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Poetando com o Mário*

Emergência* Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. Poeminha do Contra* Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu passarinho! Relógio* O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. *Mário Quintana

AmarAmando...*

AmarAmando Sem tons de cinzas Em tons roseosazuis No mar na floresta Em sons e tonsutis AmarAmando No céu da imaginação Tecendo aracnídeas redes Fisgando sonhos Em contos de estrelas AmarAmando No tempo presente Rasgando o peito Entregando a alma Oferencendo a Afrodite AmarAmando No compasso dionisíaco Dançando com pés descalços No rodopio do vento AmarAmando No mandala rodando o tempo Encontrando o centro no todo De mim de você de nós SendoAmor em verso múltiplo. AmarAmando Apenas sino no hino No beijo no gozo no corpo Na vida delicadamente fluindo *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) não há saídas a escolher. Uma saída é algo que se inventa. E cada um inventando sua própria saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia." "O poeta está fora da linguagem, vê as palavras do avesso, como se não pertencesse à condição humana, e, ao dirigir-se aos homens, logo encontrasse a palavra como uma barreira." "Assim  como a física submete aos matemáticos novos problemas, que os obrigam a produzir uma simbologia nova, assim também as exigências sempre novas do social ou da metafísica obrigam o artista a descobrir uma nova língua e novas técnicas." "(...) a cada um de nossos atos, o mundo nos revela uma face nova." "É o esforço conjugado do autor com o leitor que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito." "(...) a leitura é criação dirigida. (...) por um lado o objeto literário não tem outra substância a não ser a subjetividade do leitor (...)

Palcos e Tramas da Vida*

Representamos o mundo com nossas emoções, sentimentos e razões, ou não. Cada ser humano representa para si aquilo que sua alma vê, sente, ama, odeia, grita, silencia... Vamos construindo nosso mundo de acordo com os nossos olhares sobre a vida e os seus desdobramentos. Uma senhora caminhava pela rua e contemplava as folhas sendo levadas pelo vento outonal... Sua amiga curiosa parou diante dela e lhe perguntou: - Porque olha com tamanha ternura para estas folhas secas e sem vida? Nisto aquela senhora com os olhos iluminados por um brilho distante respondeu: - Não são folhas! São os meus sonhos que um dia o vento levou e nunca mais consegui alcançar. Viver talvez seja está linda descoberta, de darmos significado ao momento presente, representando com nossas alegorias o que alma ainda não sabe nomear. Caminhamos pela vida representando papéis, elaborando roteiros, despedindo personagens e contratando novos atores. Nos perdemos em tramas, e buscamos sempre um final

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

(In) certos corações*

Tolo fui. Agora sei Cultivei um jardim Fora de época E as rosas que brotavam O gelo da geada gelada As queimavam a cada manhã É que havia perdido O endereço da entrega Das rosas que cuidei Suspeito que ficaram sabendo Murcham, por isso, ao tocá-las Queimam-se ao frio da geada Secam ao primeiro raio de sol Elas me entendem E sofrem comigo Neste frio gelado. Tolo fui. Errei de estação E errei de coração Deveria ter-me feito oleiro Fazendo taças de vinho de barro Reunido amigos e amados E livros e cantos e danças E junto à lareira Beber vinho para espantar O frio desta estação tão fria Uma taça de vinho Do barro da terra A alegria Os corações certos E o calor dos amigos. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Se amar bastasse, as coisas seriam simples. Quanto mais se ama, mais se consolida o absurdo. Don Juan não vai de mulher em mulher por falta de amor. É ridículo representá-lo como um iluminado em busca do amor total. Mas é justamente porque as ama com idêntico arroubo, e sempre com todo o seu ser, que precisa repetir essa doação e esse aprofundamento." "Por que seria preciso amar raramente para amar muito ?" "'O espetáculo - diz Hamlet - é a armadilha com que vu capturar a consciência do rei'. Capturar é a expressão adequada. Pois a consciência anda rápido ou recua. É preciso pegá-la no voo, no momento inapreciável em que lança um olhar fugidio sobre si mesma." "Sabendo que não há causas vitoriosas, gosto das causas perdidas: elas exigem uma alam inteira, tanto na derrota quanto nas vitórias passageiras." "Ao mesmo tempo, sua única força é a criação contínua e inapreciável à qual se entregam, todos os dias de su

O coração e as palavras*

Andavam de um lado para o outro. Corriam, juntavam-se e separavam-se. Grupos de três, quatro ou um bando. Revezavam-se e trocavam de lugar, mas ele ria-se delas! Ria-se o coração, das palavras tentando dizer o que nele havia. A certa altura, com ar cansado e condescendente, chamou-as para acompanhá-lo a um passeio. Levou-as a um parque, com flores de muitas cores, árvores ao redor de uma balaustrada branca que cercava uma área de grama verde, sobre a qual brincavam um menininho e dois cachorros, um maior e outro menor. Divertia-se muito o menino, corria, tropeçava e caía para em seguida ser completamente lambido pelos amigos abanando seus rabos felizes! - Viram? Disse ele. - É isso! Então, algumas se foram desconsoladas. Outras ficaram pra contemplar a cena mais um pouco, e, rendidas finalmente, concluíram que embora sentissem exatamente o que era, seriam incapazes de dizer aquilo! Foram-se algumas, decididas que dali por diante iriam bailar, melhor era divertirem-

Por Não Estarem Distraídos*

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria e peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande po

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