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Respeite a você mais do que aos outros*

Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias.  (...) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (...) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação...  Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (...)  Uma amiga, um dia desses, e

A palavra conjectura*

Um pouco antes das novas conjugações existenciais, existe um período onde se rascunham estimativas, elencam suposições, roteirizam probabilidades. Nesse espaço de ensaio, insegurança, dúvida, desenvolve-se uma poética da insuficiência, por onde as incompletudes perseguem ânimos de experimentação.  Assim permite a aproximação com um lugar estranho, de onde nascem categorias, verdades, suspeitas. Sua essência, de querer ser, aponta regiões inexploradas para si mesma. Talvez seu maior desafio, seja superar a incompreensão da pluralidade do que vai aparecendo, os agendamentos e repercussões no mundo dos outros.    Esse procedimento reivindica uma disposição do sujeito para extrapolar seus limites existenciais. Aqui os sobrevoos são insuficientes. É necessário um mergulho atento, circunstanciado, pelas possibilidades do horizonte singular.  A frequência devaneio, ao surpreender-se por algum ideal de natureza intuitiva, dependendo da estrutura de pensamento onde atua, pode emanc

A Grande Literatura*

Os romances nunca serão totalmente imaginários nem totalmente reais. Ler um romance é confrontar-se tanto com a imaginação do autor quanto com o mundo real cuja superfície arranhamos com uma curiosidade tão inquieta. Quando nos refugiamos num canto, nos deitamos numa cama, nos estendemos num divã com um romance nas mãos, a nossa imaginação passa o tempo a navegar entre o mundo daquele romance e o mundo no qual ainda vivemos. O romance nas nossas mãos pode-nos levar a um outro mundo onde nunca estivemos, que nunca vimos ou de que nunca tivemos notícia. Ou pode-nos levar até às profundezas ocultas de um personagem que, na superfície, parece-se às pessoas que conhecemos melhor. Estou a chamar a atenção para cada uma dessas possibilidades isoladas porque há uma visão que acalento, de tempos a tempos, que abarca os dois extremos. Às vezes tento conjurar, um a um, uma multidão de leitores recolhidos num canto e aninhados nas suas poltronas com um romance nas mãos; e também tento

A Filosofia Clínica na minha vida...*

Andei questionando que papel o estudo da filosofia clínica tem cumprido em minha vida e cheguei a inúmeras conclusões. Sou habilitada para a pesquisa dentro da filosofia clínica pois ainda não conclui meu pré-estágio terapêutico. Aliás, não tenho pressa em continuar, tendo em vista, os ganhos que tive com esse estudo. A filosofia clínica abriu meu conhecimento de mim mesma. E creio que esse deva ser o primeiro passo para as pessoas que pretendem atender outras pessoas. Antes da filosofia clínica em minha vida eu escrevia e simplesmente detestava tudo o que escrevia. Mas, sempre gostei de me expressar pela escrita. Meu professor e filósofo clínico Hélio percebeu isso, essa minha singularidade. Eu não só fui incentivada por esse mestre-amigo, mas também, fui descoberta como um ser que necessita  expurgar pela escrita as dúvidas da existência e as dores de existir. Desagendei muito durante meu processo. Cresci como ser humano, me desnudei de complexos e recatos. Sou mais coer

O Perigo do Especialista*

O especialista serve-nos para concretizar energicamente a espécie e fazer ver todo o radicalismo da sua novidade. Porque outrora os homens podiam dividir-se, simplesmente, em sábios e ignorantes, em mais ou menos sábios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista não pode ser submetido a nenhuma destas duas categorias. Não é um sábio, porque ignora formalmente o que não entra na sua especialidade; mas tampouco é um ignorante, porque é «um homem de ciência» e conhece muito bem a sua fracção de universo. Devemos dizer que é um sábio ignorante, coisa sobremodo grave, pois significa que é um senhor que se comportará em todas as questões que ignora, não como um ignorante, mas com toda a petulância de quem na sua questão especial é um sábio. E, com efeito, este é o comportamento do especialista. Em política, em arte, nos usos sociais, nas outras ciências tomará posições de primitivo, e ignorantíssimo; mas tomará essas posições com energia e suficiência, sem admitir – e isto é o p

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