Pular para o conteúdo principal

Postagens

A Terceira Caverna (Platão)*

Ah, o mito da caverna de Platão. Conhecido por por muitos. Nem sempre bem compreendido por mim.  Homens vivendo em cavernas. Conheciam apenas o reflexo das coisas. Suas sombras projetadas nas paredes. Contornos de fantasmas da realidade. O conhecimento mais completo se daria pelo contato com a realidade. Mostrada pelo brilho da luz do sol. Pela claridade mesma das coisas.  E viva o sol!!! E o sol subiu ao intelecto. Cristalizou-se sobre as coisas. E deu curto-circuito....  Seria tudo tão simples assim? A claridade excessiva ofuscou meu conhecimento. A máxima brancura cegou minhas vistas. E o conhecimento envaideceu-se de si mesmo.... Andou pelas margens da desrazão. Mais filosofia. Outra filosofia, por compaixão. Oh, Sócrates venha em meu auxílio. Quanto mais avança o conhecimento, mais se abrem as lacunas de um novo não-conhecimento....  Imagino-me pelo caminho: morando na caverna, com suas sombras. Andando pelo mundo, ofuscado por excessos de claridade. O intelecto e

Piglia aprisionado*

          Tento escrever meu terceiro romance. A experiência é aflitiva: imitando a improvável domesticação dos animais selvagens, lido com um material que, à minha revelia, a toda hora se transforma e se rebela. Em definitivo: não sou eu quem comando. É muito doloroso aceitar isso. Aceitar que escrever uma ficção é, quase sempre, uma experiência fora de controle. Que o livro segue seu próprio caminho, em absoluta indiferença para com seu autor. Que, quanto mais avançamos, mais contato perdemos.           Encontro consolo lendo uma entrevista de Ricardo Piglia publicada na revista "Otra Parte". A entrevista se chama: "A narração como iminência do fecho". O remate, ou conclusão, é o enervante destino de qualquer relato. É nele - é a partir dele - que toda a narrativa se desenha e encontra sua forma. Que toda narrativa se forma. "Penso que teríamos que partir da ideia do fecho como lugar de cruzamento entre experiência e literatura". É ali, onde o r

Travessias*

  Dê-me tua mão, te ensino a dançar. Dê-me tua mão, esteja comigo na travessia do vale escuro Ao tempo em que executo meus desejos apesar das turbulências, No espaço em que meu corpo é o obstáculo, não só para a alma. Creia na minha história e invente outras. A ciência e as explicações não adiantam mais. Emoções danificadas se encontram. Trajetórias semelhantes, realidades paralelas. Mesmo biorritmo, Buscas e formação em comum. Mas, se o conjunto é mesmo maior do que a soma das partes, A união eclipsa/ameaça a estrutura singular? A interseção, nesse caso, é um terceiro Não alheio às constituições de cada um; Triângulo do fogo em graça. *Vânia Dantas Filósofa Clínica Brasília/DF

Dédalo da alma*

                                                                                            Labirintos são intrincadas construções arquitetônicas que mudam de forma a cada instante, de acordo com o ponto de vista dos que neles se aventuram: são, portanto, construções de caráter instável. O indivíduo que adentra um labirinto nem sempre se dá conta de que encontrar a saída pode ser algo complexo.          A argumentação em relação aos espaços labirínticos tem como ponto de partida o labirinto mitológico grego, construído para  asilar um ser emblemático. Essa criatura foi um filho bastardo de Pasífae, que era esposa do rei Minos, com um Touro que fora núncio pela majestade do mar, Poseidon, com o intuito de punir o rei através do adultério da rainha.          Por conseqüência, Pasífae acabou concebendo a um ser meio homem, meio touro: o Minotauro. Na medida em que ele crescia, teve que ser aprisionado no labirinto, uma construção projetada por Dédalo. Tratava-se de um ser híb

O sim contra o sim*

[...]   Miró sentia a mão direita demasiado sábia e que de saber tanto já não podia inventar nada. Quis então que desaprendesse o muito que aprendera, a fim de reencontrar a linha ainda fresca da esquerda. Pois que ela não pôde, ele pôs-se a desenhar com esta até que, se operando, no braço direito ele a enxerta. A esquerda (se não se é canhoto) é mão sem habilidade: reaprende a cada linha, cada instante, a recomeçar-se. Mondrian, também, da mão direita andava desgostado; não por ser ela sábia: porque, sendo sábia, era fácil. Assim, não a trocou de braço: queria-a mais honesta e por isso enxertou outras mais sábias dentro dela. Fez-se enxertar réguas, esquadros e outros utensílios para obrigar a mão a abandonar todo improviso. Assim foi que ele, à mão direita, impôs tal disciplina: fazer o que sabia como se o aprendesse ainda. *João Cabral de Melo Neto

Visitas