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Fragmentos filosóficos, delirantes*

"(...) Blanchot, por sua vez, nos fala de uma mensagem cujo conteúdo se modifica progressivamente ao longo do trajeto (...)" "(...) ninguém pode penetrar no universo dos sonhos se não está dormindo; da mesma forma, ninguém pode entrar no mundo fantástico se não se torna fantástico." "Se estou no avesso de um mundo avesso, tudo me parece direito. Portanto, se eu habitasse, eu mesmo fantástico, um mundo fantástico, não poderia de modo algum considerá-lo fantástico (...)" "Para rasgar os véus e trocar a quietude opaca do saber pelo espanto do não-saber é preciso um 'holocausto das palavras', esse holocausto que a poesia realiza de saída (...)" "O ponto de partida é o fato de que o homem nasce da terra: ele é 'engendrado pela lama'. Entendemos por isso que ele é o produto de uma das inumeráveis combinações possíveis dos elementos naturais." "Se uma sociedade filosofa, é porque 'há folga na en

A palavra horizonte*

                                                  Talvez sua maior virtude seja retratar o universo de eventos possíveis em cada um. O exercício de seus dons deriva das origens estruturais, da aplicabilidade, do teor discursivo a fundamentar novas vivências. Seu sentido pode ser cura, loucura, alento ou desilusão. Ao exibir uma estranha aptidão de transformar a pessoa naquilo que menciona, muitas vezes, ultrapassa o dado literal para traduzir-se. Ao dizer exilado de alguma coerência interna pode se desdobrar com a eficácia do agendamento bem colocado. As arquiteturas contraditórias reafirmam os deslizes de toda certeza. Parecem realizar escolhas ao ressoar dos movimentos da interioridade. Mesmo a competência narrativa não é capaz de aprisionar por inteiro esses desdobramentos da subjetividade no esboço da linguagem. A expressividade de cada pessoa, ao dizer para si mesma, menciona esse outro a se utilizar dela. Ao revezar a concepção de mundo entre o que é e como reapare

Devenir, devir*

Término de leitura de um livro de poemas não pode ser o ponto final. Também não pode ser a pacatez burguesa do ponto seguimento. Meta desejável: alcançar o ponto de ebulição. Morro e transformo-me. Leitor, eu te reproponho a legenda de Goethe: Morre e devém Morre e transforma-te.   *Waly Salomão

Oração do Filósofo Clínico*

Deus de amor e bondade iluminai minha vocação de Filósofo Clínico. Que a cada dia eu possa desempenhar minha missão com amor, sabedoria e respeito pelo ser humano. Dai-me um coração sensível, para que eu possa compreender o que nunca poderá ser expressado verbalmente. Iluminai o meu olhar para que eu possa ver além das aparências. Ajudai-me a ouvir o silêncio das palavras não pronunciadas. Livrai-me da tentação do pré-julgamento. Que cada partilhante que de mim se aproximar seja respeitado na sua singularidade. Libertai-me do desejo de querer moldar as pessoas segundo as minhas verdades. Tornai-me disponível para as dores e as alegrias de todos. Que cada ser humano que de mim se aproximar possa ir embora mais consciente da missão de amar sem reservas. Deus da Vida, ensinai-me todo dia a aprender com cada história partilhada, com cada lágrima derramada e com cada sorriso silencioso. Que eu seja para todos um reflexo do seu amor divino e humano.

Tarde de Maio*

Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos, assim te levo comigo, tarde de maio, quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra, outra chama, não perceptível, tão mais devastadora, surdamente lavrava sob meus traços cômicos, e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza sem fruto. Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva, colheita, fim do inimigo, não sei que portentos. Eu nada te peço a ti, tarde de maio, senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível, sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém que, precisamente, volve o rosto e passa… Outono é a estação em que ocorrem tais crises, e em maio, tantas vezes, morremos. Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera, já então espectrais sob o aveludado da c

A vida e o poema*

...e assim a flor abre a cada amanhecer trazendo sonhos para colher fazeres e as possibilidades infinitas ...e assim a vida floresce se torna poema para quem tece amores e coze obstáculos ... e assim Deus se distribui em milhões de orvalhos no fazer brilhar o Cris/Tao em nossos corações ...e assim vamos vivendo dia após dia em Graça apesar de todos apesares a observar estes floresceres. ... e assim vale dizer: Bom dia! Na eterna esperança de ver a vida brotar em paz a dissolver a guerra *Rosângela Xavier Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Coisa mais linda que existe (1968)*

Coisa linda neste mundo É sair por um segundo E te encontrar por aí Pra fazer festa ou comício Com você perto de mim Na cidade em que me perco Na praça em que me resolvo Na noite da noite escura É lindo ter junto ao corpo Ternura de um corpo manso Na noite da noite escura Coisa linda neste mundo É sair por um segundo E te encontrar por aí Pra fazer festa ou comício Com você perto de mim O apartamento, o jornal O pensamento, a navalha A sorte que o vento espalha Essa alegria, o perigo Eu quero tudo contigo Com você perto de mim Coisa linda neste mundo É sair por um segundo E te encontrar por aí Pra fazer festa ou comício A coisa mais linda que existe É ter você perto de mim *Torquato Neto

Lazarus*

Ele disse “Olha aqui, estou no céu, tenho cicatrizes que não podem ser vistas”. Ele é um visionário, um pássaro livre que voou para o céu. Migrou do mundo para o distante e profundo lugar, nos corações. Foi visto trocando de pele, de cabelo, de roupa, foi visto nas ruas de todas as cidades, nos cafés, nas redes, foi visto no caminho do mar, da noite, foi visto de carro atravessando a ponte, foi visto lendo um livro no aeroporto. Está marcado na parede com suas estrelas, sua última aparição, ainda hoje (sempre). *Luis Antônio Paim Gomes Filósofo. Professor. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Pequenos Robinsons em terra firme, somos todos, desse ponto de vista, heróis de romances que vagamos por mundos em construção, obrigados que estamos, para advir à existência no interior de nosso próprio texto, a fazer de nós também construtores de cenários, planejadores urbanos, geômetras, agrimensores, sinalizadores do espaço - e do tempo." "(...) Espécie mais raro, o segundo - o viajante disponível -, por sua vez, chega, ao contrário, livre de todo programa preciso. Não tem nenhuma transação para concluir, nenhuma cobiça a satisfazer, nenhuma ordem a estabelecer. Desejando-se inteiramente desimpedido, ele sequer se preocupou, antes de partir, de notar o que poderia haver 'para ver' ali onde ele vai chegar. na realidade, se ele se pôs a caminho numa bela manhã, foi mais ou menos de improviso (...)" "Ele não se instalará. Ele não se comportará como ocupante, nem por conta própria nem por conta de algum longínquo mandatário. Apenas passando

Contradição*

E então vestia-se de anjo Sabia exatamente o que queria Mas o que queria mesmo, nunca soube... Adorava a noite com suas sombras. Contudo temia os olhos do escuro. Seu dia era pesado. Á noite vestia-se de seu sorriso e se alegrava. Enchia-se de coragem. Reclamava do tempo e da sua lentidão. Sabia, todavia, que não havia outro jeito. O tempo era o melhor remédio para algumas dores. Então, dava tempo ao tempo. E o tempo lhe retribuía na mesma moeda. Amava a chuva e os dias nublados. Por aquilo que eles escondiam..Escrevia sobre aquilo que o tempo não mostrava. Ansiava por um grande amor na chuva.... Temia o desconhecido. Mas o mistério a fascinava. Vestia-se muito mais para se ocultar, do que se revelar. Entrava mar adentro, voava com o vento , surfava nas nuvens. Adorava viajar. Pegou então uma carona para as estrelas. Não haviam lhe ensinado que o brilho de umas é tão lindo de longe, mas queima de perto. Não queria se entregar a amores. Mas pensava o tempo int

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"Não existe nenhum organismo individual que viva em isolamento. Os animais dependem da fotossíntese das plantas para ter atendidas as suas necessidades energéticas; as plantas dependem do dióxido de carbono produzido pelos animais, bem como do nitrogênio fixado pelas bactérias em suas raízes; e todos juntos, vegetais, animais e microorganismos, regulam toda a biosfera e mantêm as condições propícias à preservação da vida."   "Todo organismo vivo se renova constantemente, na medida em que suas celulas se dividem e constroem estruturas, na medida em que seus tecidos e órgãos substituem suas celulas num ciclo contínuo. Apesar dessa mudança permanente, o organismo conserva a sua identidade global, seu padrão de organização." "(...) o sistema que se liga ao ambiente através de um vínculo estrutural é um sistema que aprende." "A cognição, portanto, não é a representação de um mundo que existe independentemente e por si, mas antes a contínua

Apontamentos de lógica superlativa*

Existe um mundo exageradamente singular. O lugar constitui-se de eventos descritos por um vocabulário de exuberâncias. Uma estrutura onde tudo se agiganta diante das expressões de êxtase. Sua sobrevida se alimenta de anúncios dos eventos realçados. Um teor fantástico expressa rumores de imensidão. Seu ser extraordinário transborda numa perspectiva exaltada.  Nas entrelinhas do discurso bem ajustado essa lógica dos excessos busca emancipar-se. Um devir assim aprecia o refúgio numa dialética dos sobressaltos. Ao sujeito constituído nalguma forma de esteticidade, não é raro o olhar da tradição prescrever-lhe alguma tipologia, enquadrando-o como desajustado.   Ao surgir numa intensidade máxima contrapõe-se a rotina mediana. Seu dizer superlativo emancipa o cotidiano para engendrar sonhos, arremessar possibilidades. Os relatos dessa linguagem sugere um brilho incomparável ao seu autor. Desdobrando-se para além dos territórios conhecidos, modifica recriando o lugar_espaço_tempo

Fragmentos filosóficos, delirantes*

"Quando a vida se torna invivível, deve-se inventar uma vida nova." "Cada reorganização produz, implicitamente, versões diferentes da história de um indivíduo." "No decorrer da existência, cada indivíduo experimenta então, diferentes versões de si mesmo, que incluem trechos não traduzidos na linguagem das camadas seguintes." "O sujeito delirante acha-se, assim, no centro de um embate entre lógicas que, em diferentes períodos, estruturaram, separadamente, a experiência atingível e agora não conseguem explicar a con-fusão dos respectivos conteúdos. (...) Sua mente torna-se, então, a matriz de novas traduções impróprias, absurdas e bizarras, mas adequadas ao novo mundo em que ele se encapsula."  "O delírio dilacera o cenário opaco do mundo da vida, dado por todos como pressuposto, e o coloca em discussão abertamente. Onde nada é óbvio, tudo deixa de ser familiar, tudo é submetido a um exame cuidadoso e a uma revisão radical.

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