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Exageros ?*

"Outro dia, fiquei pensando no mundo sem mim. Há o mundo continuando a fazer o que faz. E eu não estou lá. Muito estranho. Penso no caminhão do lixo passando e levando o lixo e eu não estou lá. Ou o jornal jogado no jardim e eu não estou lá para pegá-lo. Impossível. E pior, algum tempo depois de estar morto, vou ser verdadeiramente descoberto. E todos aqueles que tinham medo de mim ou me odiavam vão subitamente me aceitar. Minhas palavras vão estar em todos os lugares. Vão se formar clubes e sociedades. Será nojento. Será feito um filme sobre a minha vida. Me farão muito mais corajoso e talentoso do que sou. Muito mais. Será suficiente para fazer os deuses vomitarem. A raça humana exagera em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância." *Charles Bukowski

O novo, o velho e o paradoxo*

             Gostaria de conduzir a presente reflexão a partir do título. Segundo suponho, nele está a síntese, ainda não explicada, do que vou postular a seguir.             Primeiramente vamos esclarecer o novo: a Filosofia Clínica. Por que novo? Porque é uma proposta criada no fim do século XX, formulada ao longo da década de 1980, consolidada em meados da década de 1990 e estendida até hoje. Trata-se de um método cuja riqueza reside no postulado de seu caráter inacabado, continuamente se reinventando, sempre em desenvolvimento. Levando em conta que o saber da área de humanas geralmente leva tempo para se consolidar, a Filosofia Clínica é uma proposta extremamente nova.             E o que é o velho? Antes de explicá-lo, gostaria de contextualizar o porquê deste termo. Comecei a cursar a Filosofia Clínica em 2010, quando estava na segunda faculdade, cursando a licenciatura em filosofia – na primeira havia cursado o bacharelado na mesma área. Quando c

É disto que eu gosto*

Gosto de brincar com as palavras. Observar o entorno. Registrar os instantes. Fazer das letras uma pintura viva. Os símbolos dançam e me seduzem. Escravizando as palavras, Liberto minha alma. Egoísmo este meu hábito! Mas, o que fazer se tanto gosto? Nem sei, nem quero saber o porque. É bom e basta! Estou apaixonada pela literatura, Essa tecedura de imaginação Com o dar forma às palavras, Num dançar instigante e cativante. Bom e gostoso envelhecer assim, Entre a biblioteca e as teclas. Melhor ainda desenhando as letras Com lápis e papel à forma clássica! Um mundo se rebela a cada palavra. Vou tecendo a colcha... No final apenas um texto Que compartilho, pois humana Gosto também de gente Que, como eu, Gosta de brincar de ler! * Rosângela Rossi Psicoterapeuta, escritora, filósofa clínica Juiz de Fora/MG

Buscas***

"Sonhar o sonho impossível, Sofrer a angústia implacável, Pisar onde os bravos não ousam, Reparar o mal irreparável, Amar um amor casto à distância, Enfrentar o inimigo invencível, Tentar quando as forças se esvaem, Alcançar a estrela inatingível: Essa é a minha busca." *Dom Quixote **Miguel de Cervantes

Filosofando*

Outro dia estava discutindo com uma colega psicóloga sobre a teoria sartriana da existência que precede a essência. Após a discussão, dei-me conta de uma coisa: e se o existencialismo de Sartre fosse já um essencialismo velado? Pois é. Estávamos conversando sobre a ótica da Psicologia e não da Filosofia. Sobre a ótica da segunda, há vários aspectos problemáticos que podem aparecer. Mas é sobre a primeira minha teoria. O existencialismo de Sartre nos diz que o homem, a sua vida inteira, está sempre se fazendo, ou seja, determinando sua essência através de uma existência prévia. Nesse sentido, há uma primazia da existência sobre a essência. Entendo essência por aquilo que o homem traz dentro de si e que o constitui e, segundo Sartre, o homem não a traz: ela é construída com o passar do tempo. Porém, se formos analisar, o homem está sempre buscando se conhecer e quando procura um atendimento psicológico, antes de mais nada, ele quer entender como é que ele mesmo se entende e

Expressão!*

Livre movimento do corpo em ação guiado por várias emoções... Contração, expansão, vida ativa em reação ao belo e para o belo no seu mais sublime conceito. Respiração ativa e sensações à flor da pele. Bum! Grande sentimento que se encontra através de uma catarse daquele que vive por amor a arte.  Maravilhas, sofrimentos, descontentamentos, solidão, percepção a cada deslocamento, longo ou curto! Permitir-se! Solução para uma melhor compreensão de si e do todo! Vida voando com o coração pulsante e inquieto para melhor decifrar tamanho sentido de todas as coisas sensíveis e metafísicas. Explicações??? Não! Não temos essa intenção... Queremos arte para suportar a existência nua, vazia, brutal. Sem arte não conseguiremos seguir a diante. Tudo se torna meio bege, sem tom. E a canção poderá ser uma grande fonte de inspiração para muita piração consciente e equilibrada! Palavras, as guardo no coração. Só o ato de expressar poderá satisfazer tamanha

CONVERSAR*

Em um poema leio: Conversar é divino. Mas os deuses não falam: fazem, desfazem mundos enquanto os homens falam. Os deuses, sem palavras, jogam jogos terríveis. O espírito baixa e desata as línguas mas não diz palavra: diz luz. A linguagem pelo deus acesa, é uma profecia de chamas e um desplume de sílabas queimadas: cinza sem sentido. A palavra do homem é filha da morte. Falamos porque somos mortais: as palavras não são signos, são anos. Ao dizer o que dizem os nomes que dizemos dizem tempo: nos dizem, somos nomes do tempo. Conversar é humano. *Octávio Paz

Pensamentos não Acabados*

"(...) Tal como não só a idade viril, mas também a juventude e a infância têm um valor em si e não devem de modo algum ser consideradas somente como passagens e pontes, assim também os pensamentos não acabados têm o seu valor. Não se deve por isso, atormentar um poeta com uma subtil interpretação e divertir-se com a incerteza do seu horizonte, como se o caminho para vários pensamentos ainda estivesse aberto. Está-se no limiar; espera-se como no desenterramento de um tesouro: é como se devesse estar iminente um feliz achado de pensamento profundo. O poeta antecipa qualquer coisa do prazer que o pensador tem, ao encontrar uma ideia fundamental, e, com isso, torna-nos cobiçosos, de modo que nós tentamos apanhá-la; esta, porém, passa, esvoaçando, sobre a nossa cabeça e mostra as mais belas asas de borboleta... e, contudo, escapa-nos (...)" *Friedrich Nietzsche

Lua da terra*

Da Terra a Lua Da Lua a Terra (Lua) Nua Crua Sua (Terra) Eleva Gera Encerra (Lua) Luminar Circular Delirante (Terra) Espessa Planeta Circulante (Lua) Inspira Conspira Movimenta (Terra) Fecunda Enraiza Experimenta Sem Terra não Lua Sem Lua não Terra E desde que não é raro errar Da Terra se vê o Luar A Lua Estimula E compactua A Terra Aterra E desterra A Terra Erra Sem Lua A Lua É de Lua Sem Terra A Terra sem Lua Não Terra A Lua sem Terra Só Lua Terra_Lua Lua_Terra Nesse Luar Nada se encerra E nesta nova vez Lua A Terra, com sementes, espera Da intuição prata lunar Todo desvelo e entrega Circunda, fecunda Lua, Pelos nossos plantios na Terra E em seu inspirado serenar Dá-nos sábia e sensória trégua. *Renata

Nem Sequer Sou Poeira*

Não quero ser quem sou. A avara sorte Quis-me oferecer o século dezassete, O pó e a rotina de Castela, As coisas repetidas, a manhã Que, prometendo o hoje, dá a véspera, A palestra do padre ou do barbeiro, A solidão que o tempo vai deixando E uma vaga sobrinha analfabeta. Já sou entrado em anos. Uma página Casual revelou-me vozes novas, Amadis e Urganda, a perseguir-me. Vendi as terras e comprei os livros Que narram por inteiro essas empresas: O Graal, que recolheu o sangue humano Que o Filho derramou pra nos salvar, Maomé e o seu ídolo de ouro, Os ferros, as ameias, as bandeiras E as operações e truques de magia. Cavaleiros cristãos lá percorriam Os reinos que há na terra, na vingança Da ultrajada honra ou querendo impor A justiça no fio de cada espada. Queira Deus que um enviado restitua Ao nosso tempo esse exercício nobre. Os meus sonhos avistam-no. Senti-o Na minha carne triste e solitária. Seu nome ainda não sei. Mas

Tempos Modernos*

Demonstração de afeto, de cuidado, de atenção, de amizade e de boa educação ainda tem lugar e não significam ter que ir para o altar. É como se a vida estivesse de cabeça para baixo. O mundo todo invertido, chacoalhado e não bastasse toda liberação e aceitação de novos valores e comportamentos, de novas condutas justificadas em parâmetros de evolução da espécie humana e ainda respaldada pelo que cada indivíduo tem de direito como escolha para o seu caminhar, ai meu Deus, não bastasse tudo isto, ainda a deselegância explicada, rebatida, aceita e vivida. Homens e mulheres de todas as idades estão se relacionando livremente, sem nenhum compromisso ou comprometimento. Tudo bem. Nada de mais no que diz respeito a eternizar a relação, coisa antiga e démodé para muita gente, acho que até já para mim, embora ainda não tenha tanta certeza assim. Contudo, o que ainda me espanta é a falta de delicadeza, doçura, fineza, elegância, postura, limpeza e trato no linguajar. Espanta

Um pequeno recorte da loucura que é viver!*

Durante algum tempo tive a oportunidade de estagiar em um hospital psiquiátrico na cidade de Porto Alegre. Foi um feliz período da minha vida em que percebi o quanto é sutil o limiar entre a sanidade e a loucura. Diversas vezes nos atendimentos a equipe e eu nos identificávamos com o que o interno relatava e algumas vezes tínhamos a impressão de que, quem estava sendo atendido éramos nós, filósofos clínicos. O hospital psiquiátrico é bastante diferente dos demais hospitais, exceto em momentos de surto, pode-se dizer que existe um ambiente tranquilo e saudável. Na ala masculina os hormônios são mais hostis, o racionalismo impera e algumas questões são resolvidas no braço. Na ala feminina os hormônios também estão à flor da pela, a emoção impera e algumas questões também são resolvidas no braço. No tocante as historicidades coletadas dos partilhantes, vemos que poucos nasceram com alguma dificuldade psíquica ou social. A maior parte adquiriu sua condição psíquica através das

Você sabe o que eu sinto ?*

"Por mais que o conhecimento médico tenha evoluído e se apossado de  recursos tecnológicos cada vez mais precisos, ainda assim, muito se faz necessário para que possamos conhecer como funciona o corpo humano. Quantos milímetros de pele, músculos, tecidos e ossos ainda precisarão ser pesquisados para que possamos dizer com segurança que dominamos integralmente a fisiologia e patologia do organismo humano? Se o entendimento da parte corpórea já apresenta tamanha dificuldade, imagine o lado emocional? Será que algum dia teremos informação suficiente para decifrar os códigos do mais intrínseco enigma da raça humana? Muito se tem estudado, mas ainda estamos engatinhando. A maioria das pesquisas direciona-se no sentido das tendências. Podemos imaginar, perante uma criteriosa análise do comportamento passado o que poderá se desenhar no futuro, mas nunca saberemos com exatidão o que passa na cabeça do outro. Existe um infinito separando o intelecto das pessoas. Dizer que

O Iceberg Imaginário***

O iceberg nos atrai mais que o navio, mesmo acabando com a viagem. Mesmo pairando imóvel, nuvem pétrea, e o mar um mármore revolto. O iceberg nos atrai mais que o navio: queremos esse chão vivo de neve, mesmo com as velas do navio tombadas qual neve indissoluta sobre a água. Ó calmo campo flutuante, sabes que um iceberg dorme em ti, e em breve vai despertar e talvez pastar na tua neve? Esta cena um marujo daria os olhos pra ver. Esquece-se o navio. O iceberg sobe e desce; seus píncaros de vidro corrigem elípticas no céu. Este cenário empresta a quem o pisa uma retórica fácil. O pano leve é levantado por cordas finíssimas de aéreas espirais de neve. Duelo de argúcia entre as alvas agulhas e o sol. O seu peso o iceberg enfrenta no palco instável e incerto onde se assenta. É por dentro que o iceberg se faceta. Tal como joias numa tumba ele se salva para sempre, e adorna só a si, talvez também as neves que nos assombram t

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