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A Palavra*

Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol, dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a. *Carlos Drummond de Andrade

No início era o tempo*

E o tempo habitava o vácuo E pairava sobre o caos. Existe o tempo das chuvas Como o de hoje Onde se escondeu o sol? Existe o tempo urgente Parece não poder ser adiado Não dou procuração em branco ao tempo Para decidir meu abraço... Existe ainda o tempo Que precisa de tempo Como o tempo do luto De perdas sem volta Deito-me inteiro nos braços deste tempo Para curar o que não tem jeito.... Existe o tempo de se escrever Tempo de se ler Tempo de se rabiscar E tempo de se apagar. E tão generoso é o tempo Que nos dá tempo de se reescrever.... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Auto-Retrato*

No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco! *Mário Quintana

Wittgenstein*

                                                                                                    Ludwig Wittgenstein fundamenta a linguagem como abertura, ressalta inexistir um único modelo discursivo. Seu esboço de saber interminável acolhe a descrição pessoal como algo insubstituível. Um pensamento de anúncio da expressividade como o subsolo da singularidade. Os usos diferenciados dos termos agendados no intelecto encontram, na historicidade do sujeito, sua fonte de inspiração. Essa pronuncia, sob muitos aspectos, compartilha a trajetória de sua movimentação existencial. A expressividade se movimenta num viés de deslocamento na direção da autoria.     Um vocabulário assim descrito aparece como o esboço de uma forma de vida. Para compreender o significado de um discurso, é necessário saber a intenção do autor. Esse endereço existencial onde nasce e se desenvolve, constitui a pessoa como inédita. A filosofia analítica, na reflexão de Wittgenstein, se qualifica como

A Realidade Transfigurada*

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.  O que te direi? te direi os instantes.  Exorbito-me e só então é que existo e de um modo febril. Que febre: conseguirei um dia parar de viver? ai de mim, que tanto morro. Sigo o tortuoso caminho das raízes rebentando a terra, tenho por dom a paixão, na queimada de tronco seco contorço-me às labaredas.  A duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios. Para me interpretar e formular-me preciso de novos sinais e articulações novas em formas que se localizem aquém e além de minha história humana. Transfiguro a realidade e então outra realidade, sonhadora e sonâmbula, me cria.  E eu inteira rolo e à medida que rolo no chão vou me acrescentando em folhas, eu, obra anônima de uma realidad

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