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Entre partir e ficar*

Entre partir e ficar hesita o dia, enamorado de sua transparência. A tarde circular é uma baía: em seu quieto vai e vem se move o mundo. Tudo é visível e tudo é ilusório, tudo está perto e tudo é intocável. Os papéis, o livro, o vaso, o lápis repousam à sombra de seus nomes. Pulsar do tempo que em minha têmpora repete a mesma e insistente sílaba de sangue. A luz faz do muro indiferente Um espectral teatro de reflexos. No centro de um olho me descubro; Não me vê, não me vejo em seu olhar. Dissipa-se o instante. Sem mover-me, eu permaneço e parto: sou uma pausa *Octavio Paz

Palavras e poesia*

“sabe...a poesia nasce sem querer nada de mim... as palavras vem vindo... caminhando ao meu lado... surgindo e eu vou recebendo cada uma delas...acariciando-as.. e colocando nas frases.. nas sentenças.. e elas sendo moldadas.. como um poema... é assim a poesia para mim... olha o que acabo de escrever... um poema...sem querer..” *Eduardo Silveira Poeta, Estudante de Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos filosóficos, poéticos, delirantes*

"Toda a minha vida não passa de conflitos. E se não há conflitos por aí, ora, invento um, num piscar de olhos. Ontem eu disse que não estava mais amando? Estou mais apaixonado hoje do que nunca. Tudo voltou… […] Ela é tão jovem, tão bonita e tão triste que eu seria capaz de chorar. Esse é meu sentimento. […] Em seu mundo, todos penduram um Picasso em um local de destaque. Então está muito bem, por ela eu também penduraria um Picasso em um local de destaque. Como meu conhecimento da decadência do modernismo e a loucura cega do progressivismo como um estado de ânimo, uma rebelião estúpida e óbvia contra ressentimentos imaginários, medida contra meu amor por uma garota de 50 quilos? O que importa se eu alcancei grandes verdade sociais & espirituais na solidão do meu quarto e em meu livro enorme e em anos de meditação cuidadosa e compreensão psicológica - o que é minha arte? Meu conhecimento? Minha poesia? Minha ciência? - comparado a seus pezinhos? Sim, sim, sim,

A vida secreta das palavras*

Sábado foi dia de reunir uma porção de gente que adora filosofia pra assistir um bom filme e conversar a respeito. Os filmes apresentados pelo professor Hélio Strassburger são escolhidos a dedo para tocar o nosso íntimo. Sempre me fazem refletir além da tela a respeito da minha própria vida e daqueles que fazem parte dela. A vida secreta das palavras conta a história de uma bela jovem que passou por um grande trauma durante a segunda guerra mundial, as emoções sentidas naquele tempo foram tão intensas que ela preferiria não ter sobrevivido. Ela rezou pedindo pelo fim da sua vida, porém isso não aconteceu e dali em diante ela levou uma vida monótona, mecânica e apática, até o dia em que foi obrigada a quebrar a sua rotina, então Hanna propôs-se a fazer quase tudo diferente durante um mês em sua vida e assim foi.  Nesse meio tempo em que ela resolveu aceitar o novo quase tudo em sua vida mudou, adquirindo novos hábitos, experimentando novas sensações, gostos e prazeres. Aind

Fragmentos filosóficos, poéticos, delirantes*

"(...) Há em nossos dias muita gente, às vezes agentes de cambio, frequentemente notários, que diz e repete: A poesia está morrendo. É pouco mais ou menos como se dissessem: não há mais rosas, a primavera entregou a alma a Deus, o sol perdeu o hábito de se erguer, percorrei todos os prados e não encontrareis uma borboleta, não há mais luar, o rouxinol não canta mais, o leão não mais ruge, a águia não mais planeia, os Alpes e Pirineus se foram, não há mais garrulas moçoilas e belos rapazes, ninguém mais cuida dos túmulos, a mãe não mais ama o filho, o céu se extinguiu, o coração humano morreu. Se fosse permitido misturar o contingente ao eterno, seria antes o contrário que seria o verdadeiro. Jamais as faculdades da alma humana, perquirida e enriquecida pelo escavamento misterioso das revoluções, foram mais profundas e mais altas. E esperemos um pouco de tempo, deixemos que se realize esta iminência de salvação social, o ensino gratuito e obrigatório, que será preciso para is

Correria sem sentido*

A palavra que mais se escuta neste final de ano é “correria”. Para onde e porque as pessoas estão correndo? Se não souberem onde querem ir, não chegarão a lugar algum. Qual o sentido desta correria? Qual o sentido da vida? Depende. Vamos aprofundar um pouco mais a questão? Depende do significado da palavra sentido. Se for para designar a direção e orientação de um movimento, como nas expressões “sentido único”, “sentido obrigatório”, minha resposta é que o sentido da vida deve ser para frente. Não precisa de mapa, nem GPS. Siga vivendo, ultrapasse as barreiras, contorne as curvas e então comece a subir. Se for para designar as trocas de informações com o meio ambiente através dos órgãos dos sentidos, diria que o sentido da vida se conjuga no verbo sentir, e não no verbo ter. Toque, cheire, prove, deguste, escute, veja e então comece a subir. No âmbito dos sentimentos e emoções, como nas expressões “esta pessoa tem um sentido muito apurado” ou “tenho sentido sua fal

A luta amorosa com as palavras*

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente.  Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas… Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade. Nasci do rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu. Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à m

Ainda sobre representações*

Hoje tentei reconstruir-me pela representação de mim mesmo. Desmontei-me e remontei-me peça por peça como num jogo de quebra cabeças. Preparei meu próprio palco com todo cuidado, atento aos mínimos detalhes. Escolhi meus trajes, pintei-me dos pés à cabeça. Já não me reconhecia mais. Preparei a minha encenação com uma frieza visceral. Catei máscaras de todos os tipos. E olhava-me diante do espelho. Espantado? Não, sem sentimentos. Frio como uma lápide mortuária. Jurei para mim mesmo que nenhuma cena importante ficaria de fora. Tornei-me diretor e roteirista de mim mesmo. Detalhista ao extremo. Dirigindo-me como ator e personagem, usando os mais diversos disfarces para descobrir-me. Ocupei até o lugar do público para aplaudir ou zombar de mim mesmo. Quanto mais pensava que me conhecia, mais estranho ficava para mim mesmo. Um estrangeiro habitava dentro de mim. Nada mais sabia sobre mim. Pensei aproximar-me de alguma sabedoria maior. Esqueci de tudo sobre mim. Não sei mai

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