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A livraria no caminho entre o parque e o café*

"O tempo presente e o tempo passado Estão ambos talvez presentes no tempo futuro E o tempo futuro contido no tempo passado. Se todo o tempo é eternamente presente Todo tempo é irredimível" T.S.Eliot No caminho entre o restaurante, café, a livraria do sebo, Ex Libris, e do meu trabalho paro quase sempre para olhar a vitrine. Abro a porta e falo com a moça que atende e pergunto: o que tem de interessante ou quanto custa esse aqui? Já comprei muitos livros e o que mais impressiona são as dedicatórias, ou quando as pessoas resolvem sublinhar com lápis e canetas coloridas o mesmo livro. Foi hoje, três cores em um livro. Um senhor livro, um T.S. Eliot, Poesia (Collected Poems). Tradução de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, 2 edição, 1981. Livro que já tive, que ganhei um dia de aniversário nos anos 80. Perdi num bar quando estava viajando de férias. Sei lá. Li, reli os poemas depois na casa de uma namorada que me emprestara e tive o trabalho de devolver no

Buscas*

Procuro o novo O desconhecido O inexistente E encontro o velho O que sempre foi Procuro o novo Incansavelmente Deparo-me Com amarras Agendamentos Repressões Procuro o novo Novamente e de novo e de novo Circular envolto Dissolvo-me Na arte de me reinventar! *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poetisa. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Um poeta é o menos poético de tudo o que existe, porque lhe falta identidade; continuamente está indo para - e preenchendo - algum outro corpo. O sol, a lua, o mar, assim como homens e mulheres, que são criaturas de impulso, são poéticos e têm ao seu redor um atributo imutável; o poeta não, carece de identidade. Certamente é a menos poética das criaturas de Deus." "(...) porque se, na verdade, é o homem esse animal que quer permanecer, o artista busca permanência transferindo-se para sua obra, fazendo-se sua própria obra, e atinge-a na medida em que se torna obra." "Se o poeta é sempre 'algum outro', sua poesia tende a ser igualmente 'a partir de outra coisa', a encerrar visões multiformes da realidade na recriação singularíssima da palavra." "Os poetas se compreendem de poema a poema melhor do que em seus encontros pessoais." "Com Antonin Artaud calou na França uma palavra dilacerada que só esteve pela

As palavras e o corpo*

Escrevo em águas turvas E as palavras somem. Poupam-me o trabalho De apagá-las. Permanecem, porém, os rabiscos Tatuados em meu corpo Aninhados em minh'alma. As lembranças, Assim como as palavras Que tentam se apagar Com uma borracha branca Ficam borradas Mas ficam, Ainda assim... Não seriam os olhos Um espelho pelo avesso Quem iluminam para dentro? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"Escrever implica calar-se, escrever é, de certo modo, fazer-se 'silencioso como um morto', tornar-se o homem a quem se recusa a última réplica, escrever é oferecer, desde o primeiro momento, essa última réplica ao outro."  "(...) escreve-se talvez menos para materializar uma ideia do que para esgotar uma tarefa que traz em si sua própria felicidade." "O estruturalismo é essencialmente uma atividade, isto é, a sucessão articulada de certo número de operações mentais." "(...) A estrutura é pois, de fato, um simulacro do objeto, mas um simulacro dirigido, interessado, já que o objeto imitado faz aparecer algo que permanecia invisível, ou, se se preferir, ininteligível no objeto natural." "(...) a literatura é pelo contrário a própria consciência do irreal da linguagem: a literatura mais 'verdadeira' é aquela que se sabe a mais irreal, na medida em que ela se sabe essencialmente linguagem, é aquela procura d

A palavra ressonância*

       Escrever sobre as repercussões de um encontro clínico, reivindica deslocar-se em estado de redução fenomenológica. Se trata de tentar visualizar eventos em sua matriz de desencadeamento compartilhado, por onde acessos inesperados se descortinam, sugerem uma dialética nem sempre traduzível.    As poéticas da terapia esboçam seus inéditos e os ampliam pela interseção bem sucedida. Esses enredos seriam inimagináveis não fora a alquimia da atuação subjuntiva, a qual, iniciada na hora_sessão, se multiplica no cotidiano por vir. Dos múltiplos aspectos sobre seu alcance, sentido, direção, se destaca a alteração dos pontos de vista. Reinvenção pela aptidão dos procedimentos a se tornar transformação pessoal pela via da introspecção.    A cooperação da categoria tempo é fundamental, nesse momento irrepetível, onde uma chave encontra sua porta. Ao acolher compreensivamente o que ressoa, é possível modificar representações, redescobrir-se em meio ao ir e vir das conexões. 

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a consciência é um ser para o qual, em seu próprio ser, está em questão o seu ser enquanto este ser implica outro ser que não si mesmo." "A consciência é consciência de alguma coisa: significa que a transcendência é estrutura constitutiva da consciência, quer dizer, a consciência nasce tendo por objeto um ser que ela não é." "(...) como a consciência não é possível antes de ser, posto que seu ser é fonte e condição de toda possibilidade, é sua existência que implica sua essência." "Portanto, eis aqui o nada sitiando o ser por todo lado; eis que o nada se apresenta como aquilo pelo qual o mundo ganha seus contornos de mundo." "(...) não há um só gosto, um só tique, um único gesto humano que não seja revelador." "(...) o trabalho essencial é uma hermenêutica, ou seja, uma decifração, uma determinação e uma conceituação." "O ser é uma aventura individual." "O gênio de Proust

Empatia...*

Se não sou de ninguém Nem ninguém é meu Porque dói na gente A dor que o outro sente? A, se a vida não fosse Uma máquina de jogo Que não triturasse gente Que não moesse gente E que não doesse tanto Na gente. Corpo fechado, alma aberta Um capacete a prova de balas Uma armadura contra a amargura Amor mole em pedra dura Tanto bate até que fura Tanto bate até que cura. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Cotidiano*

“Assim, o olhar encontra naquilo que o torna possível o poder que o neutraliza...” Maurice Blanchot   Imagem das palavras, Na simetria os olhos, Correr à tela. A lente, milímetro fátuo escorre, no muro poema pichado. O caminhar do texto. A representação, tempo suficiente para a cisão, embate do corpo arranha. O dizer extenso do pensamento, O cérebro guarda, cria além do que vê.   *Prof. Dr. Luis Antônio Paim Gomes Filósofo. Jornalista. Editor. Escritor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

O Infinito*

A mim sempre foi cara esta colina deserta e a sebe que de tantos lados exclui o olhar do último horizonte. Mas sentado e mirando, intermináveis espaços longe dela e sobre-humanos silêncios, e quietude a mais profunda, eu no pensar me finjo; onde por pouco não se apavora o coração. E o vento ouço nas plantas como rufla, e aquêle infinito silêncio a esta voz vou comparando: e me recordo o eterno, e as mortas estações, e está presente e vivo, o seu rumor. É assim que nesta imensidade afogo o pensamento: e o meu naufrágio é doce neste mar. *Giácomo Leopardi

Fragmentos Filosóficos, Poéticos, Delirantes*

"A matriz aberta desses poemas permitia vários percursos de leitura, na vertical ou na horizontal, isolando e destacando blocos, ou já os integrando, alternativamente, com outras partes componentes da peça, através de relações de semelhança ou proximidade." "Os críticos, boa parte deles, responsáveis por essa petrificação mental, praticam uma hermenêutica de cemitério, precavendo-se cautelosamente para que nenhum oxigênio de vida, nenhuma dissonância de invenção, perturbe o ar ázimo e a paz de nafta de seus columbários cumpridamente etiquetados, classificados e inanizados, que são as obras de arte 'reconhecidas': para eles, o presente artístico só conta na medida em que possa ser, rapidamente, mumificado em passado." "A língua é apenas um dos sistemas de signos e a linguística tão-somente uma das províncias da semiótica. Esta é a colocação que nos parece mais fecunda e aberta. Realmente, a adoção da linguagem verbal como padrão absoluto e t

Uma poética do agora*

sou vagabundo de coração cheio tenho amor de sobra para te dar entristeço com tanto poder e egoísmo para que tanto orgulho e vaidade? onde te levará este preconceito? pare e ame, não haverá depois! Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Filósofa Clínica. Escritora. Poetisa. Juiz de Fora/MG

Poema de Sete Faces*

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. *Carlos Drummond de Andrade

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