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Incompletudes*

Ela vai indo Vai acolhendo Vai cuidando Vai desculpando Vai compreendendo Vai gostando... E continua indo Dando acolhida Dando abraço Dando colo Dando conforto Dando ausências... Continua indo, vai além Mas vai-se cansando Não aprendeu a colocar pontos finais Seus ciclos ficam abertos Vira vírgula, três pontinhos, reticências Uma falta de começar a receber. Vai indo e vai-se doando Até que sobra bem pouco Quer parar de se doar E começar a receber Quer aceitar um pouquinho Que os outros tem para lhe dar. Assim ela era Aprendeu a cuidar Mas de si não sabia cuidar *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Silêncio*

“...você se dissolve numa imagem do nada. Você come.” Paul Auster Como dar conta do silêncio sem acordá-lo do vazio em que está? Todo o recipiente do pensamento está no acontecimento único de estar tomado de uma quietude, de conteúdo, de imagens e cores. Todo o pensar é uma linguagem que escapa do controle, é um signo que diz; mostra o quão o vazio diz tudo sem mover o pensamento do silêncio. Por isso, o silêncio é a melhor maneira de estar sintonizado com o que está acontecendo dentro dos espaços. Do espaço imaginado. Entre as folhas de outono e o que restou do verão, entre chuvas e vozes, ouço o silêncio que transborda. *Prof. Dr. Luis Antônio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador Porto Alegre/RS

Indiferença*

Características sutis Já não fazem diferença Salvo para os gentis O ser humano cultiva indiferença. Crendo ser 'sabido' Mas um tanto perdido Aprofundou-se na loucura Da correria sem ternura! *Dionéia Gaiardo Administradora de Empresas. Poetisa. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

A palavra interminável*

Existe uma suspeita, de caráter duradouro, sobre a essência da escrita pessoal. Essa trama de eventos cotidianos inscritos na historicidade de cada um. Pode ser uma mescla de lugares, recordações, períodos, épocas, relações, cultura. Um conjunto de momentos por onde a vida se irrealiza. Quase nunca considerada eficiente enquanto acontece, muitas vezes recuperada, quanto a importância e significado pessoal, bem depois, nalguma terapia, autobiografia ou menção por alunos, familiares, amigos. O ser interminável em cada um parece proclamar-se na forma ilimitada dos recomeços, enquanto duradouros. Um processo existencial que se desdobra em meio aos afazeres da vida prática, ela mesma integrante dessa eternidade efêmera que se move pelos dias. Uma fonte de aspecto inesgotável parece querer dizer sobre as possibilidades de ser e não-ser em cada um, na diversidade dos instantes, na superação daquilo feito para perdurar, para além de uma só forma. A natureza do que permanec

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