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Postagens

As multidões*

Não é dado a todo o mundo tomar um banho de multidão: gozar da presença das massas populares é uma arte. E somente ele pode fazer, às expensas do gênero humano, uma festa de vitalidade, a quem urna fada insuflou em seu berço o gosto da fantasia e da máscara, o ódio ao domicílio e a paixão por viagens. Multidão, solidão: termos iguais e conversíveis pelo poeta ativo e fecundo. Quem não sabe povoar sua solidão também não sabe estar só no meio de uma multidão ocupadíssima. O poeta goza desse incomparável privilégio que é o de ser ele mesmo e um outro. Como essas almas errantes que procuram um corpo, ele entra, quando quer, no personagem de qualquer um. Só para ele tudo está vago; e se certos lugares lhe parecem fechados é que, a seu ver, não valem a pena ser visitados. O passeador solitário e pensativo goza de uma singular embriaguez desta comunhão universal. Aquele que desposa a massa conhece os prazeres febris dos quais serão eternamente privados o egoísta, fechado como

Convites*

Tudo roda continuando... e nossa jornada convida a sair do eu para sermos Nós! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora Juiz de Fora/MG

Certeza*

Se é real a luz branca desta lâmpada, real a mão que escreve, são reais os olhos que olham o escrito? Duma palavra à outra o que digo desvanece-se. Sei que estou vivo entre dois parênteses. *Octávio Paz

Incertezas*

Hoje estava pensando em como é difícil viver nesse mundo repleto de incertezas de um constante vai e vem por todos os lados. Sentei em um bar – sim, porque à beira do caminho é só para os literatos – para tomar um chope e pensar na vida.  Recentemente, li um livro de um filósofo brasileiro chamado Mário Sergio Cortella que nos coloca muitas inquietações. O livro se chama: Qual a tua obra? e eu me peguei pensando nisso enquanto tomava minha gelada.  Confesso que não consegui pensar em nada... Só via pessoas indo e vindo em um frenesi que toma conta hoje de qualquer lugar no mundo – afinal, somos mais de 7 bilhões de destruidores do meio ambiente. Ainda absorto em meus pensamentos o olhando fixamente para o nada, comecei a pensar que poderia estar ficando maluco e que poderia estar sendo acometido pela doença dos grandes filósofos, assim como Nietzsche: a loucura. Sim! Porque nada faz sentido!  As pessoas passando, de um lado para o outro, os ônibus e os carros – aliás,

O verdadeiro significado de uma produção artística*

A verdadeira arte só encontra força para germinar em meio ao caos, ao desespero e a confusão. André Cardoso Czarnobai A arte trabalha com signos, ícones que atravessam nossos sentidos e se dirigem ao inconsciente. Cada vez que acontece a manifestação artística através da produção de uma obra, o artista deseja, entre tantas coisas, extirpar seus demônios; essa é a maneira que ele encontra para se expressar; sendo um perscrutador de caminhos, desnuda sua alma. Marcel Duchamp afirma que o artista tira as certezas, mas sem colocar outras no lugar das que desaparecem, ele é um eterno buscador de novos paradigmas; provocando através da observação de sua obra a procura por um novo olhar, tão urgente em um mundo ávido por formas criativas de comunicação. O artista desenvolve e torna visível um universo próprio; mantendo sua inquietação através de sua obra, buscando em seu cotidiano elementos que se tornaram invisíveis ao olhar humano, muitas vezes desavisado e rotineiro, tor

Nem tudo é fácil*

"É difícil fazer alguém feliz, assim como é fácil fazer triste. É difícil dizer eu te amo, assim como é fácil não dizer nada É difícil valorizar um amor, assim como é fácil perdê-lo para sempre. É difícil agradecer pelo dia de hoje, assim como é fácil viver mais um dia. É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua. É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo. É difícil fazer alguém sorrir, assim como é fácil fazer chorar. É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo. Se você errou, peça desculpas... É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado? Se alguém errou com você, perdoa-o... É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender? Se você sente algo, diga... É difícil se abrir? Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar? Se alguém reclama de você, ouça...

Aninha e suas pedras*

Não te deixes destruir… Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. *Cora Coralina

As mesmas palavras*

"Em seu ser atual, as palavras, acumulando sonhos, fazem-se realidades."  Gaston Bachelard Uma só expressão pode conter, em si mesma, a pluralidade indescritível de significados. Parece uma propriedade especial, essa aptidão de multiplicar-se, para acolher a diversidade existencial em cada um.   É improvável ser o dicionário de sinônimos e antônimos, o guardião de todas as possibilidades para ler, reler, desler suas variáveis discursivas. O território mutante das singularidades aprecia resguardar-se na vontade subjetiva.  Seu esboço, a reivindicar uma chave de leitura específica, popõe qualificar o reencontro com a fonte de onde partiu. Em todo lugar, a cada instante, existe um convite para desbravar inéditos. Mesmo o antigo dialeto, recuperado pelo novo olhar, pode ser refúgio de originais. Assim, as mesmas palavras podem ser outras palavras.  O encontro da expressividade com a intenção do autor, delimita seu sentido. Aqui não se busca o transbordamento

A Espantosa Realidade das Cousas*

A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. Naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, Gosto dela porque ela não sente nada. Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido. Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto; Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo, Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar; Porque o penso sem pensamentos

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