Pular para o conteúdo principal

Postagens

A(pro)fundando Narciso*

Inclino-me uma vez mais sobre Narciso.  Para tentar entendê-lo. Ou salvá-lo... Narciso puniu-se a si mesmo por ter se olhado no reflexo das águas.  Não parece ser tão simples assim. Parece que Narciso perdeu-se a si mesmo por não ter conseguido mais sair deste movimento fixo. Movimento que saía de si mesmo e retornava sobre si, sem nada lhe acrescentar. Preferiu sua própria imagem, oca e vazia, a si mesmo. Tentou buscar-se onde ele se via, isto é, onde ele não era. Nada mais desviaria seu olhar sobre si mesmo. Acontecia assim: Narciso sorria e a imagem lhe sorria. Chorava e a imagem vertia-lhe uma lágrima. Aproximava-se ou se afastava do espelho das águas e a imagem lhe retribuía com o mesmo movimento de aproximação ou de afastamento. Ensaiava um abraço e sua imagem retribuía-lhe de braços abertos. Porém, Narciso não se sentia abraçado... Narciso tornou-se refém da armadilha de um olhar que nada mais lhe acrescentava. Imagem sem substância, que se

O Poeta é Belo*

O poeta é belo como o Taj-Mahal feito de renda e mármore e serenidade O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore ao primeiro relâmpago da tempestade O poeta é belo porque os seus farrapos são do tecido da eternidade *Mario Quintana 

Cogitação Filosófica*

                Umas vezes sinto sono, mas quase nunca sonho. Outras vezes realidade, mas quase sempre engano. Umas vezes aspiro ao mito, outras vezes entendo o fato. Umas vezes rosa, outras machado.                                                                          Rogério de Almeida Nem pense em encontrar, no aqui exposto, a precisão cirúrgica dos deuses doentes da modernidade, que passavam os seus extensos dias ceifando sentidos, separando as línguas clássicas das bárbaras e situando as boas e más palavras. Primeiro, que qualquer tipo de conceito que possa traduzir o desconforto, não serve ao nosso propósito. Não é fácil encontrarmo-nos em um amontoado de conceitos que não se compreende e constatar que, sobre os mesmos, muito pouco se sabe. Inúmeras vezes, nossa desgraça se torna nossa redenção. Não sabemos exatamente, nem como nem por que. A inquietação que mobiliza, também conduz à construção filosófica e a expressão dos martírios que nos consomem, nes

São os rios*

Somos o tempo. Somos a famosa parábola de Heráclito o Obscuro. Somos a água, não o diamante duro, a que se perde, não a que repousa. Somos o rio e somos aquele grego que se olha no rio. Seu semblante muda na água do espelho mutante, no cristal que muda como o fogo. Somos o vão rio prefixado, rumo a seu mar. Pela sombra cercado. Tudo nos disse adeus, tudo nos deixa. A memória não cunha sua moeda. E no entanto há algo que se queda e no entanto há algo que se queixa. *Jorge Luis Borges

Noites, sonhos, fronteiras*

A noite embesta-se no emaranhado de meus cabelos sem vinho sem ninho corre esconde-se em meio as luas cheias e estrelas cadentes assombra as meninas assanha os meninos a noite desvia-se na contra mão e me instiga a deixar os olhos abertos esperar os vampiros passarem até o nascer do sol para me lambuzar de sonhos e me fartar de amores a noite... é noite obediente rebelo-me pois nada mais é além da fronteira do meu eu e teu tu. *Rosangela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poeta, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Momentos possíveis do imaginário*

“O esquecimento do esquecimento não dá oportunidade apenas às encenações realistas, ele é essencial a qualquer metafísica: ao esforçar-se por apresentar a própria coisa, fundamento último, Deus, ser, a metafísica esquece-se de que a presença é ausente. Ter tudo presente é a bulimia do pensamento ocidental.” Jean-François Lyotard (Moralidades pós-modernas, p. 155-156, Papirus, 1996.) A escritura é o fortalecimento e também poder ser o que se esquece durante o passar do tempo.  O tempo aqui como conceito diante do que é visto, do que tem diante dos olhos. Tanto faz olharmos por através da vidraça ou mesmo diante de um real supostamente dito, dentro do mesmo espaço, porque o imaginário criado nisso tudo é como o fogo que une o todo. O que estava separado, o que estava distante acaba se unindo nas chamas.  A escritura tem um pouco disso, mas se diferencia por sua unidade de ser, por sua fonte longe do imortalizado, é como Lyotard falou de Beckett que fez a “assinatura

A palavra indefinida*

Existe uma infinidade de expressividades alojadas nalgum ponto entre a percepção de uma quase ideia e sua adequada manifestação. Esse discurso persegue a ordem  de um caos. Nele os subterfúgios se destacam das evidências objetivadas pela definição. Sua tez de promessa extraordinária permanece em aberto.  É possível ser o convívio com as lógicas da desrazão, a fonte de onde jorra a matéria-prima em busca de descrever-se. Numa atitude de estado nascente, sua inexatidão aproxima a inteligibilidade do absurdo discursivo. Sua noção descortina-se nas páginas da originalidade por vir.   Um relato assim, longe de instituir fechamentos, refere uma atitude de não-propriedade em relação ao conhecimento. Seu discurso inacabado aguarda preenchimentos. As clausuras recém desconstruídas, acolhem as dúvidas, abrigam especulações irrefletidas. Num traço assim descrito, a ressonância dos deslocamentos pessoais permanece em aberto, parecem querer dizer sobre a presença de uma ausência.  Ne

Poética*

Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor. Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Estou farto do lirismo namorador Político Raquítico Sifilítico De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare — Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. *Manuel Bandeira

Por falar de amor*

Se o amor me leva  a adentrar a casa, por um lado a dor me leva a buscar a chave para sair.                   Jesus Aguiar                   Vânia Dantas O amor é algo que talvez não possa ser definido, mas que tentamos sentir ou demonstrar por meio de linguagens e gestos. São abraços, palavras, sonhos, flores e presentes que veem em nome dele e que são direcionados para a pessoa em que encontramos o destino, a fim de entregar esse tesouro tão nobre que existe dentro de nós. Amor que anestesia o tempo, rompe com a cronologia, instaura um tempo eterno onde parece só existir o início, pois ele não termina jamais. Emoções congeladas num sorriso; é o vencedor que serve. O pensamento e a alma se unem e neste espaço sagrado criado e só a pessoa amada nele permanece. O amor exige uma exclusividade, talvez a nominemos de fidelidade. Queremos um vínculo, uma entrega total entre o amado e a amada. As estrelas são assim

Visitas