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A que bebeu poesia*

A louca que passa Deixou na vidraça Um olhar que no fundo Tem muita desgraça. Será minha mãe A pobre da louca Que nada mais tendo Conserva a ternura? Será minha noiva Que louca ficou Depois que parti No barco da guerra? Será minha filha A louca do bairro Que a vida judiou Depois que morri?                   Ou foi a poesia Que a louca bebeu Que lhe deu esse ar De ser doutro mundo? *Luiz Guilherme do Prado Veppo

Poéticas*

brinco com as letras com as palavras sem regras sem normas vou rebelde transgredindo. há um impulso de expressar de compartilhar de libertar. sem ter que... vive em mim frida khalo hilda hilst clarice lispector. e, eu sem limite rompo agendamentos. teço as teias de minhas profundidades *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora, Poeta Juiz de Fora/MG

Ode I*

O poeta se dirige ao silêncio. E o diálogo, sua vida. — Eu vos amo a todos, ventos, rios, mares, eu vos amo, meus irmãos. Ao redor, nenhuma voz entrecorta sua solidão palpitante. Mas ele crê: de um pequeno murmúrio, tece ao menos um eco. Vida de poeta, no apelo de um brilho, no encontro de um reflexo. *Lupe Cotrim Garaude

Memória*

“Tom é palavra que presta serviços a mais de uma arte.” Herbert Read Eu sou antigo, muito antigo, quase uma pintura paleolítica, Uma imagem na pedra, bosquímane da África do Sul, Eu sou muito antigo, só não envelheci o suficiente, Eu sou tão antigo, existo antes do indivíduo, sou parte do coletivo. Atravessei os tempos, sou milenar, sou o risco da arte pagã, Vim de longe, sou de todos os lugares eu hoje só a memória pode falar. Vim do retrato, escalei o adorno da história, morri muitas vezes, Sou um traço tão antigo, as rugas não conseguem mostrar os tempos existentes em minha carcaça de bronze. Sou mais antigo que o sentido das coisas, dentro de mim existe o tempo, existe uma máquina de som cromático. O Outro, a curva do olhar que se perde na abstração da forma, sou mais antigo do que isso, o pólen das estações. O Outro, o que existe é único – do primitivo não vivi mais do que vivo hoje, Envelheço nos conceitos, nas cores e nos dias. Sou muito antigo

Não te Arruínes, Alma, Enriquece*

Centro da minha terra pecadora, alma gasta da própria rebeldia, porque tremes lá dentro se por fora vais caiando as paredes de alegria? Para quê tanto luxo na morada arruinada, arrendada a curto prazo? Herdam de ti os vermes? Na jornada do corpo te consomes ao acaso? Não te arruínes, alma, enriquece: vende as horas de escória e desperdício e compra a eternidade que mereces, sem piedade do servo ao teu serviço. Devora a Morte e o que de nós terá, que morta a Morte nada morrerá. *William Shakespeare, in "Sonetos"

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