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Poéticas*

Sabia muito bem Desde o começo Dos perigos que corria Até havia lhe pedido Em um bilhete escrito Que não me deixasses Conhecer sua alma. Avançamos porém os sinais. Éramos duas crianças Brincávamos e sorríamos Me ofereceste teus olhinhos Por onde entrei E me perdi E fiquei E descansei. Paguei por ter te olhado a olho nu. Eu já sabia Que fecharias as portas De entrada e saída Então te levei para morar comigo Tenho agora duas almas dentro de mim. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Românticos*

Românticos são poucos Românticos são loucos desvairados Que querem ser o outro Que pensam que o outro é o paraíso Românticos são lindos Românticos são limpos e pirados Que choram com baladas Que amam sem vergonha e sem juízo São tipos populares Que vivem pelos bares E mesmo certos vão pedir perdão Que passam a noite em claro Conhecem o gosto raro De amar sem medo de outra desilusão Romântico É uma espécie em extinção Romântico É uma espécie em extinção Românticos são poucos Românticos são loucos desvairados Que querem ser o outro Que pensam que o outro é o paraíso Românticos são lindos Românticos são limpos e pirados Que choram com baladas Que amam sem vergonha e sem juízo São tipos populares Que vivem pelos bares E mesmo certos vão pedir perdão Que passam a noite em claro Conhecem o gosto raro De amar sem medo de outra desilusão Romântico É uma espécie em extinção Romântico É uma espécie em extinç

Pensar ou não pensar ?*

Como seres humanos, nada nos é dado automaticamente. Temos que desenvolver cada aspecto de nosso ser para nos mantermos vivos. Inclusive pensar. Pensar é um ato de escolha. O cérebro nos é concedido, mas não seu conteúdo. Temos as ferramentas, mas podemos evadir do processo de pensar. Não nos é dado por instinto o conhecimento das coisas e nem de nós mesmos. Há um esforço que temos que decidir se vamos realizar ou não: pensar ou não pensar? Claro que há vários sentidos em que podemos falar do pensar. O que proponho aqui é um pensar ativo, não uma simples apreensão de algo. E também não um processo isolado. Um pensar dialético das coisas do mundo com nós mesmos e com os outros.  Pensar seria entrar em diálogo com nós mesmos sobre as coisas do mundo. Um pensar sobre as coisas sem refletir por que ou como as definimos de uma ou outra maneira, não é pensar. É fazer uma colagem da primeira impressão para um espaço definido para, exatamente, não mais precisar pensar sobre as coi

Carta*

Meu caro poeta, Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola traçada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súdito

Espiritualidade para Poetas*

“Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira” (Carlos Drummond de Andrade). A cada manhã renasço com as esperanças que florescem anônimas no jardim dos meus dias. A beleza não precisa de propaganda quando a plateia que contempla sua delicadeza oferece aplausos com as sutilezas do olhar. Em cada canto de minha casa está um pouco daquilo que sou. Na cozinha os aromas do tempo e o perfume dos mais variados temperos costuram nas tramas da vida o presente do passado. Sobrevivo de memórias que a cada dia são sempre novas. Carrego em minha alma as marcas do tempo da vida bem vivida. E por vezes sofrida… Na minha pequena biblioteca os amigos das noites infinitas de solidão. Nunca obtive o autografo de um autor famoso, mais conheço a alma de cada um deles melhor que os seus amigos de outros tempos. Minha história tem um pouco de Guimarães e de Drummond. Meus sonhos se confundem com os de Pe

A música de cada um*

Há no coração de cada um de nós, por essência, uma música que é somente nossa, inigualável, intransferível. Por várias razões, conhecidas ou não, às vezes aprendemos desde muito cedo a diminuir, gradativamente, o seu volume e inventar ruídos que nada tem a ver com ela para nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros.  Até que chega um tempo em que desaprendemos a entrar no nosso próprio coração para ouvi-la e, porque não passeamos mais nele, porque não a ouvimos mais, não é raro esquecermos completamente que ela existe.  Mas, como toda ignorância, toda indiferença, toda confusão, não são capazes de apagar a beleza original dessa partitura impressa na alma, ela continua tocando, ainda que de forma imperceptível. Continua tocando, à espera do dia em que, de novo ou pela primeira vez, possamos aumentar o seu volume, trazê-la à tona, compartilhá-la. Continua tocando, e alguns são capazes de escutá-la mesmo quando não conseguimos. Todo encontro genuíno de amor é também

Olhos do viajante, recorte do pensamento*

“A alma jamais pensa sem fantasia.” Aristóteles Quão estúpidos são os homens que creem que a vida é só viver; a vida é, também, renuncia, é deixar de viver momentaneamente para se dedicar ao não vivido. Viver não é só gozar a vida, é tudo, até mesmo morrer para viver melhor outro dia após outros dias. Andei pensando esses últimos dias, enquanto viajava, lia, via coisas novas, coisas que já tinha visto mas meus olhos renovados já passaram pela negação da vida, questionava ao total abandono de um absoluto nas imagens. Tudo parece novo, mesmo que já tenha visto, imagino o novo diante dos olhos, o sentir desse espaço infinito por onde o pensar foge da imagem. Vejo outros mundos dentro do mundo em que me adentro a ver. A vida do viajante é interessante porque nunca consegue descansar a cabeça, sempre quer olhar e pisar mais o todo de qualquer canto por onde passa. O viajante difere do turista, ele é quem conduz o roteiro, quase sempre aleatoriamente, mesmo que organizad

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