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Ainda para as moças*

Não há nada de muito novo atualmente. Só mais tarde, bem mais tarde, as meninas darão conta das escolhas que fizeram, ainda que não definitivamente, quanto ao modo de se comportarem, quanto às amigas que elegeram para frequentar, quanto às prioridades, aos rapazes e a relação com os pais. Não há nada de muito novo atualmente e observo articulações bem parecidas entre as moças de hoje com as das moças de algum tempo atrás. Vejo as moças de hoje e faço análises e comparações com a mocidade que eu vivi. As mesmas armações, ilusões, decepções e batalhas travadas entre ser e ter, ser e ser ou não ser. Ainda se roga por liberdade, ainda se pretende ser diferente e especial. A mais bonita, a mais sabida. Ainda se espera a felicidade, mesmo nos tempos de hoje, onde tão pouco se acredita no futuro, em Deus e na família. Ainda procuram o amor, ainda que disfarçado em autonomia sobre a sua sexualidade. Ainda querem amar e pobrezinhas, divididas entre os conceitos feministas, mal

O sonho*

Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passaram por suas vidas. *Clarice Lispector

A palavra mágica*

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. *Carlos Drummond de Andrade

Sobre a origem da poesia*

A origem da poesia se confunde com a origem da própria linguagem. Talvez fizesse mais sentido perguntar quando a linguagem verbal deixou de ser poesia. Ou: qual a origem do discurso não-poético, já que, restituindo laços mais íntimos entre os signos e as coisas por eles designadas, a poesia aponta para um uso muito primário da linguagem, que parece anterior ao perfil de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, nas aulas, conferências, discussões, discursos, ensaios ou telefonemas. Como se ela restituísse, através de um uso específico da língua, a integridade entre nome e coisa — que o tempo e as culturas do homem civilizado trataram de separar no decorrer da história. A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado. Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tud

Mito de Narciso*

Sempre me fascinaram estes mitos de homens que desobedeciam aos deuses Ah, eram muito corajosos!!!.... Muitas vezes , para nós, já nos é difícil desobedecer professores, chefes, papai ou mamãe.... Um deles, o mito de Narciso. Narciso, "aquele que não deveria se ver". Condenado pelos deuses a não poder se olhar a si mesmo. Deveria evitar espelhos e reflexos na água. O que poderia revelar o reflexo de si mesmo a Narciso? O que revela o reflexo meu sobre mim mesmo? Verdades.... Mentiras... Ilusões.... Autenticidades.... Um belo dia a sede venceu Narciso. Para matar a sede viu a si mesmo refletido no espelho das águas. Enamorou-se de si mesmo. Encantou-se com a sua ´própria imagem... Amor nenhum, nem ninfa nenhuma mais o sensibilizariam. Diz ainda o mito que a ninfa "Eco" enamorou-se de Narciso. E por ele foi desprezada. Como consequência emudeceu e foi destinada a viver nos penhascos. Apenas repetindo o eco das palavras pronunciadas pelos vales. Narcis

Somos o que Lemos ?*

Querido leitor, que você esteja bem. Dias desses, quando passava por uma das salas onde trabalho, flagrei um colega lendo um livro escrito por uma conhecida socialite. A obra falava sobre regras, normas, formas de agir quando em uma reunião social. Como se não bastasse, ainda dava dicas de roupas, posturas e até algumas frases prontas para diálogos previsíveis. De repente, ele me deu abertura e me vi falando ao colega de trabalho. Carinhosamente perguntei: “Você não tem um autor ou autora melhor para ler?” Como resposta, recebi outra pergunta dele. “Tem alguma recomendação?”, perguntou-me o colega, fazendo um movimento corporal como se realmente tivesse interessado na resposta. Diante do exposto e do contraposto, sugeri que ele pudesse iniciar pelas biografias de grandes pensadores, pintores, artistas, pessoas que fizeram a diferença na história. “Por exemplo?”, perguntou novamente ele. De chofre, sugeri Fernando Pessoa, Cecilia Meireles. Ao que foi emendado a um comentári

Soneto da Falta de Sensatez*

Palavras bonitas queria dizer Mas, hoje, a inspiração me falta. Sem saber o que escrever Fico sentado, olhando a pauta. Querendo ser um pouco sensato Sem sentimentos abundantes Vejo coisas, na imaginação, distantes Fitando a sola de um sapato. Palavras giram ao meu redor. Sem nada terem me transmitido Vão junto ao vento, embora. E deixando um vazio agora Vejo um infinito maior De palavras sem sentido...   *Vinicius Fontes Filósofo, Filósofo Clínico Rio de Janeiro/RJ

Um cego*

Não sei qual é a face que me fita Quando observo a face de algum espelho; No seu reflexo espreita-me esse velho Com ira muda, fatigada, aflita. Lento na sombra, com as mãos exploro Meus invisíveis traços. O mais belo Fulgor me atinge. Vi o teu cabelo Que é já de cinza ou é ainda de ouro. Repito que perdi unicamente A superfície sempre vã das coisas. O consolo é de Milton e é valente, Mas eu penso nas letras e nas rosas, Penso que se pudesse ver a cara Saberia quem sou na tarde rara. *Jorge Luis Borges  

Fragmentos poéticos, filosóficos*

Para mim. A história das minhas loucuras. Há muito me gabava de possuir todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias as celebridades da pintura e da poesia moderna. Gostava das pinturas idiotas, em portas, decorações, telas circenses, placas, iluminuras populares; a literatura fora de moda, o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia, romances de nossos antepassados, contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos, ritmos ingênuos. Sonhava com as cruzadas, viagens de descobertas de que não existem relatos, repúblicas sem histórias, guerras de religião esmagadas, revoluções de costumes, deslocamentos de raças e continentes: acreditava em todas as magias. Inventava a cor das vogais! - A negro, E branco, I vermelho, O azul, U verde. Regulava a forma e o movimento de cada consoante, e , com ritmos instintivos, me vangloriava de ter inventado um verbo poético acessível, um dia ou outro, a todos os sentidos. Era comigo traduzi-l

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