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A Arte e a Filosofia*

Nunca será de mais insistir no carácter arbitrário da antiga oposição entre arte e a filosofia. Se quisermos interpretá-la num sentido muito preciso, é certamente falsa. Se quisermos simplesmente significar que essas duas disciplinas têm, cada uma delas, o seu clima particular, isso é verdade sem dúvida, mas muito vago.  A única argumentação aceitável residia na contradição levantada entre o filósofo fechado no meio do seu sistema e o artista colocado diante da sua obra. Mas isto era válido para uma certa forma de arte e de filosofia, que aqui consideramos secundária. A ideia de uma arte separada do seu criador não está somente fora de moda. É falsa. Por oposição ao artista, dizem-nos que nunca nenhum filósofo fez vários sistemas. Mas isto é verdade, na própria medida em que nunca nenhum artista exprimiu mais de uma só coisa sob rostos diferentes. A perfeição instantânea da arte, a necessidade da sua renovação, só é verdade por preconceito. Porque a obra de arte também é u

O Pensar*

Em seu prólogo do livro: A condição humana, Hannah Arendt o finaliza dizendo: “O que proponho, portanto, é muito simples: trata-se apenas de pensar o que estamos fazendo”. Ayn Rand, filósofa russa naturalizada norte-americana, no final de seu livro: Objetivismo relata: “Salvar o mundo é a coisa mais simples do mundo. Tudo que se tem a fazer é pensar”. Se olharmos o mundo que aí está, verificaremos que o problema dele não é o fazer: edifícios, carros, tecnologia, construções, rodovias e todo tipo de produto do fazer humano está espalhado ao nosso redor mostrando a capacidade humana de realizar coisas. O que nos falta é o pensar mais profundo, aquele que antecede o projeto do fazer. Se nosso fazer é produto de nosso pensar, na medida em que dermos mais atenção ao pensar profundo, mais qualidade poderá sair para um futuro fazer, ou até a decisão, muitas vezes sábia, de não fazer nada. Havia um ditado que dizia: se tivesse dez horas para derrubar uma árvore, passaria oito

Imaginação e mobilidade*

(...) Pretende-se sempre que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ora, ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo, a faculdade de libertar-nos das imagens primeiras, de mudar as imagens.  (...) Graças ao imaginário, a imaginação é essencialmente aberta, evasiva. É ela, no psiquismo humano, a própria experiência da abertura, ela especifica experiência da novidade. (...) O poema é essencialmente uma aspiração a imagens novas. Corresponde à necessidade essencial de novidade que caracteriza o psiquismo humano. (...) O ser torna-se palavra. A palavra aparece no cimo psíquico do ser. A palavra se revela como o devir imediato do psiquismo humano.  (...) O sonhador deixa-se ir à deriva. Um verdadeiro poeta não se satisfaz com essa imaginação evasiva. Quer que a imaginação seja uma viagem. Cada poeta nos deve, pois, seu convite à viagem. Por esse convite recebemos, em nosso ser íntimo, um doce impulso, o impulso que nos abala,

Olhos do viajante, recorte do pensamento*

“A alma jamais pensa sem fantasia.” Aristóteles Quão estúpidos são os homens que creem que a vida é só viver; a vida é, também, renuncia, é deixar de viver momentaneamente para se dedicar ao não vivido. Viver não é só gozar a vida, é tudo, até mesmo morrer para viver melhor outro dia após outros dias.  Andei pensando esses últimos dias, enquanto viajava, lia, via coisas novas, coisas que já tinha visto mas meus olhos renovados já passaram pela negação da vida, questionava ao total abandono de um absoluto nas imagens. Tudo parece novo, mesmo que já tenha visto, imagino o novo diante dos olhos, o sentir desse espaço infinito por onde o pensar foge da imagem. Vejo outros mundos dentro do mundo em que me adentro a ver.  A vida do viajante é interessante porque nunca consegue descansar a cabeça, sempre quer olhar e pisar mais o todo de qualquer canto por onde passa. O viajante difere do turista, ele é quem conduz o roteiro, quase sempre aleatoriamente, mesmo que organizado,

Ah! Os Relógios*

Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidas em seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira. Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida: não cabe, a cada qual, uma porção. E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida - acaso lhes indaga que horas são... *Mário Quintana, in 'A Cor do Invisível'

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