Pular para o conteúdo principal

Postagens

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Conexão...*

Há momentos na vida que uma voz interna te chama. Nesses momentos vive-se uma profunda interação do ser interno com o ser externo. Há uma conexão!!! Encontro a paz tão desejada pela humanidade e sinto-me estranha no mundo ao redor. Parece que estou envolvida em cores que dançam ao luar, tudo soa luz. As coisas aparentemente maldosas tornam-se nada e o nada torna-se não-ser! Caminhar e decidir a direção através da intuição não é tarefa fácil, mas é preciso. E de repente, teu destino se torna tuas decisões e tuas renúncias. Entretanto, por mais insegurança que eu tenha, se o caminho que escolhi é o melhor a seguir, mais confio que o é!!! A loucura do livre arbítrio cura as mazelas da falta de responsabilidade da própria biografia. A vida se enche de artefatos, parafusos, chaves, fechaduras e portas diversas... Surge, então, uma pequena agonia, fria, vazia, sem conexão. O medo tenta invadir o coração que conquistou a paz tão desejada, porém a certeza da proteção mai

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"A sensação de que as palavras nem sempre conseguem traduzir as manifestações do espírito não é nova. Mesmo quando se pensa esclarecer adequadamente seus segredos, a natureza logo surge sob nova roupagem. Como se quisesse dizer algo mais, nas contradições a denunciar um só olhar."  "No mosaico das tentativas para ler as verdades delirantes, se demonstra a escassez das lógicas da tradição. Referencial empobrecido na diversidade dos eventos inclassificáveis ao viver singular." "As fisionomias da loucura são resultantes das intervenções do alienista, o fiscal da sociedade normal. A farmacologia e seus derivados, ao desqualificar - internando e tratando - a expressividade do louco , deslizam para a reincidência daquilo que finge evitar." "Novos paradigmas apreciam surgir nas lógicas incompreendidas." "A pluralidade subjetiva internada em uma só pessoa aprecia o caos para ensaiar releituras existenciais. Mesmo quando inadequad

Mundo perdido*

Quando saia da infância e passava para adolescência o mundo estava em trânsito, ou pelo menos parte dele. Esta parte que estava em trânsito saia do "socialismo", que muitos chamam de economia planificada ou tentativa fracassada da aplicação das teorias marxistas. Seja como for, estávamos saindo disso para o capitalismo, o restante do mundo já era capitalista. O Brasil, no mesmo período, fim da década de 80, início dos anos 90 também saia de uma ditadura e passava para a democracia. Assim, na minha transição da infância para a adolescência, o mundo também estava passando de um modelo para outro, ao menos o meu mundo. Os que já eram capitalistas desmereciam os socialistas, dizendo aos outros e a sui próprios que estavam certos e que todos deveriam fazer parte do seu modelo de vida. Nesta parte parece que nasci no tempo certo, num Brasil democrático e capitalista, mesmo que seja um país pseudo democrata e pseudo capitalista. Depois da transição vieram os ajustes, alocan

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) Esse ponto, donde as vemos irredutíveis, coloca-nos no infinito, é o ponto onde o infinito coincide com lugar nenhum. Escrever é encontrar esse ponto. Ninguém escreve se não produzir a linguagem apropriada para manter ou suscitar o contato com esse ponto." "O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento." "É verdade que muitos criadores parecem mais fracos do que os outros homens, menos capazes de viver e, por conseguinte, mais suscetíveis de se espantar coa vida." "Kafka, talvez sem o saber, sentiu que escrever é entregar-se ao incessante (...)" "As lembranças são necessárias, mas para serem esquecidas, para que nesse esquecimento, no silêncio de uma profunda metamorfose, nasça finalmente uma palavra, a primeira palavra de um verso. Experiência significa, neste ponto: contato com o ser, renovação do eu nesse contato - uma prova, mas que permanece indeterminada." "(...) A escrita automática

Dispersos*

Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E deu-se este encontro. Andávamos pelas ruas da cidade tão felizes. Por fim não sabíamos mais se andávamos ou se voávamos... Corria um vento tão gostoso. A brisa balançava os cabelos dela para lá e para cá. E eu ficava com ciúme do vento e dos carinhos que ele fazia nos cabelos dela. Os estranhos eram apenas os amigos que nós ainda não conhecíamos. Nossos olhinhos diziam que todo mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico Corríamos e soprávamos o vento andando por aí. Ríamos dos relâmpagos e dos trovões. E bebíamos as águas das tempestades. Quando nos dávamos conta do lugar onde estávamos, já tínhamos ido embora. A meia noite fechou seus olhinhos e na madrugada o canto e a dança dela impediram que eu fosse embora. E descobrimos que a palavra amor andava meio vazia, tinha tão pouca gente dentro dela.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Aleg

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Tornar imprevisível a palavra não será uma aprendizagem de liberdade ? Que encanto a imaginação poética encontra em zombar das censuras!" "Com a poesia a imaginação coloca-se na margem em que precisamente a função do irreal vem arrebatar ou inquietar - sempre despertar - o ser adormecido nos seus automatismos." "Pelos poemas, talvez mais que pelas lembranças, chegamos ao fundo poético do espaço da casa." "(...) os poetas são nossos mestres. Com que força eles provam que as casas para sempre perdidas vivem em nós!" "Quando um sonhador reconstrói o mundo a partir de um objeto que ele encanta com seus cuidados, convencemo-nos de que tudo é germe na vida de um poeta." "Mas o verdadeiro armário não é um móvel cotidiano. Não se abre todos os dias. Da mesma forma a chave, de uma alma que não se entrega, não está na porta." "Para entrar no âmbito do superlativo, é preciso trocar o positivo pelo imaginá

A pretexto de jardins*

Existe uma fonte extraordinária onde a obra de arte decaída se encontra. Nela é visível o apelo silencioso das raridades. Nalgumas pode se notar a exuberância dos contornos, em outras a raiz mergulha na terra em busca de proteção. Ainda àquelas a lançar sementes na brisa passageira.   Quando muito próximo pode significar conviver com os espinhos uma da outra. Os sinais descrevem nuances de uma estória onde antes e agora se integram, fazendo a pétala renascer, se alternando nas estações. Sua essência plural realiza uma poesia sem palavras nesses espelhos da natureza.   Existem jardins com uma história de descuidos, maltratados uma vida inteira. Ao vivenciar alguma forma de atenção, carinho, perseguem o subsolo de si mesmos. Nesse sentido, desacostumados à luz do sol, num movimento de quase semente, se refugiam nas sombras conhecidas, cercam-se de muros, paredes de difícil acesso.   O dom da jardinagem conhece a linguagem ritual de morte e renascimento.

Visitas