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Poema em linha reta*

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mund

Então queres ser um escritor?*

Se não sair de ti explodindo apesar de tudo, não o faças. a menos que saia sem perguntar do teu coração e da tua cabeça e da tua boca e das tuas entranhas, não o faças. se tens que sentar por horas olhando a tela do teu computador ou curvado sobre a tua máquina de escrever procurando palavras, não o faças. se o fazes por dinheiro ou fama, não o faças. se o fazes porque queres mulheres na tua cama, não o faças. se tens que te sentar e reescrever uma e outra vez, não o faças. se dá trabalho só pensar em fazê-lo, não o faças. se tentas escrever como algum outro escreveu, não o faças. se tens que esperar para que saia de ti a gritar, então espera pacientemente. se nunca sair de ti a gritar, faz outra coisa. se tens que o ler primeiro à tua mulher ou namorada ou namorado ou pais ou a quem quer que seja, não estás pronto. não sejas como muitos escritores, não sejas como milhares de pessoas que se consideram

Reflexões do ser e não ser*

Caminhar... Respirar a relva Nas entrelinhas da vida Do ser e não ser. Das certezas, Incertezas. Das paisagens, Os caminhos no ar... Sob as folhas, As casas pequenas A morada do ser, ...não ser. *Fernanda Sena Filosofa Clínica Barbacena/MG

Nostalgia do Presente*

Naquele preciso momento o homem disse: «O que eu daria pela felicidade de estar ao teu lado na Islândia sob o grande dia imóvel e de repartir o agora como se reparte a música ou o sabor de um fruto.» Naquele preciso momento o homem estava junto dela na Islândia. *Jorge Luis Borges

A palavra dialética*

Existe um dizer inconformado na rigidez dos raciocínios estruturados. Antítese da comunicação bem definida, esse teor descompassado e de maior alcance se oferece, ao ser contradição, em rituais discursivos precursores. Ao se tentar aprisioná-lo, ele se revolta à transgredir os limites da imprópria coerência. Os rumores da não-palavra conseguem dizer muito, parecem apontar as formas indizíveis, os refúgios da estética, a inventividade da desrazão. Uma estranha realidade escorre pelo desvão das sentenças. Relatos de discórdia em busca de autonomia, compartilham rumores ao dizer que poetiza a vida. Sua desconformidade inaugura espaços, oferece ambientes para novas expressividades. Ao quebrar protocolos emancipa aquilo por vir. O teor da palavra dialética contém, em si mesmo, afirmação e negação. Um cheiro de terra nova se oferece ao seu redor. Seu não-ser anuncia horizontes diferenciados. Na ruptura com aquilo que já foi novidade, se empenha em querer mais. Não entra em desacordo

Anjos*

Podem não acreditar Mas, que anjos existem, existem Chegam na hora certa Falam o essencial Desperta-nos da inconsciência Aquietam nossa tagarelice Acolhe-nos com delicadeza Ele está bem perto Para os que estão abertos A escutar com coração São eles pessoas vivas Que estão ao nosso lado Com palavras e gestos Na hora certa *Rosangela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filosofa Clínica Juiz de Fora/MG

Seiscentos e Sessenta e Seis*

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são 6 horas: há tempo… Quando se vê, já é 6ª-feira… Quando se vê, passaram 60 anos… Agora, é tarde demais para ser reprovado… E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade, eu nem olhava o relógio seguia sempre, sempre em frente… E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. *Mario Quintana 

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