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A palavra inesperada*

                                                      Uma suspeita de imensidão aprecia os deslizes da palavra refugiada na palavra. Ponto de fuga em subterfúgios de especulação, ao exibir renúncias de ser previsível, amplia o mundo das possibilidades.      A admissão compreensiva desses desvãos se oferece no acolhimento de um talvez. Uma de suas características é o descompromisso em sustentar verdades a qualquer preço. Seu estado de espírito sobressaltado qualifica deslocamentos pela arquitetura subjetiva de um mundo fatiado. Aqui o vislumbre repentino das pequenas coisas permite o acesso às zonas de exclusão.    Por esses episódios a perder de vista, um teor extemporâneo pode desconstruir as fronteiras conhecidas. Seu saber ameaça os fundamentos conhecidos daquilo que se tinha definitivo. Nesse viés de aparência deslocada anuncia novos horizontes, esparrama indícios de originalidade para se fazer ciência.  O discurso imprevisível onde ela se esboça, procura inseri-la

Philip Roth no cartório*

          Algumas palavras, difíceis palavras, do escritor americano Philip Roth, que li em  um post de Guilherme Freitas no "Prosa On Line", não cessam de me incomodar. Elas foram transcritas de uma entrevista que o escritor concedeu à revista francesa "Les  Inrockuptibles", em outubro passado, quando anunciou o fim de sua carreira literária. Diz Roth, de 79 anos: "Escrever é estar sempre errado. Todos os nossos rabiscos contam a  história de nossos fracassos".           Sábias, preciosas palavras para um mundo em que não apenas muitos escritores, mas intelectuais, políticos, gurus, doutores, cientistas, especialistas de todas as  áreas, agitam enfaticamente suas verdades. Não é qualquer um que consegue, como Roth, admitir (aceitar) a insuficiência dos próprios pensamentos. Não é qualquer um que sustenta, com coragem, os próprios (e estreitos) limites. No entanto, as duras palavras de Roth, ao delimitarem a potência humana, tornam a vida mais ace

Papéis Existenciais*

Perguntaram-me:- Você é assim mesmo? Ri e respondi: - Sou em processo! Imperfeita! Mulher, mãe... Amante dos livros, do cuidar da casa, do Ser Terapeuta, dos múltiplos lugares do mundo, da quietude da noite, do aconchego amigo. Cada dia um milagre, por isto sou gratidão. Faxineira, cozinheira, costureira, escritora... Múltipla na vastidão de ser eu mesma, singular. Angustiadamente feliz. Triste com o caos do mundo. Feliz em ser como sou, parte deste universo infinito. - O que me falta? - Ainda desapegar de muitas coisas! "Difícil é ser simples!" Vou Zen...do! E basta! *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"(...) o conteúdo que designamos como o 'agora' nada mais é do que a fronteira eternamente fluida que separa o passado do futuro." "A concepção mítica da linguagem, que em toda parte precede a filosófica, caracteriza-se sempre por esta diferença entre a palavra e coisa. Para ela, a essência de cada coisa está contida no seu nome. Efeitos mágicos se vinculam de maneira imediata à palavra e à sua posse." "(...) mesmo a ambiguidade inerente à palavra não constitui uma mera deficiência da linguagem, e sim um momento essencial e positivo da força expressiva que nela reside. Porque nesta ambiguidade se evidencia que os limites da palavra, tais como os do próprio ser, não são rígidos, e sim fluidos." "Toda realidade - tanto a espiritual quanto a física - é, de acordo com a sua essência, uma realidade concreta, individualmente determinada. Por isso, a fim de apreendê-la, é preciso que nos libertemos da universalidade falsa, enganosa e &

Imagens do Pensar*

“O imaginário e o real tornam-se indiscerníveis” Gilles Deleuze “Quando tudo foi dito, quando a cena maior parece terminada, há o que vem depois.” Michelangelo Antonioni Minha, a letra que vem do pensamento, A roupa, visto – a música, sinto na pele. Transfiguro em tua boca, triste é viver neste buraco, A solidão é o começo da liberdade, me faz cantarolar, Acordar noturno é o começo do tempo que se despede. A narrativa em filigranas discorre no tempo, Folhas perdem a força, sequência do pensar disperso, O presente está depois da imagem, em signos, na nuvem. O movimento é de Antonioni, reúne os tempos, O vazio mescla com o tempo morto. O que está aí, feito está. O que foi dito está aqui. Presa do tempo, o homem, inventa o que vem depois, O Imaginário e o Real é o café da manhã à linguagem da vida. O mundo é feito não mais de heróis,  os excessos perderam  para os subjetivos obsedantes das Redes. * Luis Antônio Paim Gomes Professor. E

Fragmentos filosóficos, poéticos, delirantes*

"Assim, como disse, tenho apenas minhas perplexidades a lhes oferecer. Estou perto dos setenta. Dediquei a maior parte de minha vida à literatura, e só posso lhes oferecer dúvidas." "E a vida, tenho certeza, é feita de poesia. A poesia não é alheia - a poesia, como vemos, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante."  "Creio que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas." "(...) Berkeley escreveu que o gosto da maçã não estava nem na própria maçã - a maçã não pode ter gosto por si mesma - nem na boca de quem come. É preciso um contato entre elas." "(...) gostaria de dizer que cometemos um erro bastante comum ao pensar que ignoramos algo por sermos incapazes de defini-lo." "Os homens buscaram parentesco com os derrotados tr

Entre a Vida, o Amor e a Morte*

Trigêmeas que andam de mãos dadas. Como falar de uma sem falar das outras... Tarde de bate papo informal sobre a morte, em Canoas. Francisco de Assis referia-se a morte como "minha irmã morte", em seus cânticos. Não me foi dado a liberdade de escolher viver. Outros fizeram esta escolha. Se esta liberdade tivesse me sido dada, poderia ainda escolher por não viver. Isto, porém, não me foi concedido. Minha existência, todavia, me foi dado fazê-la. Sou, de certa forma, o resultado daquilo que fizeram de mim, e o que eu fiz daquilo que fizeram de mim (parafraseando Sartre). Neste palco da vida, entre o meu nascimento e a minha morte, sou o meu ator insubstituível. A morte é, parece-me, a única certeza da qual não consigo me esquivar. Espreita-me, sorrateiramente, sem hora marcada para uma visita. Diante da morte nosso olhar volta-se sobre o passado (ou para o futuro? Talvez). Que ainda assim possa ser um olhar benevolente para reafirmar que a vida valeu a p

Soneto da Fidelidade*

De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa dizer do meu amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. *Vinicius de Morais

Ser*

Eu não sou, sou Eu, não ser o Ser é pesado, Sou alguém, no meio do deserto humano, Sou ninguém, em meio ao tempo: Todos. Não, dois, um Ser em alguém, sou único. Eu sou o que sou, alguém dentro do tempo, Fora do lado de dentro, sou o que me misturo. Eu sou a multidão, sou parte de um único, Sou o Ser que mira o corpo, sou as partes, O fragmento dentro de um só corpo. *Luis Antônio Paim Gomes Editor. Professor. Poeta. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

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