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Instinto de Rebanho*

Em toda a parte onde encontramos uma moral encontramos uma avaliação e uma classificação hierárquica dos instintos e dos atos humanos.  Essas classificações e essas avaliações são sempre a expressão das necessidades de uma comunidade, de um rebanho: é aquilo que aproveita ao rebanho, aquilo que lhe é útil em primeiro lugar - e em segundo e em terceiro -, que serve também de medida suprema do valor de qualquer indivíduo.  A moral ensina a este a ser função do rebanho, a só atribuir valor em função deste rebanho. Variando muito as condições de conservação de uma comunidade para outra, daí resultam morais muito diferentes; e, se considerarmos todas as transformações essenciais que os rebanhos e as comunidades, os Estados e as sociedades são ainda chamados a sofrer, pode-se profetizar que haverá ainda morais muito divergentes. A moralidade é o instinto gregário no indivíduo. *Friedrich Nietzsche

Escritas e reescritas*

quando chega a noite, o silêncio convida a quietude. nem as estrelas podem contar os segredos da alma. fica o gosto do vivido além do desejo de mais um dia. tudo vira história no já passou e o vir-a-ser será tecido. quem escreverá o conto será nossa ação. o resto é agora, no agora, do agora... *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Poeta. Juiz de Fora/MG

Meu deus, são estrelas demais!*

Imagine-se cercado de estrelas. Ali do lado, ao alcance da mão É fácil enlouquecer durante a semana de cinema brasileiro, em Gra­mado. Sem falar no choque cultural com a cidade europeizada, sem nordestinos nem mendigos; sem falar na estranha neblina que desce de repente do pico das serras, a qualquer hora do dia, para ir embora sem o menor aviso; sem falar no ar tão limpo e na luz tão clara que chegam a doer nos pulmões e nos olhos acostumados ao cinza urbano. Mesmo sem considerar isso tudo ajudando no processo de loucura— há as estrelas. E estrelas, você sabe, não são de carne e osso. Pelo menos no meu coração de guri criado no meio dos campos da fronteira com a Argen­tina, vendo estrelas só no céu — o céu do Rio Grande é o mais belo do Brasil, sem bairrismos — e nas revistas. As estrelas das revistas mais intocáveis até do que as do céu, que numa determinada época do ve­rão costumavam desabar aos montes em direção ao horizonte. Fazía­mos pedidos. As outras, as da terra, n

Majora***

“Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre”                               José Eduardo Agualusa Certos universos nos surpreendem, mais ou menos como a máxima de achar que de onde menos se espera, surgem preciosidades, ou, pelo menos, algo se mexe no espírito meio adormecido. Foi assim com a lua de Majora, prestes a cair, caso o tempo não se incumba de encontrar soluções favoráveis aos destinos incertos de cada um de seus habitantes (com seus dramas e seus sonhos inacabados). O que parecia ser uma simples brincadeira revelou-se uma reflexão curiosa sobre percepção e valores. No interior deste belo e enigmático ambiente, crianças brincam a desafiar dilemas e nos convidam a tirar nossas máscaras, expor nossas questões e nos revelarmos. As crianças indagam: “Seus amigos, que tipo de pessoas eles são? E essas pessoas te veem como um amigo?” Amigos... são como c

Jürgen Habermas – o pensador no século XXI*

Hoje é o aniversário de Jürgen Habermas, nasceu em Düsseldorf ‒ Alemanha ‒ 18 de junho de 1929. Filósofo e Sociólogo, um dos grandes representantes da Teoria Crítica, soube como poucos atualizar o legado de Marx, de Adorno, Horkheimer e Marcuse. Atuante em questões de seu tempo, chegou neste século com sua obra em plena forma, atualíssimo. Conseguiu trazer temas tão importantes para as Ciências Humanas com uma renovação criativa, como por exemplo, a Teoria do Agir Comunicativo. O Mundo da Vida causou uma tempestade, o autor ganhou interlocutores críticos e, também, atraiu vorazes inimigos nessa esteira teórica que ele nos presenteou em livros. É isso que se quer de um pensador, a potencialidade da obra é, também, a luz que reflete e reflexiona, como pode ser a luz a ofuscar ideias pretensamente únicas e definitivas. Até hoje, Habermas, é um indicativo de que o pensamento crítico ainda vive. O pensador da emancipação, crítico dos exageros do cientificismo e da especiali

Meu canteiro de Flores*

Juro como fiz tudo direitinho Preparei bem o terreno Afofei a terra. Fiz carinho Deitei as sementes. Uma por uma Grãozinho por grãozinho Aguei com cuidado Tentei fazer tudo direitinho. Protegi do sol muito forte Fiz guarda-chuva contra temporais Ao dormir, cansado, conferia meu canteiro Cedinho, pela manhã, espiava meu canteiro Pela janelinha do meu quarto Esperando algum brotinho Deu nada não... Deu nada não Desconfio que a semente seja transgênica Faz mal nada, não Vou refazer tudo de novo: Preparar o terreno Afofar a terra Deitar a semente Aguar com cuidado Velar dia e noite Montar guarda se preciso for Até que o brotinho apareça... Depois vou contar pra todo mundo... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

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