Pular para o conteúdo principal

Postagens

Vita Nuova*

Se ao mesmo gozo antigo me convidas, Com esses mesmos olhos abrasados, Mata a recordação das horas idas, Das horas que vivemos apartados! Não me fales das lágrimas perdidas, Não me fales dos beijos dissipados! Há numa vida humana cem mil vidas, Cabem num coração cem mil pecados! Amo-te! A febre, que supunhas morta, Revive. Esquece o meu passado, louca! Que importa a vida que passou? Que importa, Se inda te amo, depois de amores tantos, E inda tenho, nos olhos e na boca, Novas fontes de beijos e de prantos?! *Olavo Bilac

E foi o segundo dia....*

Às vezes o pensamento se nega a pensar. O pensamento anda devagar algumas vezes. Flutua. Se arrasta. É que na Feira do Livro tudo deve estar guardado na memória. Livreiros verdadeiros se conhecem, mesmo, na Feira do Livro. Você precisa ter uma livraria inteira na memória. Isto não me preocupa. Sei que não faz mal. Pelo contrário, faz bem. Sei, sem consulta médica, que não sofrerei de Alzheimer... Mas. às vezes, o cansaço físico e mental se juntam. E você se sente lento como uma lesma. A coisa anda a passos de tartaruga. Ou se nega a andar... Atendo uma senhora simpática. Na hora de alcançar-lhe o livro e o troco um senhor se apresenta para receber a sacola e o troco. E sai caminhando.  E a senhora continua parada a uns três metros de distância. S into-me acometido de algum erro e quase entro em desespero. Não sei se vou atrás do senhor. Ou se vou abraçar a senhora.  Olho para a senhora, ela percebe meu inocente desespero, sorri e fala: "Fique tranqui

Estão Todas as Verdades à Espera em Todas as Coisas*

Estão todas as verdades à espera em todas as coisas: não apressam o próprio nascimento nem a ele se opõem, não carecem do fórceps do obstetra, e para mim a menos significante é grande como todas. (Que pode haver de maior ou menor que um toque?) Sermões e lógicas jamais convencem o peso da noite cala bem mais fundo em minha alma. (...) *Walt Whitman
O que torna uma pessoa feliz jamais dependerá da quantidade e da qualidade das coisas que ela possui ou acumula; felicidade de fato não depende de ter o melhor de tudo. Fundamentalmente, ser feliz depende de poder ser o melhor que pudermos agora. E quanto mais despertarmos a capacidade de ser, mais plenos de paz e amor seremos. Em outras palavras, a grande sacada mesmo consiste em aprender cada vez mais a fazer o melhor que pudermos com tudo aquilo que temos nas mãos. Ou seja, felicidade é diretamente proporcional à sabedoria e nem mesmo desenhando didaticamente conseguiremos conscientizar pessoas ainda indispostas a transcender. Mas é preciso seguir com ternura tentando até conseguirmos fazer a nossa luz crescer ao ponto de iluminar também escuridões alheias. Até mesmo os solos mais férteis precisam de gestos de cuidado para fecundar qualquer semente. Afinal, felicidade e paz dependem demais de escolha própria, amor e autoconhecimento. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes

Valéry angustiado*

Leio em "Monsieur Teste", livro do genial Paul Valéry relançado, em edição ampliada, no ano de 1946, um ano após a morte do escritor: "Enfastiado de ter razão, de fazer o que tem sucesso, da eficiência dos procedimentos, tentar outra coisa". Na metade do século passado, Valéry ataca, assim, alguns dos valores mais divinizados em nosso século 21: o império da razão, a necessidade do sucesso a qualquer preço, o endeusamento da eficiência e do desempenho. A idolatria da vitória. Não vacila: diz. Não se poupa: expõe-se. Foi também um crítico de grande coragem intelectual. Em "Monsieur Teste", um dos livros mais importantes de Valéry (1871-1945), o filósofo se dedica a pensar o pensamento. Seu objeto não é o mundo, não está interessado em refletir a respeito das coisas a seu redor. Interessa-se, apenas, por sua própria maneira de pensar. Na edição ampliada que tenho nas mãos, estão incluídos fragmentos e anotações que Valéry pretendia acrescentar a seu

O que há para além dos portões da nossa vida ? *

Quantas vezes nos deparamos com limites, com muros que nos cercam e que não nos permitem ver para além da estrada histórica para a qual nos encaminhamos ao longo da vida? No nosso patamar existencial esse fenômeno costuma ser muito comum, o fato de não podermos ver para além da nossa trajetória, um horizonte fechado, limitado, onde o futuro se torna apenas duas ou três possibilidades, nos dando concomitantemente a impressão de um frágil controle regado à limitação. Às vezes ouvimos boas novas que parecem ser mágicas, distantes da nossa existência. Coisas como um horizonte infinito, como uma vida, vasta por onde possamos transitar e com seletividade vivenciar aquilo que verdadeiramente tem a ver conosco, deixando o restante para trás. Uma existência considerada utópica para a maioria. Para muitas pessoas o horizonte da vida é murado, é fechado, não há luz para além dele, não há nada... São cegos existenciais que somente enxergam aquilo que está ao seu limiar, sua periferia

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"Escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou vivida." "Não há linha reta, nem nas coisas nem na linguagem. A sintaxe é o conjunto dos desvios necessários criados a cada vez para revelar a vida nas coisas." "A interioridade não pára de nos escavar a nós mesmos, de nos cindir a nós mesmos, de nos duplicar, ainda que nossa unidade permaneça." "(...) a mentira não pode ser pensada como universal, visto implicar pelo menos algumas pessoas, que nela acreditam e que não mentem ao acreditar." "Félix Guattari definiu bem, a esse respeito, uma esquizoanálise que se opõe à psicanálise: 'Os lapsos, os atos falhos, os sintomas são como pássaros que batem com o bico na janela. Não se trata de interpretá-los. Trata-se antes de detectar sua trajetória para ver se podem servir de indicadores de novos universos de referência suscetíveis de adquirirem uma consciênc

Visitas