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Poema de sete faces*

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.   O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.   O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos , raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode.   Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.   Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.   Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. *Carlos Drummond de Andrade

As linguagens da terapia*

                                          O espaço compartilhável da clínica aprecia se constituir num acordo de singularidades. Um desses lugares onde a interseção dos personagens pode acontecer. O veículo capaz de transcrever essa objetividade fugaz é a linguagem. As palavras, ainda quando silenciadas, convidam, pela atualização discursiva, a ingressar nos inéditos cenários.    Uma pronúncia das vontades costuma elencar o mundo como representação da pessoa. As palavras escolhidas para dizer, pensar, imaginar, constituem um aprendizado fundamental a atividade clínica do Filósofo. A aventura pessoal descrita na história de vida se utiliza de códigos linguísticos próprios.  Essa página em branco, inicialmente, rascunha-se em borrões. Seu vocabulário estranho, vai fazendo sentido na sustentação dos encontros, na qualificação da relação, no aprendizado da nova língua. O movimento introspectivo compartilhado na hora-sessão, convida a reviver eventos passados pelo viés atual.

Envelhecer*

“Quando eu fico, como hoje, mexendo nesses velhos cartões-postais, percebo que de repente tudo se misturou, se confundiu.” Danilo Kiš A extensão dos meus propósitos por linhas que escrevo a vida, meu nome. É por acrescentar que faço o viver sem deixar de ler o todo do meu nome, escrevo meu tempo.  É como se eu tivesse saído do minimalismo da juventude, e nesse tempo ter aprendido a usar todo o meu corpo em nome por extenso para filosofar sobre o umbigo.  O meu nome não esquece a vida, alia o Nada ao Tudo, deixa para trás a dor e reinventa as cores. Compõe a música imaginária em todas as letras para escrever no muro o nome do nome.  Meu nome não teme o fim, rompe a linha da vida, avança para além do pequeno lugar rumo ao desconhecido.  Meu nome é um viajante que precisa soletrar para compreender sua língua amolada em nomes marcados no fio metal do tempo. *Luis Antônio Paim Gomes 

Sobre o amor*

Amor, então, também, acaba? Não, que eu saiba. O que eu sei é que se transforma numa matéria-prima que a vida se encarrega de transformar em raiva. Ou em rima. *Paulo Leminski

Tempo pra renascer*

Vou contar-me por "estórias"... Sou ansioso, desde menino Parece que nasci atrasado Andei atrasado Falei atrasado Amei pouco e atrasado Vou morrer atrasado. Sou ansioso Agora tenho pressa Minh'alma vê mais coisas Que minha mão escreve Minha boca fala mais Que meu pensamento pensa. Minha imaginação Não copia meu pensamento Não dou carta em branco ao tempo Não assino procuração em branco para amores. Agora vou inventar "estórias" imaginárias Para fazê-las acontecer Amanhã Ou depois Ou depois... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Ainda existem almas para as quais o amor é o contato de duas poesias, a fusão de dois devaneios." "(...) como pode um homem, apesar da vida, tornar-se poeta ?" "(...) ouvindo certas palavras, como a criança ouve o mar numa concha, um sonhador de palavras escuta os rumores de um mundo de sonhos." "Aliás, por que existir, já que sonhamos ?" "Ver e mostrar estão fenomenologicamente em violenta antítese." "Não é também no devaneio que o homem se mostra mais fiel a si mesmo ?" "Não saberíamos, sem os poetas, encontrar complementos diretos do nosso cogito de sonhador. Nem todos os objetos do mundo estão disponíveis para devaneios poéticos. Mas, assim que um poeta escolheu o seu objeto, o próprio objeto muda de ser. É promovido à condição de poético." "Que importam para nós, filósofo do sonho, os desmentidos do homem que reencontra, após o sonho, os objetos e os homens ? O devaneio foi u

Alimento do amor*

Em minha mão Mais que alimento Te dou amor Em minha mão Toda ternura deste amanhecer Te dou Em minha mão Toda possibilidade infinita De voar e livre ser Vá e semeie Voe longe Meu amor Pois, amor só dura Em liberdade! *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

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