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Correria sem sentido*

A palavra que mais se escuta neste final de ano é “correria”. Para onde e porque as pessoas estão correndo? Se não souberem onde querem ir, não chegarão a lugar algum. Qual o sentido desta correria? Qual o sentido da vida? Depende. Vamos aprofundar um pouco mais a questão? Depende do significado da palavra sentido. Se for para designar a direção e orientação de um movimento, como nas expressões “sentido único”, “sentido obrigatório”, minha resposta é que o sentido da vida deve ser para frente. Não precisa de mapa, nem GPS. Siga vivendo, ultrapasse as barreiras, contorne as curvas e então comece a subir. Se for para designar as trocas de informações com o meio ambiente através dos órgãos dos sentidos, diria que o sentido da vida se conjuga no verbo sentir, e não no verbo ter. Toque, cheire, prove, deguste, escute, veja e então comece a subir. No âmbito dos sentimentos e emoções, como nas expressões “esta pessoa tem um sentido muito apurado” ou “tenho sentido sua fal

A luta amorosa com as palavras*

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente.  Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade. Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu. Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à m

Ainda sobre representações*

Hoje tentei reconstruir-me pela representação de mim mesmo. Desmontei-me e remontei-me peça por peça como num jogo de quebra cabeças. Preparei meu próprio palco com todo cuidado, atento aos mínimos detalhes. Escolhi meus trajes, pintei-me dos pés à cabeça. Já não me reconhecia mais. Preparei a minha encenação com uma frieza visceral. Catei máscaras de todos os tipos. E olhava-me diante do espelho. Espantado? Não, sem sentimentos. Frio como uma lápide mortuária. Jurei para mim mesmo que nenhuma cena importante ficaria de fora. Tornei-me diretor e roteirista de mim mesmo. Detalhista ao extremo. Dirigindo-me como ator e personagem, usando os mais diversos disfarces para descobrir-me. Ocupei até o lugar do público para aplaudir ou zombar de mim mesmo. Quanto mais pensava que me conhecia, mais estranho ficava para mim mesmo. Um estrangeiro habitava dentro de mim. Nada mais sabia sobre mim. Pensei aproximar-me de alguma sabedoria maior. Esqueci de tudo sobre mim. Não sei mai

Entendendo Descartes*

A essência subjaz ao mundo material. Preciso cuidar mais da casa, ter prazer nela, emoldurá-la, aromatizá-la adorná-la. Meu templo, estádio/estágio. Ah! Saudade, felicidade. Alegrias no ser em si. A casa é o corpo. *Vânia Dantas Filósofa, Filósofa Clínica Brasília/DF

Ausência*

Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. *Carlos Drummond de Andrade

Melancolia!*

Há uma melancolia salutar no meu ser. Não a destrutiva que deprime e oprime, mas aquela reflexiva, da sensibilidade de quem sente compaixão pelo outro, pela dor do outro e identifica a fragilidade nas pequenas expressões diárias, nos gestos mais comuns e minuciosos. Essa melancolia arranca pequenas lágrimas dos meus olhos, seja na mais profunda sensação de vazio ou de completude! Sinto a cada dia que não preciso mais mascarar-me para melhor ser percebida e compreendida, pois, por mais que eu sinta, por causa do meu ego, que queira agradar multidões, jamais agradarei. Isso me faz tão bem!!! Na verdade não tenho mais a necessidade de agradar a ninguém, nem a mim mesmo. A obrigação do sorriso diário saiu da minha representação de mundo... Vivo melhor e cada vez mais transparente nesse mundo de teres e poucos saberes. Daqui para frente pretendo SER a cada palavra proferida, a cada gesto expressado, a cada movimento dançado! É justamente essa melancolia que trás para mim os

Ser e Aparecer*

História de vida, o que é isto? Quanto você olha para o passado e o faz reviver faz com os olhos do presente, mesmo que tente fazê-lo a partir do ponto de vista que tinha no passado ainda assim ele é presente. Esse olhar sempre atual da própria história de vida precisa de certo treinamento, sendo que o primeiro deles é entender que a história de vida não é a pessoa, mas um registro daquilo que viveu, por onde esteve.  Se ao longo da vida você por um acaso cometeu “erros” isso não quer dizer que você seja uma pessoa errada, mas uma pessoa que cometeu erros. O contrário também é válido, fazer coisas boas não torna ninguém uma pessoa boa, mas uma pessoa que faz coisas boas. As atitudes de cada pessoa não necessariamente refletem o que ela é, mas sim o que ela faz com aquilo que ela é. Certa vez conheci um jovem senhor de 70 anos, uma pessoa que cuidava das crianças do bairro, encaminhava para o escotismo, circo, cinema, leitura, enfim, cultura. Por muito tempo me pareceu uma

Folhas das folhas de relva*

" (...) Tenho dito que a alma não é mais do que o corpo e tenho dito que o corpo não é mais do que a alma, e que nada, nem Deus, para ninguém é mais do que a própria pessoa, e quem anda duzentas jardas sem vontade anda seguindo o próprio funeral vestindo a própria mortalha, e que eu como vocês sem um tostão no bolso posso comprar o que o mundo tem de melhor, e dar uma vista d'olhos ou mostrar uma vagem no seu galho confunde o aprendizado de todos os tempos, e não existe emprego ou desemprego em que um homem não possa ser herói, e coisa nenhuma há de ser tão mole que não sirva de cubo às rodas do universo, e a qualquer homem ou mulher eu digo: - Deixem que se levantem as almas de vocês tranquilas e bem postas ante um milhão de sóis! (...)" *Walt Whitman

Ambientes Criativos*

Querido leitor, que você esteja em paz. Nossa reflexão de hoje aqui no Café com Mistura é sobre ambientes criativos. Esta experiência ocorreu em nossa viagem de estudo que fiz à Grécia em 2009 com um grupo de filósofos clínicos de todo o Brasil.  Depois de um dia nos aprofundando no filósofo grego Sócrates e nos prováveis motivos de sua morte, subimos na cobertura do Hotel Titânia, no centro de Atenas. Sentamos à mesa no restaurante com um bom tinto nas taças. No céu, um luar “sob encomenda” e uma vista deslumbrante para a Acrópole toda iluminada. Um visual inesquecível. Envolto aquele clima, o filosofar acontecia em torno do que será que atraía tanta gente para Atenas há 500 a.C. Aqueles questionamentos nos faziam refletir e também filosofar por horas naquele ambiente de Jardins de Oliveiras onde tudo refletia história. Trazendo essa reflexão para hoje, poderíamos fazer a seguinte pergunta: Como explicar a existência de tantos arquitetos, filósofos, escultores e esc

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