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Eu*

Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem n orte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada...a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou! *Florbela Espanca

Fragmentos de filosofia e poesia*

"Nuvens escondem o sol como escondemos as feridas sem nuvens não tem chuva criadeira sem consciência da causa do sofrimento não temos vida bem vivida nuvens promovem as sombras sombra é tudo de mim mesmo que me faz desconfortável tudo que eu não desejo ser e sou aceitar as nuvens encarar as nossas sombras sem fugir das dores confrontando-as veremos o sol da consciência e seremos mais livres no nosso existir!" *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Adão e Eva contemporâneos*

A história é bíblica, acredite se quiser. Eva não veio ao mundo por acaso. Existia um propósito: partilhar a vida. Já pensou? Adão estava lá sozinho. De repente surge alguém para conversar, brincar, trocar, ajudar... Na verdade, acho que pra ajudar não era o caso; eles tinham tudo que precisavam. O certo é que a vida no paraíso ficou bem melhor depois que Eva apareceu. Como foi a passagem do status de amigos para casal não sei dizer. Só existiam os dois e convivendo juntos todos os dias, naturalmente, algo haveria de acontecer. Não havia nada, nem ninguém para atrapalhar. Nem mesmo vergonha eles sentiam. Posso imaginar vários modos de aproximação, e todos, sem exceção, nada angelicais. Fizeram sexo, gostaram, repetiram, desfrutaram. Não estavam mais sozinhos. Perceberam que um tinha ao outro para abraçar quando o mundo parecia grande demais.  Vamos dar um nome para este tipo de relação? Amor. Viviam no paraíso. Amavam-se. Nada lhes faltava. Eram extremamente felizes. S

Carta*

Meu caro poeta, Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar.  O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio.  Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou

Primeiros Outonos*

Aprendizados nascem de experiências de antigos passados e novas esperanças sempre assim uma lágrima que brota da dor e muitas saudades sem nome de despedidas que anunciam o regresso daquilo que em nós sempre esteve guardado nos jardins de nossa alma saudade é flor que desabrochou e se perdeu em outras tantas no mistério que somos o singular dos múltiplos plurais que habitam meu ser perdem-se em mundos de outras dores e em sorrisos de novos tempos viver talvez seja isso fazer de cada outono a despedida de processos que cumpriram seu papel e esperam as possibilidades de novas estações que anunciam as alegrias de sementes que serão frutos de um novo tempo que vai chegar *Pe. Flávio Sobreiro Poeta, Escritor, estudante de Filosofia Clínica Cambuí/MG

Vivendo*

A chama em folha e grama tão verde parece cada verão o ultimo verão. O vento soprando, as folhas estremecendo ao sol, cada dia o último dia. Uma salamandra vermelha tão fria e tão fácil de pegar, distraidamente move suas patinhas delicadas e sua cauda comprida. Deixei a mão aberta para ela partir. Cada minuto o último minuto. *Denise Levertov

Papéis*

Querido leitor, que você esteja bem.  Recentemente fui a um evento, desses de premiação dos melhores e maiores do ano, e a mestre de cerimônia, no intuito de ser simpática e acolhedora, perguntou-me: - Como devo anuncia-lo? Ao que respondi: - Como assim? E veio a réplica: - Quem é você, o que faz? Como se tratava de uma amiga e tínhamos algum tempo, comecei a refletir com ela sobre um tema muito interessante e que tem me atraído nos últimos tempos. Falo de papéis, papéis existenciais. Com carinho, respeito e abertura, disse-lhe que já não sabia mais quem era! O que faço? Hum, faço tantas coisas! Veja bem: se vou ao campo de futebol sou um torcedor, como vim de avião até aqui sou passageiro, meus filhos me chamam de pai, para o Theo, meu neto, sou avô. Parece pouco, mas ainda nem comecei. Para a Albany sou marido, para os empregados, sou chefe, patrão; nas reuniões do Conselho, sou conselheiro; na loja comprando, cliente. Na associação industrial, sou empresário; pa

Dia*

De que céu caído, oh insólito, imóvel solitário na onda do tempo? És a duração, o tempo que amadurece num instante enorme, diáfano: flecha no ar, branco embelezado e espaço já sem memória de flecha. Dia feito de tempo e de vazio: desabitas-me, apagas meu nome e o que sou, enchendo-me de ti: luz, nada. E flutuo, já sem mim, pura existência. *Octavio Paz

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