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Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

Manifesto de uma poesia existencial*

Talvez poucos estejam dispostos a ler o mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o seu próprio íntimo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que está nos livros e no coração do mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que eu escrevo aqui... Mas o que seria da arte, do desvelamento ou da poesia se houvesse rendição ou desistência? Porventura, o professor aprende, inspira e ensina enquanto o sábio ilumina, espera e tolera. Entretanto, quando impera numa nação o clamor de extremos e isso ainda é agravado por incitação e manipulação mentorada por uma minoria privilegiadíssima, facilmente a sensatez e o diálogo se perdem em detrimento ao antigo ato de digladiar ideologias na ilusão de ser uma solução enquanto, na verdade, tudo vai se tornando cada vez mais incipiente, diluído ou líquido parafraseando maliciosamente o sociólogo europeu Zygmunt Bauman. Forças opostas no vigor de suas disposições bem intencionadas para a ação, quando desprezam as possibilidades de uniã

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Conexão...*

Há momentos na vida que uma voz interna te chama. Nesses momentos vive-se uma profunda interação do ser interno com o ser externo. Há uma conexão!!! Encontro a paz tão desejada pela humanidade e sinto-me estranha no mundo ao redor. Parece que estou envolvida em cores que dançam ao luar, tudo soa luz. As coisas aparentemente maldosas tornam-se nada e o nada torna-se não-ser! Caminhar e decidir a direção através da intuição não é tarefa fácil, mas é preciso. E de repente, teu destino se torna tuas decisões e tuas renúncias. Entretanto, por mais insegurança que eu tenha, se o caminho que escolhi é o melhor a seguir, mais confio que o é!!! A loucura do livre arbítrio cura as mazelas da falta de responsabilidade da própria biografia. A vida se enche de artefatos, parafusos, chaves, fechaduras e portas diversas... Surge, então, uma pequena agonia, fria, vazia, sem conexão. O medo tenta invadir o coração que conquistou a paz tão desejada, porém a certeza da proteção mai

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"A sensação de que as palavras nem sempre conseguem traduzir as manifestações do espírito não é nova. Mesmo quando se pensa esclarecer adequadamente seus segredos, a natureza logo surge sob nova roupagem. Como se quisesse dizer algo mais, nas contradições a denunciar um só olhar."  "No mosaico das tentativas para ler as verdades delirantes, se demonstra a escassez das lógicas da tradição. Referencial empobrecido na diversidade dos eventos inclassificáveis ao viver singular." "As fisionomias da loucura são resultantes das intervenções do alienista, o fiscal da sociedade normal. A farmacologia e seus derivados, ao desqualificar - internando e tratando - a expressividade do louco , deslizam para a reincidência daquilo que finge evitar." "Novos paradigmas apreciam surgir nas lógicas incompreendidas." "A pluralidade subjetiva internada em uma só pessoa aprecia o caos para ensaiar releituras existenciais. Mesmo quando inadequad

Mundo perdido*

Quando saia da infância e passava para adolescência o mundo estava em trânsito, ou pelo menos parte dele. Esta parte que estava em trânsito saia do "socialismo", que muitos chamam de economia planificada ou tentativa fracassada da aplicação das teorias marxistas. Seja como for, estávamos saindo disso para o capitalismo, o restante do mundo já era capitalista. O Brasil, no mesmo período, fim da década de 80, início dos anos 90 também saia de uma ditadura e passava para a democracia. Assim, na minha transição da infância para a adolescência, o mundo também estava passando de um modelo para outro, ao menos o meu mundo. Os que já eram capitalistas desmereciam os socialistas, dizendo aos outros e a sui próprios que estavam certos e que todos deveriam fazer parte do seu modelo de vida. Nesta parte parece que nasci no tempo certo, num Brasil democrático e capitalista, mesmo que seja um país pseudo democrata e pseudo capitalista. Depois da transição vieram os ajustes, alocan

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) Esse ponto, donde as vemos irredutíveis, coloca-nos no infinito, é o ponto onde o infinito coincide com lugar nenhum. Escrever é encontrar esse ponto. Ninguém escreve se não produzir a linguagem apropriada para manter ou suscitar o contato com esse ponto." "O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento." "É verdade que muitos criadores parecem mais fracos do que os outros homens, menos capazes de viver e, por conseguinte, mais suscetíveis de se espantar coa vida." "Kafka, talvez sem o saber, sentiu que escrever é entregar-se ao incessante (...)" "As lembranças são necessárias, mas para serem esquecidas, para que nesse esquecimento, no silêncio de uma profunda metamorfose, nasça finalmente uma palavra, a primeira palavra de um verso. Experiência significa, neste ponto: contato com o ser, renovação do eu nesse contato - uma prova, mas que permanece indeterminada." "(...) A escrita automática

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