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A Grande Literatura*

Os romances nunca serão totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar-se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real cuja superfície arranhamos com uma curiosidade tão inquieta. Quando nos refugiamos num canto, nos deitamos numa cama, nos estendemos num divã com um romance nas mãos, a nossa imaginação passa o tempo a navegar entre o mundo daquele romance e o mundo no qual ainda vivemos. O romance nas nossas mãos pode-nos levar a um outro mundo onde nunca estivemos, que nunca vimos ou de que nunca tivemos notícia. Ou pode-nos levar até às profundezas ocultas de um personagem que, na superfície, parece-se às pessoas que conhecemos melhor. Estou a chamar a atenção para cada uma dessas possibilidades isoladas porque há uma visão que acalento, de tempos a tempos, que abarca os dois extremos. Às vezes tento conjurar, um a um, uma multidão de leitores recolhidos num canto e aninhados nas suas poltronas com um romance nas mãos; e também tento

A Filosofia Clínica na minha vida...*

Andei questionando que papel o estudo da filosofia clínica tem cumprido em minha vida e cheguei a inúmeras conclusões. Sou habilitada para a pesquisa dentro da filosofia clínica pois ainda não conclui meu pré-estágio terapêutico. Aliás, não tenho pressa em continuar, tendo em vista, os ganhos que tive com esse estudo. A filosofia clínica abriu meu conhecimento de mim mesma. E creio que esse deva ser o primeiro passo para as pessoas que pretendem atender outras pessoas. Antes da filosofia clínica em minha vida eu escrevia e simplesmente detestava tudo o que escrevia. Mas, sempre gostei de me expressar pela escrita. Meu professor e filósofo clínico Hélio percebeu isso, essa minha singularidade. Eu não só fui incentivada por esse mestre-amigo, mas também, fui descoberta como um ser que necessita  expurgar pela escrita as dúvidas da existência e as dores de existir. Desagendei muito durante meu processo. Cresci como ser humano, me desnudei de complexos e recatos. Sou mais coer

O Perigo do Especialista*

O especialista serve-nos para concretizar energicamente a espécie e fazer ver todo o radicalismo da sua novidade. Porque outrora os homens podiam dividir-se, simplesmente, em sábios e ignorantes, em mais ou menos sábios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser submetido a nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio, porque ignora formalmente o que não entra na sua especialidade; mas tampouco é um ignorante, porque é «um homem de ciência» e conhece muito bem a sua fracção de universo. Devemos dizer que é um sábio ignorante, coisa sobremodo grave, pois significa que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância de quem na sua questão especial é um sábio. E, com efeito, este é o comportamento do especialista. Em política, em arte, nos usos sociais, nas outras ciências tomará posições de primitivo, e ignorantíssimo; mas tomará essas posições com energia e suficiência, sem admitir – e isto é o p

Estórias de livreiro*

Choveu naquele dia. O dia inteiro. Gilberto era o seu nome. Profissão: leitor. Ele era assim, meio esquisito.Vivia de ler. E parecia ler o que lhe fazia bem. Ou não. Não sei....Percebia-se isso no seu jeito de andar. E no seu jeito de falar.  Naquele dia falou-me de um livro que estava lendo: As Aventuras do Bom Soldado Svejk. Observou categórico, mas sereno: - Mas isto, Zé, é um livro que precisa ser lido no inverno.... Está bem... Em algumas situações meu pensamento voa rápido. Selecionei já, em minha cabeça os livros para serem lidos no verão. E aqueles para serem lidos no inverno. Outros para serem lidos na primavera. Ainda aqueles que só poderiam ser lidos no outono. Disse-me ainda: - Uma vez quis defender esta tese: os livros necessitam ser lidos de acordo com as estações do ano. Tinha razão meu amigo. Concordei com a cabeça. É, faz sentido.... Pensei comigo: Existiriam, certamente, também os livros para serem lidos conforme as estações da alma.

Meu problema não era a comida*

Hoje não acordei bem. Senti um aperto na altura do estômago, uma sensação de saciedade e uma preguiça daquelas que nos aprisionam na cama. Olhei o relógio e vi que passavam das nove, mas não tinha a menor vontade de levantar. Queria mesmo era voltar a dormir pra ver se acordava melhor. Não consegui. O pessoal que trabalha na pousada já estava circulando pelo corredor, especialmente dona Maria, que enquanto limpa os quartos, cantarola muito alto e faz alguns barulhos que me atrapalham o sono. Além disso, fiquei pensando o que poderia ter causado aquele mal estar. Rolava na cama de um lado para outro enquanto tentava lembrar o que comera no dia anterior. A noite havia sido ótima, não exagerei na comida nem na bebida. A única coisa diferente foi aquele vinho verde português servido durante o jantar. Tão logo vi aquele liquido verde na taça, estranhei a cor. O garçom percebeu minha estranheza mas foi esperto e atencioso. Rapidamente saiu explicando como era a fabricação e

O Presente Inexistente*

Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste.  É que o presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar. Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-n

Quando não penso*

Não me preocupo com rima e métrica sigo meu coração e alma brinco de ser poeta não me segurem e me ditem regras escrevo como quero sem perder meu Eros Apolo que me perdoe Dioniso eu sigo é quando não penso que a poesia me brota não faço esforço brinco com as palavras e me lambuzo de inspiração esvazio meus pantanais *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Poetiza, Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

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