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A música é um livro, o livro é um filme*

“Meu amor, acredite Que se pode crescer assim pra nós Uma flor sem limite É somente por que eu trago a vida aqui na voz.” Caetano Veloso (Minha voz, minha vida)   A música é a expressão mais afinada da linguagem num país que tem a tradição cultural em sua musicalidade como uma das marcas mais profundas. A geração que me marcou, não esquecendo toda a história da música, foi ao tempo, a geração que me fez romper com um certo tipo de passado. Um necessário fim chegou ao fim quando ouvi pele primeira vez alguns, uns, Caetano, Gil e Chico. Quantas coisas se pode fazer na vida, nobre ou simples, as do cotidiano ou as da alta-cultura? A linguagem nos leva a todos os lados da vida, a música é o impulso mais cru, sua natureza vem do ventre, do berço, vem das casas, das ruas, dos amigos, dos amores. Só a música nos inspira mais que a leitura. Quem um dia já não saiu do livro para música, do filme para música como se as imagens fosse o clarão do mundo num roteiro para vida? N

Toma lá, da cá*

Por que mulheres estão se anulando, representando serem perfeitas, mais do que são capazes? A humanidade muito teria a ganhar se dedicasse ao amor tempo e dinheiro para estudo e compreensão de como agimos na falta dele ou quando estamos abastecidos desse sentimento que plenifica, até quando nos faz sofrer. A verdade é que a ciência ainda não admita a contento, comprovação, veracidade, validade ao estudo do amor e do comportamento que abrange as questões da sexualidade e o que passa no âmbito neural, psicológico, cognitivo do homem que ama e que fica ainda, passível do que é julgado ridículo e sem importância sobre as questões consideradas relevantes para a humanidade, como armas de guerra, conforto material exagerado, beleza física a nível dos deuses. É possível que o erro ocorra exatamente aí, a meu ver. Pouco interesse em atender a essa necessidade que considero básica e pouco interesse em entender como ela se processa dentro de nós. Algumas teorias são lançadas em o

A Palavra*

Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol, dentro da qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a. *Carlos Drummond de Andrade

No início era o tempo*

E o tempo habitava o vácuo E pairava sobre o caos. Existe o tempo das chuvas Como o de hoje Onde se escondeu o sol? Existe o tempo urgente Parece não poder ser adiado Não dou procuração em branco ao tempo Para decidir meu abraço... Existe ainda o tempo Que precisa de tempo Como o tempo do luto De perdas sem volta Deito-me inteiro nos braços deste tempo Para curar o que não tem jeito.... Existe o tempo de se escrever Tempo de se ler Tempo de se rabiscar E tempo de se apagar. E tão generoso é o tempo Que nos dá tempo de se reescrever.... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Auto-Retrato*

No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore... às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão... e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança, no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco! *Mário Quintana

Wittgenstein*

                                                                                                    Ludwig Wittgenstein fundamenta a linguagem como abertura, ressalta inexistir um único modelo discursivo. Seu esboço de saber interminável acolhe a descrição pessoal como algo insubstituível. Um pensamento de anúncio da expressividade como o subsolo da singularidade. Os usos diferenciados dos termos agendados no intelecto encontram, na historicidade do sujeito, sua fonte de inspiração. Essa pronuncia, sob muitos aspectos, compartilha a trajetória de sua movimentação existencial. A expressividade se movimenta num viés de deslocamento na direção da autoria.     Um vocabulário assim descrito aparece como o esboço de uma forma de vida. Para compreender o significado de um discurso, é necessário saber a intenção do autor. Esse endereço existencial onde nasce e se desenvolve, constitui a pessoa como inédita. A filosofia analítica, na reflexão de Wittgenstein, se qualifica como

A Realidade Transfigurada*

Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.  O que te direi? te direi os instantes.  Exorbito-me e só então é que existo e de um modo febril. Que febre: conseguirei um dia parar de viver? ai de mim, que tanto morro. Sigo o tortuoso caminho das raízes rebentando a terra, tenho por dom a paixão, na queimada de tronco seco contorço-me às labaredas.  A duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios. Para me interpretar e formular-me preciso de novos sinais e articulações novas em formas que se localizem aquém e além de minha história humana. Transfiguro a realidade e então outra realidade, sonhadora e sonâmbula, me cria.  E eu inteira rolo e à medida que rolo no chão vou me acrescentando em folhas, eu, obra anônima de uma realidad

Psiquiatria e identidade filosófica*

O conceito de identidade é coisa séria na filosofia. Tem consequências em várias áreas como a metafísica, a epistemologia, a relação mente-corpo, para falar das mais destacadas. Quando Aristóteles, no livro V da Metafísica, define identidade como uma unidade do ser, está se referindo a uma identidade, digamos, forte. Algo idêntico a si mesmo não pode ser de outra forma e nem outro ser pode ser idêntico a ele. Mas, escreve ele, há identidade mais fraca, digamos assim. Coisas que são diversas em seu ser podem ser idênticas em propriedades ou aspectos. Qualidades, atributos e afecções podem ser idênticas em seres diferentes, assim como, por exemplo, todo ser humano é bípede mesmo sendo seres não idênticos de modo forte, pois cada indivíduo é um ser em si. O mito da doença mental atua implicitamente no conceito de identidade. E quer atuar no modo forte desse conceito. Tenta nos fazer crer que atributos do ser têm identidade forte entre eles. A identidade forte, assumida como u

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