entre falar e calar, seus poemas parecem dizer o indizível, por não tentar dizê-lo, mas realizá-lo através da linguagem. Dessa condição limítrofe surgem as marcas de negação que vêm caracterizando sua poesia há muitos anos — poetamenos, expoemas, despoesia, o afazer de afasia, o vácuo o vazio o branco, o oco, a canção sem voz, poesia sem placebo, semsaída, nãopoemas, não. Tais sinais de menos adquirem positividade na medida em que os poemas se efetivam; minérios

Subjuntivos*

                                                       Talvez esse imenso lugar nativo ficasse inexplorado, não fora o movimento desconcertante a acessar as inéditas regiões. Essa aptidão de estranhamento, tão desmerecida, aprecia desnudar o espaço novo diante do olhar, interseção limiar com as demais teias discursivas. Através do viés desconsiderado é possível apreender e dialogar com a pluralidade transgressora das fronteiras conhecidas. Ao fazer possível o impossível se pode vislumbrar a ótica selvagem, um pouco antes de ser cooptada pelo saber instituído.   A cogitação sobre a origem dessa matriz já contém, em si mesma, a multiplicidade de versões. As lógicas da incerteza elaboram seus vocabulários brincando com os vestígios da irrealidade. O devir instintivo ensaia relatividades ao querer mostrar paradoxos, alternâncias, dialetos para se entender ou sentir que a perfeição de toda imperfeição nem sempre vai ser explicável.   Sua opinião escolhe de

OBSESSÃO DO MAR OCEANO*

Vou andando feliz pelas ruas sem nome... Que vento bom sopra do Mar Oceano! Meu amor eu nem sei como se chama, Nem sei se é muito longe o Mar Oceano... Mas há vasos cobertos de conchinhas Sobre as mesas... e moças na janelas Com brincos e pulseiras de coral... Búzios calçando portas... caravelas Sonhando imóveis sobre velhos pianos... Nisto, Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous, E eu me lembrei do pobre imperador Adriano, De su'alma perdida e vaga na neblina... Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano! Se eu morresse amanhã, só deixaria, só, Uma caixa de música Uma bússola Um mapa figurado Uns poemas cheios de beleza única De estarem inconclusos... Mas como sopra o vento nestas ruas de outono! E eu nem sei, eu nem sei como te chamas... Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano, Quando eu também já não tiver mais nome. *Mario Quintana 

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