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Viagens e viajantes*

Quando inicia a madrugada Os grilos cantam a lua que brilha Sinto os anjos brincando estrelas Talvez as nuvens passem trazendo sonhos Recolho sob a coberta a espreita Será que ele vem? Os pirilampos anunciam a chegada de Hermes Dioniso também se apresenta Meu coração solta de alegria Bendigo a imaginação e os uivos dos lobos Minha mulher selvagem se apresenta Mistério e fantasia real Porque a lua brilha Eu me dissolvo no pó cósmico, pois, Viajante intergaláctica eu sou! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Receita pra lavar palavra suja*

É que eu queria dizer uma coisa que eu não posso sair dizendo por aí Na verdade é um segredo que eu guardo É uma revelação que não posso sair dizendo por aí Que eu tenho medo que as pessoas se desequilibrem de si Que elas caiam delas mesmas quando eu disser Eu descobri que a palavra não sabe o que diz A palavra delira A palavra diz qualquer coisa A verdade é que a palavra nela mesmo em si própria Não diz nada Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve Quando existe acordo, existe comunicação Quando esse acordo se quebra, ninguém diz mais nada Mesmo usando as mesmas palavras A palavra é uma roupa que a gente veste (…) *Viviane Mosé

Os Opostos*

Os Opostos se atraem, dizem Ele lutava com os opostos Dia a dia Dentro de si. Para ele não havia vida na linha do equador. Havia, sim, vida acima ou abaixo do equador. Viver na linha mediana, para ele, era não viver. Definhava sob o ar condicionado. Fugia do meio termo como o capeta foge da cruz. O morno nem o esquentava, nem tampouco, o esfriava. O morno cheirava a mofo. Se negava a jogar no meio de campo. Fechava as balizas de um lado, ou estufava as redes do outro. Na loteria da vida não marcava a coluna do meio. Mas existiam empates. Quem o conhecia sabia. Seu "oito" era um grãozinho de areia. Um fiozinho de fumaça que sumia. Uma miragem de nevoeiro que sumia. Um pedacinho de nuvem quebrada que sumia num buraco negro. Diminuto, virava diminutivo e se transformava em Mínimo Múltiplo Comum. Virava nada, nada fazia e repousava nas espumas das águas do nada. Mas não se entregava Há que inventar a vida a cada dia. Seu "oitenta" era mil. Um milh

Os deslimites da palavra*

Ando muito completo de vazios. Meu órgão de morrer me predomina. Estou sem eternidades. Não posso mais saber quando amanheço ontem. Está rengo de mim o amanhecer. Ouço o tamanho oblíquo de uma folha. Atrás do ocaso fervem os insetos. Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino. Essas coisas me mudam para cisco. A minha independência tem algemas *Manoel de Barros

Renovação*

Percebi que para estar bem, totalmente liberta das amarras dos agendamentos incutidos durante anos em nossas vidas, precisamos dar um salto de coragem. Esse salto é deveras dolorido pois o medo tende a rondar pelas esquinas do caminho das mudanças mais profundas da alma. Entretanto com a ajuda correta, escolhida pelo ser-singular, através de terapia e da autoaceitação, é possível. Não importa as ferramentas para a decidida mudança, basta "querer mudar", sair do conforto do que se conhece para abrir as portas para o novo. Sei que este novo traz muitos questionamentos e receios profundos. Choros compulsivos, inseguranças, dúvidas são algumas das tentativas de atrapalhar esse salto. Nossas sombras mais escondidas ou enterradas pelo nosso Ego, gritam tentando nos impedir de enxergá-las para ir de encontro à passarela da felicidade. Mas, depois de expurgar as purulentas dores emocionais, eis que aparece luz, um ponto ao longe, quase imperceptível. Só, somente, quando

O guardador de rebanhos*

Eu nunca guardei rebanhos, Mas é como se os guardasse. Minha alma é como um pastor, Conhece o vento e o sol E anda pela mão das Estações A seguir e a olhar. Toda a paz da Natureza sem gente Vem sentar-se a meu lado. Mas eu fico triste como um pôr de sol Para a nossa imaginação, Quando esfria no fundo da planície E se sente a noite entrada Como uma borboleta pela janela. Mas a minha tristeza é sossego Porque é natural e justa E é o que deve estar na alma Quando já pensa que existe E as mãos colhem flores sem ela dar por isso. Como um ruído de chocalhos Para além da curva da estrada, Os meus pensamentos são contentes. Só tenho pena de saber que eles são contentes, Porque, se o não soubesse, Em vez de serem contentes e tristes, Seriam alegres e contentes. Pensar incomoda como andar à chuva Quando o vento cresce e parece que chove mais. Não tenho ambições nem desejos Ser poeta não é uma ambição minha É a minha maneira d

Brevidade do sempre*

      “Ora, aqui não se trata apenas de confrontar ideias mas de as encarar e fazer viver, e só experimentando se pode saber do que são capazes.” Maurice Merleau-Ponty A vida é breve. É o tempo insuficiente para se dar o fim de todas as dúvidas. Li certa vez em um livro, do qual não me recordo o nome, que a brevidade da vida é que faz um ateu, que o mundo é vasto demais para se ter tempo de senti-lo, que se Deus existe se precisaria mais do que um século para conhecê-lo. Herético esse livro. No mínimo eu deveria suprimir todas as dúvidas filosóficas e existenciais que vem no andar dos dias, na velocidade do tempo. Ando em busca do tempo que fale mais aos meus ouvidos, não do tagarela moralista a incomodar o lado mais puro, ou seja, crer no não crer é uma atribuição saudável ao Ser. Pensando bem, não li em livro algum, foi um texto que comecei escrever ainda quando era um jovem estudante de filosofia. Na época queria ter a possibilidade de conhecer o mais longe possív

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