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Esse papo seu tá qualquer coisa. Buscar no outro o sentido da própria existência é algo pra lá de Marrakesh*

"O amor imaturo diz: eu te amo porque preciso de ti. O amor maduro diz: eu preciso de ti porque te amo. – Erich Fromm"   Não sabe brincar sozinho e critica o seu “amor” por não realizá-lo. Mania boba as pessoas têm de pensar que sabem o que o parceiro vai querer, vai gostar, vai gozar. Que petulância, nem ao menos prestar atenção no que o parceiro sinaliza. Nos gemidos, nos suspiros, nas negativas. Perguntar então, tá fora de questão. Investir um tempinho a mais, olhar, ouvir, sentir. Não, basta ler nas revistas, ver nos filmes pornográficos, ouvir na roda de amigos, aplicar e pronto. E se no sexo é assim, imaginem então no contexto do que chamamos de amor. Às vezes me pego com uma vontade de ser daquelas mães antigas, que davam chineladas e beliscões na turminha que insistia em não entender a ordem do dia. Vontade de sacudir as cabecinhas, abri-las ao meio e colocar lá dentro a seguinte ordem. Vá trabalhar em favor da sua felicidade. Vá se fazer bonita

Tecendo a Manhã*

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. *João Cabral de Melo Neto

Ditirambos*

Existe uma lógica superlativa em meio às façanhas usuais. Não fora seu ser extraordinário a desalojar cotidianos, poderia acessar, com mais facilidade, a epistemologia das coisas ao seu redor. Sua encenação de caráter imperfeito escolhe a vertigem para antecipar amanhãs. Um inusitado cio criativo, de essência exploratória, realiza festejos para representar mesclas de exclusão_integração. Sua perspectiva Dionisíaca sugere achados onde o para sempre vira a página. Um jogo de cena inventa linguagens para redesenhar a vida acontecendo. Essa dança de consciência alterada ensaia rupturas ao padrão existencial. Pode ser realizada nas ruas, praças, teatros ou diante do espelho. Acontecer de noite ou de dia, acordada em sua tribo ou nos esconderijos da solidão. Seu êxtase menciona um lugar quase esquecido, recém chegando pela expressividade fora de si. Num estado diferenciado a existência se encontra com sua irrealidade, rascunha novas proposições. Ao surgir numa retórica dançarina, o f

O crepúsculo da noite*

O dia acaba. Uma grande paz surge nos pobres espíritos fatigados pelo trabalho da jornada e seus pensamentos tomam agora as cores ternas e indecisas do crepúsculo. Entretanto, do alto da montanha chega à minha sacada, através das nuvens transparentes da tarde, um grande uivo, composto por uma multidão de gritos discordantes que o espaço transforma em lúgubre harmonia, como a da maré que sobe ou a ameaça de uma tempestade. Quem são os desditosos que a tarde no acalma e que tomam, como as corujas, a chegada da noite como um sinal do sabá? Esta sinistra ululação nos chega do negro hospício empoleirado sobre a montanha; e à tarde, fumando e contemplando o repouso do imenso vale, arrepiado de casas onde cada janela diz: “A paz agora está aqui, está aqui a alegria da família”, eu posso, quando o vento sopra do alto, embalar meus pensamentos assombrados por essa imitação das harmonias do inferno. O crepúsculo excita os loucos. Lembro-me que tinha dois amigos que o crepúsculo

Pote Rachado*

Querido leitor, paz!  Havia na Índia um carregador de água que transportava esse líquido nas duas pontas de uma vara que levava atravessada no pescoço. Levava um pote de barro de cada lado, mas não eram potes normais, pois um deles tinha uma rachadura bem no meio e o outro era perfeito. O pote que ainda estava intacto, é óbvio, chegava sempre cheio ao seu destino ao final do longo caminho que ia do poço até à casa do patrão. O pote rachado chegava apenas com metade da água. Assim, durante dois anos ininterruptos, o carregador entregou, diariamente, um pote e meio de água em casa do seu senhor. Conta a lenda que o pote perfeito, é claro, estava orgulhoso do seu trabalho. O pote rachado, porém, estava envergonhado da sua imperfeição. Sentia-se miserável por apenas ser capaz de realizar metade da tarefa a que estava destinado. Depois de perceber que, ao longo de dois anos, não tinha passado de uma amarga desilusão, um dia o pote disse ao homem, à beira do poço: -

Lua Quadrada*

Como assim? É uma Lua assim Astuta e resoluta E traz com ela um Sim. Neste quadrado há poder Pois ele reúne condições essenciais O momento em si é para tecer E resolver, por fim, questões vitais. Aproveitemos para demarcar O que dali em diante receberá muita ação Mas de um tipo que já obteve âncora E, por isso, garantia de sustentação. Sejamos resolutos e éticos Diante deste poder propício e perfeito Já que limites precisam ser dados Para que assim reconstituam nossos direitos. *Renata Bastos Filósofa, mestre em filosofia, astróloga, filósofa clínica São Paulo/SP

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