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Espaços vazios*

Não vem a poesia Quando a alma entristece Ou vem triste A dor é dor mesmo Fria como este inverno Pedra áspera... O que deveria acontecer Não acontece Consome O que deveria ser consumado E se sofre Tudo sofre Sofre ele E sofre ela... Falta alguma coisa Para ele Ele sabe: É ela E falta alguma coisa Para ela: É ele E ela não sabe Ou não quer saber. Perambulam por aí Ele e ela Fazendo coisas erradas... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Existencialismo da Imagem Nua*

“O olhar do outro afeta o meu de um índice de cegueira. Mas a cegueira provoca a imaginação.” José Gil Eis a questão que me envolve às vezes na reflexão, se existe existencialista pós-moderno, depois, em outra linha do pensar, digo a mim com a convicção própria de um homem do século XXI, se é que existe mesmo, é o pós-moderno existencialista. Se existisse ainda existencialista, certamente não seria pós-moderno, seria um herdeiro do marxismo, seria um saudoso homem diante de questões pós-cartesianas, dentro de um embate profundo sobre a objetivação do sujeito. Só que isso passou. Se hoje se fala de existencialismo porque existe um resquício sartreano na linguagem que atravessou o século XX, e permanece no corpo de muito pós-moderno existencialista a extensão do tempo que se metamorfoseou, deixou de ter um único ideal. Tenho o pensamento no pêndulo do tempo, nas ruas de Paris, assim como tenho o olhar na imagem da história e disso posso ter uma certeza ‒ não a verd

Viver o Hoje*

Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o te

Instinto de Rebanho*

Em toda a parte onde encontramos uma moral encontramos uma avaliação e uma classificação hierárquica dos instintos e dos atos humanos.  Essas classificações e essas avaliações são sempre a expressão das necessidades de uma comunidade, de um rebanho: é aquilo que aproveita ao rebanho, aquilo que lhe é útil em primeiro lugar - e em segundo e em terceiro -, que serve também de medida suprema do valor de qualquer indivíduo.  A moral ensina a este a ser função do rebanho, a só atribuir valor em função deste rebanho. Variando muito as condições de conservação de uma comunidade para outra, daí resultam morais muito diferentes; e, se considerarmos todas as transformações essenciais que os rebanhos e as comunidades, os Estados e as sociedades são ainda chamados a sofrer, pode-se profetizar que haverá ainda morais muito divergentes. A moralidade é o instinto gregário no indivíduo. *Friedrich Nietzsche

Escritas e reescritas*

quando chega a noite, o silêncio convida a quietude. nem as estrelas podem contar os segredos da alma. fica o gosto do vivido além do desejo de mais um dia. tudo vira história no já passou e o vir-a-ser será tecido. quem escreverá o conto será nossa ação. o resto é agora, no agora, do agora... *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Poeta. Juiz de Fora/MG

Meu deus, são estrelas demais!*

Imagine-se cercado de estrelas. Ali do lado, ao alcance da mão É fácil enlouquecer durante a semana de cinema brasileiro, em Gra­mado. Sem falar no choque cultural com a cidade europeizada, sem nordestinos nem mendigos; sem falar na estranha neblina que desce de repente do pico das serras, a qualquer hora do dia, para ir embora sem o menor aviso; sem falar no ar tão limpo e na luz tão clara que chegam a doer nos pulmões e nos olhos acostumados ao cinza urbano. Mesmo sem considerar isso tudo ajudando no processo de loucura— há as estrelas. E estrelas, você sabe, não são de carne e osso. Pelo menos no meu coração de guri criado no meio dos campos da fronteira com a Argen­tina, vendo estrelas só no céu — o céu do Rio Grande é o mais belo do Brasil, sem bairrismos — e nas revistas. As estrelas das revistas mais intocáveis até do que as do céu, que numa determinada época do ve­rão costumavam desabar aos montes em direção ao horizonte. Fazía­mos pedidos. As outras, as da terra, n

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