Pular para o conteúdo principal

Postagens

Numa cidade distante*

Tem mais de quarenta anos, e pela primeira vez viaja ao exterior, cheia de incertezas. A vontade mesmo era ficar no conforto dos objetos familiares e da vida previsível cujos contornos às vezes pareciam se estreitar demais. Vai num grupo de trabalho, mas no hotel e em algumas atividades está sozinha. Uma tarde vê-se obrigada a atravessar sem companhia a cidade desconhecida: dá os primeiros passos repetindo mentalmente o roteiro, segura a bolsa como se fosse a bússola de sua alma. Ao seu redor fragmentos de frases no idioma estrangeiro que ela entende mais ou menos, os cheiros e cores diferentes. O sol incide sobre todas as coisas de uma forma nova. Então é tomada de euforia: está num país remoto, numa cidade desconhecida, consegue andar e orientar-se - e não sente medo. É uma alegria inquietante para ela, que nunca imaginou sentir-se tão bem e contente longe da casa e da família. Antes, isso lhe pareceria uma traição. Agora, caminhando no chão do imprevisível, começa

Vida de Menina*

Com fresca e fina flor nos cabelos ao vento Caminha sem amanhã e vai. Indo de flor em flor, desabrocha sua vida Como um botão de rosa ruboroza E se enche do mel que o frescor da brisa traz. De forma graciosa caminha ao léu Na direção que não sabe se leva ao céu. De graciosas formas, esguias e esbeltas, Ergue-se em frente e para a frente Como se caminhasse por sobe estrelas. Tendo os céus a seus pés, segue. E como se não houvesse mais nada a perder, Invade as vias de campos floridos e arborizados, Caminhando decidida a empodeirar-se de si mesma. Já consigo em rédeas curtas e curtindo, Consegue se encher de vida, Se enche de alegria e de verdade. Encara de frente as frustrações! Avança por sobre tudo que deve avançar! Recua, calcula, prevê o imponderável, E carrega nos ombros a esperança e a sabedoria. Queixo elevado e olhos altivos, passo firme, Com o futuro no agora, trazido a cabo, com rédeas curtas, Visualiza aquilo que ninguém mais

Fragmentos Filosóficos, Poéticos, Delirantes*

"Desejo apenas, querida, peregrinar por tua alma, percorrê-la até o âmago, até o lugar onde ela se torna um templo. E lá quero erguer a minha nostalgia como uma custódia, que há de se elevar até a tua magnificência. Este é o meu desejo." "Nestes dias de criatividade, sinto como os invólucros abandonam as coisas, como tudo se envolve numa atmosfera de confiança, sem quaisquer disfarces. Os momentos criativos são como crepúsculos vespertinos após carregados dias de verão." "E agora, em meio ao perfume desta imensidão azul, aproveito os dois ou três dias que ainda passarei antevendo em sonhos o reencontro contigo, para continuar a relatar-te o esplendor destes dias que estou vivendo aqui, em um país estrangeiro. Cada vez mais estou convencido de que não me refiro às coisas, e sim àquilo que elas fizeram de mim." "(...) Ele permanece pobre, porque é incapaz de revelar a um confidente a existência dos seus tesouros, e segue solitário por não

Meu amor*

a poesia passou por aqui recitou seus versos de presente trouxe as estrelas e de lua me encantou contou-me secretamente que lhe entregaria ternuras e carinhos porque o que vale é Amar *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Poeta. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"Pessoas que encontram partes preciosas de si não em outras pessoas, mas em livros" "Para que mais alguém lê um livro, senão para se transformar ?" "Também quando leio Clarice (Lispector), pensei, tenho esta impressão. Os livros de Clarice são duros de ler. São incômodos e, até, desagradáveis. Suas ficções me submetem, me tiram do sério - me interpretam. Não sou eu que as leio, elas sim me leem, e isso me desnuda. Os livros de Clarice Enervam, esgotam, perturbam." "Ser capaz de ouvir, e de suportar a presença imprevista do outro, as surpresas que nos oferece, a desarmonia de suas ideias. Chegar de mãos vazias e aceitar o que me dão. Entregar-me, em vez de esperar que o outro se entregue. Desarmar-me, ainda que seja para encontrar o que não desejo encontrar.! "Nada se assemelha ao contato silencioso e misterioso, mas intenso, que liga o leitor a um livro." "Houvesse uma sincronia perfeita entre o grande livro e o g

A escuta das palavras*

                                                      A palavra, em deslocamento por seus muitos territórios, também busca uma legibilidade para sua escuta escutando-se. Aptidão rara em meio as ditaduras da semiose verbal. Ao conviver sempre no mesmo lugar, ainda que em línguas diferentes, é excepcional vivenciar as dialéticas da aventura.     Em um mundo apropriadamente imperfeito, pode ser indizível, ao dicionário conhecido, encontrar o melhor para si. Essa suspeita se insinua nas possibilidades do instante perfeito nas entrelinhas da imperfeição. Essa transgressão da zona areia movediça de conforto existencial, se aproxima de um mundo razoável e suas contradições. Assim pode acolher e dialogar com a mutante medida de todas as coisas em cada um.    Ao destacar o viés dessas poéticas da irreflexão, se esboça uma negação de que tudo já foi dito, pensado, tentado. Nele um espaço desconhecido se abre como proposta. Talvez a escola, ao ensinar a ler e escrever, també

Visitas