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Vida de Cão*

Como vai amigo Tião? Estou escrevendo pra te contar as coisas estranhas que estão acontecendo nas minhas férias aqui na praia de Jurerê Internacional. Já ouvistes falar? É um lugar fantástico, nunca vi nada igual. Praia de gente rica e famosa. Mar azul, calmo, água quente, areia fininha, lanchas, iates, vendedores ambulantes, comida e bebida à vontade. Mas não pude aproveitar nada disto, nem vais acreditar. Logo que chegamos no prédio onde iríamos veranear, bem em frente à praia, já estranhei. Parecia uma vitrine de loja. Todo envidraçado, com mármores, espelhos e lustres de cristal enormes. Quase fiquei cego de tanta luz e mal conseguia caminhar naquele piso escorregadio. De repente, apareceu um homem vestido de terno preto e gravata, me pegou no colo e me carregou até nosso apartamento. Nunca ninguém havia feito isto comigo, e por pouco não o mordi de tão assustado que fiquei. Depois me explicaram que não permitem animais circulando nas áreas comuns do prédio. Dizem

É Preciso Repensar a Nossa Vida*

É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam.  Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo. Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados…  Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, d

Trânsito Carioca*

Parado, estocado, findado, amarrado Alguns poucos passos à frente Nada de muito significativo Nos encontramos numa carruagem Onde os cavalos nos levam a algum lugar Do qual não sabemos nada Mas esse não-devir incomoda a todos. Inocente, postergado e puto Nessa onda louca, baixa e sem efeito sobre o mar Continuamos caminhando. A passos de tartaruga, seguimos adiante Mas o adiante continua distante. A música que toca não nos toca. Não nos enxergamos sendo parte, Mas o mar nos leva em alguma direção. Quando chegaremos lá? Depende de quando sairemos daqui. Apressados e estressados encontram outros Que não ligam para o derredor. O derredor é ignorado, Pois vivemos nossas vidas. Quando finalmente caminhamos como coelhos, Nos vemos parados novamente. Detidos por alguma forma natural Que nos empurra para a parada O não-devir nos faz continuar na nossa condição primordial: parados. Pareados com o não-movimento Vamos nos abastecendo de p

O Conflito entre o Conhecimento e a Fé*

Durante o último século, e parte do século anterior, era largamente aceite a existência de um conflito irreconciliável entre o conhecimento e a fé. Entre as mentes mais avançadas prevaleceu a opinião de que estava na altura de a fé ser substituída gradualmente pelo conhecimento; a fé que não assentasse no conhecimento era superstição e como tal deveria ser reprimida (...) O ponto fraco desta concepção é, contudo, o de que aquelas convicções que são necessárias e determinantes para a nossa conduta e julgamentos não se encontram unicamente ao longo deste sólido percurso científico. Porque o método científico apenas pode ensinar-nos como os factos se relacionam, e são condicionados, uns com os outros.  A aspiração a semelhante conhecimento objectivo pertence ao que de mais elevado o homem é capaz, e ninguém suspeitará certamente de que desejo minimizar os resultados e os esforços heroicos do homem nesta esfera. Porém, é igualmente claro que o conhecimento do que é não abre di

Se...*

Se não houverem braços acolhedores E longos o suficiente Negue-me o seu abraço.... por favor. Se o olhar não abrir janelinhas Para algum paraíso Desvie seus olhos dos meus.... por favor. Se a alma não tiver Um pequeno cantinho para mim Não me acene com acolhimento E algum colo para o descanso... É que eu ando de mãos dadas com a ilusão. *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

A embriaguez do artista*

Para que haja arte, para que haja alguma ação e contemplação estéticas, torna-se indispensável uma condição fisiológica prévia: a embriaguez. A embriaguez tem de intensificar primeiro a excitabilidade da máquina inteira: antes disto não acontece arte alguma. Todos os tipos de embriaguez, por muito diferentes que sejam os seus condicionamentos, têm a força de conseguir isto: sobretudo a embriaguez da excitação sexual, que é a forma mais antiga e originária de embriaguez. Também a embriaguez que se segue a todos os grandes apetites, a todos os afetos fortes; a embriaguez da festa, da rivalidade, do feito temerário, da vitória, de todo o movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez da destruição; a embriaguez resultante de certos influxos meteorológicos, por exemplo: a embriaguez primaveril; ou a devida ao influxo dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade sobrecarregada e dilatada. O essencial na embriaguez é o sentimento

Convite Oficial

É com muita honra e alegria que a Casa da Filosofia Clínica e a Editora Vozes convidam para o lançamento da obra inaugural da coleção de Filosofia Clínica: " Ser Terapeuta " da multitalentosa Rosângela Rossi. Nossa busca é qualificar os estudos, as leituras, pesquisas, atendimentos. Compartilhar sabor e saber através de uma seleção dos textos de profissionais comprometidos com a prática, a pesquisa desse novo paradigma de cuidado e atenção à vida: Filosofia Clínica .  Desejamos a todos boas leituras e releituras! Muito bem vindos! Hélio Strassburger Casa da Filosofia Clínica Coordenador da Coleção

Estéticas da palavra*

“Queremos ao menos uma vez chegar no lugar em que já estamos” “(...) logos . A profundidade dessa palavra permanece, no entanto, para mim muito obscura. Aguardo sempre a vinda de um anjo apocalíptico trazendo a chave desse abismo” “A grandeza de uma obra consiste, na verdade, em que o poema pode negar a pessoa e o nome do poeta” “A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única poesia, dizendo-a sempre a cada vez” “A conversa do pensamento com a poesia busca evocar a essência da linguagem para que os mortais aprendam novamente a morar na linguagem” “A linguagem da poesia é essencialmente polissêmica e isso de um jeito muito próprio. Não conseguiremos escutar nada sobre a saga do dizer poético enquanto formos ao seu encontro guiados pela busca surda de um sentido unívoco” “Deixei uma posição anterior, não por trocá-la por outra,

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