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Somos o que Lemos ?*

Querido leitor, que você esteja bem. Dias desses, quando passava por uma das salas onde trabalho, flagrei um colega lendo um livro escrito por uma conhecida socialite. A obra falava sobre regras, normas, formas de agir quando em uma reunião social. Como se não bastasse, ainda dava dicas de roupas, posturas e até algumas frases prontas para diálogos previsíveis. De repente, ele me deu abertura e me vi falando ao colega de trabalho. Carinhosamente perguntei: “Você não tem um autor ou autora melhor para ler?” Como resposta, recebi outra pergunta dele. “Tem alguma recomendação?”, perguntou-me o colega, fazendo um movimento corporal como se realmente tivesse interessado na resposta. Diante do exposto e do contraposto, sugeri que ele pudesse iniciar pelas biografias de grandes pensadores, pintores, artistas, pessoas que fizeram a diferença na história. “Por exemplo?”, perguntou novamente ele. De chofre, sugeri Fernando Pessoa, Cecilia Meireles. Ao que foi emendado a um comentári

Soneto da Falta de Sensatez*

Palavras bonitas queria dizer Mas, hoje, a inspiração me falta. Sem saber o que escrever Fico sentado, olhando a pauta. Querendo ser um pouco sensato Sem sentimentos abundantes Vejo coisas, na imaginação, distantes Fitando a sola de um sapato. Palavras giram ao meu redor. Sem nada terem me transmitido Vão junto ao vento, embora. E deixando um vazio agora Vejo um infinito maior De palavras sem sentido...   *Vinicius Fontes Filósofo, Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ

Um cego*

Não sei qual é a face que me fita Quando observo a face de algum espelho; No seu reflexo espreita-me esse velho Com ira muda, fatigada, aflita. Lento na sombra, com as mãos exploro Meus invisíveis traços. O mais belo Fulgor me atinge. Vi o teu cabelo Que é já de cinza ou é ainda de ouro. Repito que perdi unicamente A superfície sempre vã das coisas. O consolo é de Milton e é valente, Mas eu penso nas letras e nas rosas, Penso que se pudesse ver a cara Saberia quem sou na tarde rara. *Jorge Luis Borges  

Fragmentos poéticos, filosóficos*

Para mim. A história das minhas loucuras. Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna. Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos. Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: acreditava em todas as magias. Inventava a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e , com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-l

Dos sentidos da leitura*

Uma obra pode se traduzir em múltiplas direções. Ao reescrever-se aprecia significar, criticar, derivar, tendo como ponto de partida uma autoria. Os sentidos da leitura se deixam encontrar nos recantos da literalidade, onde a história, seus personagens e roteiros convivem com uma mensagem em movimento.    A plasticidade de seu discurso se atualiza na re_visão de cada página. Num enredo deslocável, multiplica-se de acordo com a estrutura do leitor. Ao inexistir um só olhar, é possível desler o teor narrativo do autor inicial. Para superar a primeira vista e reiniciar a obra, muitas vezes, é preciso subverter suas origens, descobrir um não querer ser dito, nas entrelinhas do discurso primeiro. A chance de se reconhecer por inteiro na obra é muito rara, quase sempre restarão acréscimos, discordâncias, críticas à narrativa precursora diante do fenômeno leitor.  Um texto, embora possa oferecer uma polissemia hermenêutica, possui uma coerência interna com a subjetividade do escr

Sim e não*

O ponto de encontro Da alma do homem Com a alma do mundo É a Psique Não há encontro sem dor Não há encontro sem morte No mais profundo de nós Os deuses esperam Só nos jogando Só nos entregando Só nos analisando A vida em sua dialética Diz Sim! E mesmo dizendo Não Se realinha! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Projeto de Prefácio*

Sábias agudezas… refinamentos… - não! Nada disso encontrarás aqui. Um poema não é para te distraíres como com essas imagens mutantes de caleidoscópios. Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe Um poema não é também quando paras no fim, porque um verdadeiro poema continua sempre… Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras. *Mario Quintana

Contato com o Bicho de Sete Cabeças*

Artista, louco, rebelde, incompreendido? O dono da biografia que inspirou o filme "Bicho de sete Cabeças" foi Membro da Comissão de Saúde Mental do Ministério da Saúde e Representante dos Usuários no Conselho Nacional de Reforma Psiquiátrica. Prestamos a ele nossa homenagem, pela passagem do 18 de maio, dia da luta antimanicomial, por ter sido importante ativista na divulgação dos horrores dos tratamentos físicos e maus tratos que denigrem a alma humana e a condição de ser vivente. Acompanhamos parte da trajetória e trocamos algumas informações com esse artista das letras e dos palcos. Austregésilo Carrano passou confinado por três anos e meio em instituições psiquiátricas do Paraná e Rio de Janeiro, dos 17 até 21 anos. Sobreviveu a 21 aplicações de Eletroconvulsoterapia – choques numa voltagem de 180 a 460 volts aplicados nas temporas. Seu livro “Canto dos Malditos” é um relato fiel sobre as torturas a que foram submetidos os pacientes psiquiátricos dentro dos m

Congresso Internacional do Medo*

Provisoriamente não cantaremos o amor, que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos. Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços, não cantaremos o ódio porque esse não existe, existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro, o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos, o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas, cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas, cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte, depois morreremos de medo e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. *Carlos Drummond de Andrade 

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