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Sala de pensar*

Aqui em minha sala, entre os livros e a tela, lembro o que Octavio Paz escreveu “amanhece o mundo sem gota de sangue”, penso que esse extrato poético é figuração da imagem, é potencialmente viva, e como ele mesmo diz em outro poema “También la luz em si misma se pierde”. O que me assombra é o que me dá alento para abrir os olhos e encarar o sangue que escorre pelo mundo, como eu via através da vidraça da janela, no passado, a chuva que atrapalhava minha vida. Faço um café, ouço o sibilo das caturritas que povoam meu bairro, ou portas a bater no apartamento ao lado; ao fundo, o violino do vizinho que estuda no mínimo umas quatro horas por dia.  Eu também tenho minhas determinações, acordar ainda na escuridão das manhãs, depois nadar, pensar e esquecer até completar uma hora, submerso, entre um ritmo incessante, leve, cadenciado, penso que é assim que se deve viver. Nuvens carregadas plumbeiam meu olhar, a sala de um azul cinzento, me imagino segurando um violino entre o

Enquanto se espera*

No passado, médicos acreditavam que pacientes, por se encontrarem enfermos, não tinham outros compromissos e prioridades, a não ser esperar pelo atendimento do doutor, que com o consultório sempre abarrotado, lhes socorreria na medida do possível. Do alto de seus tronos, criaram então salas de esperar. Colocaram algumas cadeiras e revistas velhas e julgaram que a resignação dos pacientes seria uma constante eterna.   Os tempos mudaram. Surgiu o telefone, a recepcionista, a secretaria, o computador, o celular, o marketing, a gestão, a concorrência, os planos de saúde, a mídia, a especialização, e a sala de espera precisou se readaptar. Não poderia continuar sendo um amontoado de cadeiras dispostas ao redor de uma sala ou corredor, onde pessoas esperavam até que algo acontecesse.     Fomos programados para ter pressa, nunca nos ensinaram nada sobre a arte de esperar. Nem todas as esperas são iguais, nem todos esperam da mesma maneira e nem todas as esperas são ruins. Até cer

Quais São os Escritores Que Nos Enriquecem ?*

Quais são os escritores que nos enriquecem? Penso que isso é diferente para todos. Penso que lemos muito subjetivamente. Lemos aquilo de que precisamos. Há quase uma força obscura que nos guia para determinado livro numa determinada altura; depois criamos problemas quando tentamos racionalizar isso e dizemos que este escritor é bom e aquele escritor é mau. Nunca fui capaz de dizer isso.  Compreende, não posso dizer que Simone de Beauvoir seja má escritora, mas posso dizer que não me enriquece. O que é uma afirmação totalmente diferente. E penso que isso varia muito. Elaborei uma lista de escritoras e dos seus livros que me enriqueceram. Mas não é uma seleção literária. É uma seleção puramente subjectiva e a sua podia ser totalmente diferente. Perguntam-me muitas vezes o que penso acerca de Simone de Beauvoir, o que penso acerca de The Golden Notebook, e é-me sempre difícil responder. Não os considero livros enriquecedores, porque me repetem incessantemente como as coisas e

Categoria Tempo*

Não te iluda, isto não é um texto. São tão somente anotações Devaneios, divagações Sobre o tempo interno Aquele que cada um tem o seu Mas o tempo depende do momento Aquele que cada um tem o seu Momento e tempo tomam uma só forma Aquela que cada um tem a sua Mas o tempo depende também da forma E a forma depende dos sentidos Os seis, além dos cinco Tempo momento formam um sentido! Quero que o tempo demore quando vejo beleza Quero que o tempo pare quando estou na natureza O tempo e o momento do brilho no olhar A forma que os sentidos te esclarecem O exato momento da plenitude Acorde da guitarra espanhola Acordando todos teus sentidos… Este é o tempo que quero só meu Momento que de forma alguma divido! Divido com quem tem o mesmo tempo Divido com quem tem a mesma forma De sentir todos os sentidos ao meu tempo Hoje resolvi brincar com as palavras Porque preciso que o tempo se apresse Que o tempo encontre alguma forma De apress

Ser Poeta*

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder como quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja Rei do Reino de Aquém e de Além Dor! É ter de mil desejos o esplendor E não saber sequer que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e asas de condor! É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim... É condensar o mundo num só grito! E é amar-te, assim, perdidamente... É seres alma e sangue e vida em mim E dizê-lo cantando a toda gente! *Florbela Espanca

Reflexões, apontamentos, poéticas*

Quando julgamos o outro a partir das nossas próprias fragilidades, nos afastamos muito de quem a pessoa é realmente e passamos a crer em mais um preconceito. Pode surgir desse fenômeno hábitos traduzidos em sofisticadas formas de mentir para nós mesmos e quanto mais mentiras construímos e acumulamos mais nos enganamos, nos iludimos e adiamos ou anulamos conquistas capazes de nos tornar realmente felizes. É mais fácil perceber e se encantar com a estética das formas ou da retórica do que captar as verdades, a essência dos conteúdos, das intimidades das coisas e da vida. Porventura, esse talvez seja o grande desafio e desafeto da linguagem, da poética e de toda a arte. O poeta e todo artista pode até dominar a estética, mas no fundo, visa mesmo é tocar a essência da sua arte na essência do outro, na essência da vida. É surpreendente como em tempos de cólera se torna cada vez mais difícil captar as verdades presentes nas essências dos discursos e dos gestos até mesmo por quem já nasc

Apontamentos de Estética Helênica II*

Toda arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer – falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama. (...) A palavra é, numa só unidade, três coisas distintas – o sentido que tem, os sentidos que evoca, e o ritmo que envolve esse sentido e estes sentidos. (...) É por isto que o mais claro dostextos começa, quando é aprofundado ou meditado por este ou aquele, a abrir-se em divergência de íntimo sentido de um para outro; é que, havendo acordo, em geral, quanto ao sentido direto ou primário da palavra, começa a o não haver quanto aos sentidos indiretos ou secundários. (...) A arte que vive primordialmente do sentido direto da palavra chamar-se-á propriamente prosa, sem mais nada; a que vive primordialmente dos sentidos indiretos da palavra – do

Infância*

Passa lento o tempo da escola e a sua angústia com esperas, com infinitas e monótonas matérias. Oh solidão, oh perda de tempo tão pesada... E então, à saída, as ruas cintilam e ressoam e nas praças as fontes jorram, e nos jardins é tão vasto o mundo —. E atravessar tudo isto em calções, diferente de como os outros vão e foram —: Oh tempo estranho, oh perda de tempo, oh solidão. E olhar tudo isto à distância: homens e mulheres; homens, homens, mulheres e crianças, tão diferentes e coloridas —; e então uma casa, e de vez em quando um cão e o medo surdo trocando-se pela confiança: Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo, Oh infindável abismo. E então jogar: à bola e ao arco, num jardim que manso se desvanece e por vezes tropeçar nos crescidos, cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar, mas ao entardecer, com pequenos passos tímidos, voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —: Oh compreensão cada vez mais fugaz, O

São Brás: protetor da garganta*

Conheça a história de São Brás, o protetor da garganta.  São Brás protetor da garganta. Brás, bispo de Sebate (Sibus, na Turquia), foi uma das últimas vítimas das perseguições romanas. Sua popularidade deve-se a um milagre atribuído a ele, quando retirou com as mãos uma espinha de peixe que sufocava uma criança, quase causando-lhe a morte. Tal milagre fez de São Brás o protetor das doenças da garganta. Pouco sabemos da história deste santo. As informações que chegaram até nossos dias, relatam que foi capturado pelos romanos e martirizado no ano 316. Celebrar a memória litúrgica facultativa de São Brás, bispo e mártir, nos leva a pedir a Deus, pela intercessão deste santo, a proteção contra todos os males da garganta. Mas também nos compromete a levarmos sempre uma boa palavra a nossos irmãos e irmãs. No dia de hoje, muitos acorrem as Igrejas para receberem a benção da garganta. O Diretório da Liturgia traz a seguinte proposta de benção para a garganta: “Por interce

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