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Via Láctea*

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto… E conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo? E eu vos direi: Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas. *Olavo Bilac

O sonho das palavras*

                                    Um enredo malabarista se insinua em rasuras de quase traço. O sonhar das palavras rascunha vontades, antecipa delirando aquilo desconsiderado pela razão conhecida. Seus apontamentos de estética maldita dizem mais do que consegue traduzir. Não-ser acontecendo nalgum ponto entre realidade e ficção.  Essa sensação do fenômeno ter alguma sobrevida nos termos agendados no intelecto, possui rasgos de transcendência inevitável. Parece reverenciar o lugar instante onde a exceção, o acaso, se desdobram no agora continuado.    É possível ao verso irreal conter mensagens ilegíveis. Sua referência ao texto repleto de incompletudes parece querer dizer, ao leitor atento, sobre as alternativas de reescrever-se com sua leitura. Como se fora um rascunho a silenciar sobre a linguagem da natureza da linguagem. Desvendar aspectos de renúncia em se descrever por inteiro, registrar aparecimentos, desaparecimentos diante do mesmo com vestígios do outro.

Poetando com o Mário*

Emergência* Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo — para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado. Poeminha do Contra* Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão… Eu passarinho! Relógio* O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede: conheço um que já devorou três gerações da minha família. *Mário Quintana

AmarAmando...*

AmarAmando Sem tons de cinzas Em tons roseosazuis No mar na floresta Em sons e tonsutis AmarAmando No céu da imaginação Tecendo aracnídeas redes Fisgando sonhos Em contos de estrelas AmarAmando No tempo presente Rasgando o peito Entregando a alma Oferencendo a Afrodite AmarAmando No compasso dionisíaco Dançando com pés descalços No rodopio do vento AmarAmando No mandala rodando o tempo Encontrando o centro no todo De mim de você de nós SendoAmor em verso múltiplo. AmarAmando Apenas sino no hino No beijo no gozo no corpo Na vida delicadamente fluindo *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Literários, Delirantes*

"(...) não há saídas a escolher. Uma saída é algo que se inventa. E cada um inventando sua própria saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia." "O poeta está fora da linguagem, vê as palavras do avesso, como se não pertencesse à condição humana, e, ao dirigir-se aos homens, logo encontrasse a palavra como uma barreira." "Assim  como a física submete aos matemáticos novos problemas, que os obrigam a produzir uma simbologia nova, assim também as exigências sempre novas do social ou da metafísica obrigam o artista a descobrir uma nova língua e novas técnicas." "(...) a cada um de nossos atos, o mundo nos revela uma face nova." "É o esforço conjugado do autor com o leitor que fará surgir esse objeto concreto e imaginário que é a obra do espírito." "(...) a leitura é criação dirigida. (...) por um lado o objeto literário não tem outra substância a não ser a subjetividade do leitor (...)

Palcos e Tramas da Vida*

Representamos o mundo com nossas emoções, sentimentos e razões, ou não. Cada ser humano representa para si aquilo que sua alma vê, sente, ama, odeia, grita, silencia... Vamos construindo nosso mundo de acordo com os nossos olhares sobre a vida e os seus desdobramentos. Uma senhora caminhava pela rua e contemplava as folhas sendo levadas pelo vento outonal... Sua amiga curiosa parou diante dela e lhe perguntou: - Porque olha com tamanha ternura para estas folhas secas e sem vida? Nisto aquela senhora com os olhos iluminados por um brilho distante respondeu: - Não são folhas! São os meus sonhos que um dia o vento levou e nunca mais consegui alcançar. Viver talvez seja está linda descoberta, de darmos significado ao momento presente, representando com nossas alegorias o que alma ainda não sabe nomear. Caminhamos pela vida representando papéis, elaborando roteiros, despedindo personagens e contratando novos atores. Nos perdemos em tramas, e buscamos sempre um final

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

(In) certos corações*

Tolo fui. Agora sei Cultivei um jardim Fora de época E as rosas que brotavam O gelo da geada gelada As queimavam a cada manhã É que havia perdido O endereço da entrega Das rosas que cuidei Suspeito que ficaram sabendo Murcham, por isso, ao tocá-las Queimam-se ao frio da geada Secam ao primeiro raio de sol Elas me entendem E sofrem comigo Neste frio gelado. Tolo fui. Errei de estação E errei de coração Deveria ter-me feito oleiro Fazendo taças de vinho de barro Reunido amigos e amados E livros e cantos e danças E junto à lareira Beber vinho para espantar O frio desta estação tão fria Uma taça de vinho Do barro da terra A alegria Os corações certos E o calor dos amigos. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

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