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A Espantosa Realidade das Cousas*

A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. Naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada. Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo, Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos

Para que serve a inteligência?*

Você sabe o que é inteligência artificial?   Em geral nosso conhecimento sobre o assunto não vai muito além de pensar em algo parecido com um computador super inteligente. Na verdade, inteligência artificial ainda é uma mistura de sonho e realidade. A tecnologia já foi alcançada. Máquinas com capacidade de memória, raciocínio e argumentação superiores aos humanos estão disponíveis  em qualquer esquina, no entanto,  carecem de recursos emocionais. Até onde isto pode ser considerado inteligência? Como o próprio nome diz, são apenas máquinas que buscam dados armazenados e os combinam em alta velocidade.  Cientistas buscam ir além e compreender o fenômeno da inteligência, procurando decifrar o modo como os seres humanos pensam e representam suas vivências.  Elaboram teorias e modelos matemáticos de inteligência e depois os transferem para dentro de computadores, com o objetivo de multiplicar a capacidade racional do ser humano de resolver problemas, pensar ou, em última anális

Do que Nada se Sabe*

A lua ignora que é tranquila e clara E não pode sequer saber que é lua; A areia, que é a areia. Não há uma Coisa que saiba que sua forma é rara. As peças de marfim são tão alheias Ao abstracto xadrez como essa mão Que as rege. Talvez o destino humano, Breve alegria e longas odisseias, Seja instrumento de Outro. Ignoramos; Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta. Em vão também o medo, a angústia, a absorta E truncada oração que iniciamos. Que arco terá então lançado a seta Que eu sou? Que cume pode ser a meta? Jorge Luis Borges

As palavras e o silêncio*

Sem palavras O silencio diz Os pássaros cantam O sol mima as flores Minha alma vagueia Existo Pelo avesso Em liberdade Sou E o tempo para Neste agora eterno Pinto e bordo Arremato instantes Sem antes e depois Costuro a vida! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora Juiz de Fora/MG

Os Instantes Superiores da Alma*

Os instantes Superiores da Alma Acontecem-lhe - na solidão - Quando o amigo - e a ocasião Terrena Se retiram para muito longe - Ou quando - Ela Própria - subiu A um plano tão alto Para Reconhecer menos Do que a sua Omnipotência - Essa Abolição Mortal É rara - mas tão bela Como Aparição - sujeita A um Ar Absoluto - Revelação da Eternidade Aos seus favoritos - bem poucos - A Gigantesca substância Da Imortalidade Emily Dickinson

Apenas palavras*

Palavra pode ser entendida como um conjunto de letras que significam algo. Ao longo da história da linguagem a palavra aos poucos deixou de ser ação: do primeiro grunhido primata às palavras mais bem elaboradas dos dias atuais o que se percebe é a distância entre a ação e a reflexão. Nos primeiros idiomas, por exemplo, entre os egípcios, a palavra era construída com símbolos retirados da realidade como uma águia, uma perna, uma pedra. Anos mais tarde os Sumérios desenvolveram a escrita Cuneiforme, que eram marcas feitas com um palito em uma tábua de argila. Depois destes vieram os Fenícios que desenvolveram o primeiro alfabeto, o qual continha apenas as consoantes. Os gregos, aproveitando-se deste alfabeto, inserem as vogais e constroem o alfabeto que é a base para o idioma que hoje falamos, o português. Essa breve história do alfabeto mostra que no início o homem tinha a palavra vinculada aos objetos reais, já nos dias de hoje a letra “A”, por exemplo, só existe enquanto pens

Canto dos Espíritos sobre as Águas*

A alma do homem É como a água: Do céu vem, Ao céu sobe, E de novo tem Que descer à terra, Em mudança eterna. Corre do alto Rochedo a pino O veio puro, Então em belo Pó de ondas de névoa Desce à rocha liza, E acolhido de manso Vai, tudo velando, Em baixo murmúrio, Lá para as profundas. Erguem-se penhascos De encontro à queda, — Vai, 'spumando em raiva, Degrau em degrau Para o abismo. No leito baixo Desliza ao longo do vale relvado, E no lago manso Pascem seu rosto Os astros todos. Vento é da vaga O belo amante; Vento mistura do fundo ao cimo Ondas 'spumantes. Alma do Homem, És bem como a água! Destino do homem, És bem como o vento! *Johann Wolfgang von Goethe

Azul e amarelo*

Amar é um elo entre o azul e o amarelo (Paulo Leminski) Dizem que o arco-íris condensa todas as cores, assim como sonhos, esperanças e olhares perdidos. Ele se esquece no horizonte e cruza os destinos de quem ousa ver além, ao alcance dos que fantasiam.  Para tanto, basta a pressa da felicidade e a ingestão dos encantamentos.  Porque é preciso vida para cruzar a fonte e é preciso amor para encontrar o pote das preciosidades inebriantes. Também é preciso acordar cedo (ou tarde), apenas para ter certeza de que mais um dia acontece para que se intencione ser feliz.  Depois, há o tempo de caminhar juntos, comprometidos com o que nem sempre importa, mas que costuma ser bom. Se no meio do caminho tropeçar, paciência. Sorria e estenda a mão à alma caída para que ela possa te puxar.  Participar de dores e dissabores também faz parte, como tempero para o prato principal, mesmo que seja só uma saladinha. Assim como o vaivém das singularidades traçam uma dança inusitada que e

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho, Ou darei quantas queiram: bem sabemos Que razões são palavras, todas nascem Da mansa hipocrisia que aprendemos. Não me peçam razões por que se entenda A força de maré que me enche o peito, Este estar mal no mundo e nesta lei: Não fiz a lei e o mundo não aceito. Não me peçam razões, ou que as desculpe, Deste modo de amar e destruir: Quando a noite é de mais é que amanhece A cor de primavera que há-de vir. *José Saramago

Existencialidades*

Por que ? Ando vagando por entre motivos para fundamentar minha existência num mundo tão complexo e questionável. As incertezas pairam na minha rua. Nada encontro de concreto, reto e direto. Busco nas curvas das palavras escritas minha resposta para um porquê que só eu sinto. Não há nada de errado comigo! Está tudo bem, bem até demais. Essa sensação de inquietude é interna e constante. Faz parte da minha singularidade. Há uma necessidade em meu ser de significar tudo, todos. É quase uma obsessão, uma mania doentia de dar sentido a tudo. Sem sentido não há sentido em viver. De repente, leio algo, que aparentemente me tira o "chão". Vago sozinha na escuridão de uma angústia que jamais poderá ser compartilhada. Parece que minha mente roda e gira numa velocidade inalcançável, não consigo acompanhar minha tontura existencial. Sofro, busco, corro, grito e questiono sempre, sem cessar. Será? As vezes o amor parece distante e tudo fica apático. Como se a

Fui Sabendo de Mim*

Fui sabendo de mim por aquilo que perdia pedaços que saíram de mim com o mistério de serem poucos e valerem só quando os perdia fui ficando por umbrais aquém do passo que nunca ousei eu vi a árvore morta e soube que mentia Mia Couto

Suplantando Fronteiras*

             Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.                                      Fernando Pessoa Transcender é ir além, ultrapassar limites. É a capacidade e o desejo de romper limitações, de superar e violar os interditos. É o desejo e a capacidade do ser humano para transcender a si mesmo, ou seja, sair de seu estado atual para buscar algo novo. Podemos exemplificar a atitude de Adão e Eva no jardim do Éden como expressão de transcendência, de sua transformação em ser humano. Interessa-nos apontar a transcendência como uma experiência mais sentimental – o apaixonar-se, o êxtase como uma experiência, o deslumbramento diante de uma realidade nova, a admiração, o espanto. É ceder, se deixar aventurar à outra singularidade. Penetrar e

Milagres*

Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa de especial? Por mim, de nada sei que não sejam milagres: ou ande eu pelas ruas de Manhattan, ou erga a vista sobre os telhados na direção do céu, ou pise com os pés descalços bem na franja das águas pela praia, ou fale durante o dia com uma pessoa a quem amo, ou vá de noite para a cama com uma pessoa a quem /amo, ou à mesa tome assento para jantar com os outros, ou olhe os desconhecidos na carruagem de frente para mim, ou siga as abelhas atarefadas junto à colmeia antes do meio-dia de verão ou animais pastando na campina ou passarinhos ou a maravilha dos insectos no ar, ou a maravilha de um pôr-de-sol ou das estrelas cintilando tão quietas e brilhantes, ou o estranho contorno delicado e leve da lua nova na primavera, essas e outras coisas, uma e todas — para mim são milagres, umas ligadas às outras ainda que cada uma bem distinta e no seu próprio lugar. Cada momento de luz ou de tre

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