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Penetração do Poema das Sete Faces*

(A Carlos Drummond de Andrade) Ele entrou em mim sem cerimônias Meu amigo seu poema em mim se estabeleceu Na primeira fala eu já falava como se fosse meu O poema só existe quando pode ser do outro Quando cabe na vida do outro Sem serventia não há poesia não há poeta não há nada Há apenas frases e desabafos pessoais Me ouça, Carlos, choro toda vez que minha boca diz A letra que eu sei que você escreveu com lágrimas Te amo porque nunca nos vimos E me impressiono com o estupendo conhecimento Que temos um do outro Carlos, me escuta Você que dizem ter morrido Me ressuscitou ontem à tarde A mim a quem chamam viva Meu coração volta a ser uma remington disposta Aprendi outra vez com você A ouvir o barulho das montanhas A perceber o silêncio dos carros Ontem decorei um poema seu Em cinco minutos Agora dorme, Carlos. *Elisa Lucinda 

Fragmentos de amor, sexo e poesia*

Como você se conecta nos ambientes e nas pessoas para escrever seus contos?  É mais ou menos como sintonizar uma estação de rádio. Você tem uma possibilidade enorme de emissoras e programas, mas você sabe bem o que quer escutar. Vai girando o dial. Escuta uma música que lhe incomoda os ouvidos, passa por um comentarista que não fala nada que lhe interesse, pula a estação que só apresenta desgraças, até que finalmente encontra aquele programa que estava procurando ou algum outro que lhe prendeu a atenção. A partir dali, você pode escolher entre voltar a fazer as outras coisas que estava fazendo (dirigir o carro, cozinhar, escrever, fazer amor) ou ficar prestando atenção à entrevista que está no ar, deixar-se envolver pela música que está tocando, imaginar-se dentro da narrativa que está sendo apresentada...Em outras palavras, você pode escolher sintonizar “o” programa de rádio ou se sintonizar “com” o que está acontecendo no programa de rádio.. Quando entro em um café com

Sobre as palavras*

Andei perdendo palavras por aí. Talvez por falar em excesso elas me faltem agora. As que saíram aos gritos duvido que voltem. Escaparam e deixaram vítimas durante a fuga. Uma pena. Mas em esforço de guerra dizem que perdas são justificáveis. Nunca acreditei muito nisso. Andei perdendo palavras por aí. Talvez por ficar em silêncio elas me sobrem agora. E por serem excesso ocuparam o espaço antes reservado ao agrupamento ordenado delas. O crescimento desordenado de palavras é mais perigoso. Jamais pensei na possibilidade de um motim de palavras. Andei perdendo palavras por aí. Das soltas e guardadas. Algumas entraram por um ouvido e saíram pelo outro. Outras entupiram narinas e muitas desceram pelos olhos. Ainda ontem me olhei no espelho e vi que engordei. Ando comendo palavras saturadas. Um perigo. Preciso perder peso, perder palavras para reencontrá-las. *Sergio Fonseca

A clínica do filósofo*

"Qual é esse projeto secreto, inacessivel e inexistente cuja pressão constante se exerce, de fato, sobre os homens, e particularmente sobre os homens problemáticos, os criadores, os intelectuais, que estão, a cada instante, como que disponíveis e perigosamente novos ?"                      Maurice Blanchot Venho pensando sobre o lugar onde a clínica acontece. Não o endereço físico do consultório, seja ele na beira da praia, um café, entre quatro paredes. Essas investidas tentam dar visibilidade ao território onde a imaginação se realiza. Talvez uma transcendência ao esboço dos propósitos, seus contornos, as derivações, os significados.   Essa inquietude sobre as dialéticas do instante terapêutico, busca pensar sobre a natureza dessas estéticas distanciadas da razão comum. A própria eficácia das sessões é refém desse vazio à espera de preenchimento. Nesse vislumbre de foco caleidoscópio, o filósofo clínico exercita sua arte cuidadora. Um perambular aprendiz desloca-se

Incompletudes*

A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

És tu o teu próprio negreiro*

“Comecemos pelo Zé Ninguém que habita em mim: Durante vinte e cinco anos tomei a defesa, em palavras e por escrito, do direito do homem comum à felicidade neste mundo; acusei-te pois da incapacidade de agarrar o que te pertence, de preservar o que conquistaste nas sangrentas barricadas de Paris e Viena, na luta pela Independência americana ou na revolução russa. Paris foi dar a Pétain e Laval, Viena a Hitler, a tua Rússia a Stalin, e a tua América bem poderia conduzir a um regime KKK – Ku-Klux-Klan. Sabes melhor lutar pela tua liberdade que preservá-la para ti e para os outros. Isto eu sempre soube. O que não entendia, porém, era porque de cada vez que tentavas penosamente arrastar-te para fora de um lameiro acabavas por cair noutra ainda pior. Depois, pouco a pouco, às apalpadelas e olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU O TEU PRÓPRIO NEGREIRO. A verdade diz que mais ninguém senão tu é culpado da tua escravatura. Mais ninguém, sou eu que te digo!” W

Canto da estrada aberta*

(...) Ouça-me! Eu vou ser franco com você: não ofereço velhos prêmios fáceis, o que ofereço são novos prêmios difíceis. Eis como hão de ser os dias que lhe podem suceder: você não acumulará riquezas, assim chamadas, distribuirá com mão pródiga tudo o que venha a adquirir ou ganhar, nem bem chegando à cidade à qual era destinado dificilmente se há de estabelecer e ter alguma satisfação sem que ouça um apelo irresistível a de novo partir, terá de acostumar-se às zombarias e aos risinhos irônicos dos que forem ficando para trás, aos acenos de amor que receber você dará em resposta somente apaixonados beijos de despedida, e não permitirá o abraço das pessoas que vierem com as mãos suplicantes em sua direção. *Walt Whitman

Anotações e reflexões*

Há momentos em que entro no Facebook e fico pasmo!  Tenho a impressão de que Globo e Mídia são nomes de sujeitos que se propuseram a alienar um cara chamado Sociedade. Tenho a impressão também de que há um sujeito, muito influente, chamado Indústria Farmacêutica, que está convicto de que deve espalhar falsas notícias para que todo o mundo fique doente para, assim, continuar vendendo seus remédios.  Fico imaginando um cara chamado Governo que sempre conversa com outro indivíduo denominado Educação, e continuamente fica impondo que ele fique com a qualidade baixa, sem falar de outros possíveis diálogos com aqueles chamados Saúde e Segurança.  Há também dois sujeitos que têm alguma relação com o Governo; costumam chamá-los de Direita e Esquerda. Parece que vivem em pé de guerra, sobretudo quando o dinheiro do Povo (esse também é famoso) não é bem distribuído entre ambos. Coitado do Povo. Outro cara que parece influente é chamado Maioria, seja ele quem for, está sempre dis

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