Pular para o conteúdo principal

Postagens

A palavra mágica*

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. *Carlos Drummond de Andrade

Sobre a origem da poesia*

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa — que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tud

Mito de Narciso*

Sempre me fascinaram estes mitos de homens que desobedeciam aos deuses Ah, eram muito corajosos!!!.... Muitas vezes , para nós, já nos é difícil desobedecer professores, chefes, papai ou mamãe.... Um deles, o mito de Narciso. Narciso, "aquele que não deveria se ver". Condenado pelos deuses a não poder se olhar a si mesmo. Deveria evitar espelhos e reflexos na água. O que poderia revelar o reflexo de si mesmo a Narciso? O que revela o reflexo meu sobre mim mesmo? Verdades.... Mentiras... Ilusões.... Autenticidades.... Um belo dia a sede venceu Narciso. Para matar a sede viu a si mesmo refletido no espelho das águas. Enamorou-se de si mesmo. Encantou-se com a sua ´própria imagem... Amor nenhum, nem ninfa nenhuma mais o sensibilizariam. Diz ainda o mito que a ninfa "Eco" enamorou-se de Narciso. E por ele foi desprezada. Como consequência emudeceu e foi destinada a viver nos penhascos. Apenas repetindo o eco das palavras pronunciadas pelos vales. Narcis

Somos o que Lemos ?*

Querido leitor, que você esteja bem. Dias desses, quando passava por uma das salas onde trabalho, flagrei um colega lendo um livro escrito por uma conhecida socialite. A obra falava sobre regras, normas, formas de agir quando em uma reunião social. Como se não bastasse, ainda dava dicas de roupas, posturas e até algumas frases prontas para diálogos previsíveis. De repente, ele me deu abertura e me vi falando ao colega de trabalho. Carinhosamente perguntei: “Você não tem um autor ou autora melhor para ler?” Como resposta, recebi outra pergunta dele. “Tem alguma recomendação?”, perguntou-me o colega, fazendo um movimento corporal como se realmente tivesse interessado na resposta. Diante do exposto e do contraposto, sugeri que ele pudesse iniciar pelas biografias de grandes pensadores, pintores, artistas, pessoas que fizeram a diferença na história. “Por exemplo?”, perguntou novamente ele. De chofre, sugeri Fernando Pessoa, Cecilia Meireles. Ao que foi emendado a um comentári

Soneto da Falta de Sensatez*

Palavras bonitas queria dizer Mas, hoje, a inspiração me falta. Sem saber o que escrever Fico sentado, olhando a pauta. Querendo ser um pouco sensato Sem sentimentos abundantes Vejo coisas, na imaginação, distantes Fitando a sola de um sapato. Palavras giram ao meu redor. Sem nada terem me transmitido Vão junto ao vento, embora. E deixando um vazio agora Vejo um infinito maior De palavras sem sentido...   *Vinicius Fontes Filósofo, Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ

Um cego*

Não sei qual é a face que me fita Quando observo a face de algum espelho; No seu reflexo espreita-me esse velho Com ira muda, fatigada, aflita. Lento na sombra, com as mãos exploro Meus invisíveis traços. O mais belo Fulgor me atinge. Vi o teu cabelo Que é já de cinza ou é ainda de ouro. Repito que perdi unicamente A superfície sempre vã das coisas. O consolo é de Milton e é valente, Mas eu penso nas letras e nas rosas, Penso que se pudesse ver a cara Saberia quem sou na tarde rara. *Jorge Luis Borges  

Visitas