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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O 'poético' é exatamente a capacidade simbólica de uma forma; esta capacidade só tem valor se permite à forma 'partir' para um grande número de direções e manifestar, assim, potencialmente, o infinito caminho do símbolo, de que nunca se pode fazer um significado último e que é, em suma, sempre o significante de um outro significante (...)." "(...) o sentido depende do nível em que o leitor se coloca." "(...) sobre o papel - e devido ao papel - o tempo está em perpétua incerteza." "Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória." "(...) a metáfora é a única maneira de nomear o inominável (transforma-se, então, em catacrese): a cadeia de nomes substitui o nome que falta." "Ora, é mais ou menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura',

Não sei quantas almas tenho*

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu. *Fernando Pessoas

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Que encanto a imaginação poética encontra em zombar das censuras! (...) A poesia surge então como um fenômeno de liberdade." "Com a poesia a imaginação coloca-se na margem em que precisamente a função do irreal vem arrebatar ou inquietar - sempre despertar - o ser adormecido nos seus automatismos." "A palavra de um poeta tocando o ponto exato, abala as camadas profundas do nosso ser" "Tudo se ativa quando se acumulam as contradições." "Assim, uma imensa casa cósmica existe potencialmente em todo sonho de casa. De seu centro irradiam-se os ventos e as gaivotas saem pelas janelas. Uma casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o universo. Ou, noutras palavras, o universo vem habitar sua casa." "(...) os poetas são nossos mestres. Com que forças eles provam que as casas para sempre perdidas vivem em nós. Em nós elas insistem para reviver, como se esperassem de nós um suplemento de ser."  "Alojad

Pais são invisíveis*

Seria o primeiro dia dos pais em que ele não estaria conosco. Falecera em setembro passado e  sua ausência física ainda era bastante presente. Estava desconfortável com a aproximação da data, pois sabia que recordações e lágrimas fariam parte deste “dia festivo”, e não me sentia animado para comemorar nada, sequer um simples almoço em família. Preciso voltar um pouco no tempo. Logo após ele ter nos deixado, escrevi um artigo dizendo que pais não morrem, ficam invisíveis. Passado quase um ano, refleti melhor e hoje, penso que pais, mesmo vivos, são invisíveis na maioria do tempo. Filhos se comportam (ou descomportam) pela vida afora, seguindo experiências e exemplos observados presencialmente com seus pais. No entanto, mesmo longe da prole, o que se constitui quase a totalidade do tempo,  pais ainda continuam introjetados nos filhos, que anseiam a aprovação de suas condutas por parte de seus progenitores. É como se os pais estivessem invisíveis observando-os a todo momento.

Poesia e amor sem gelo, por favor*

Não, eu nunca usei nenhum tipo de droga para escrever Poesia e Amor são os meus vícios Sim, sou alcoolotra! Dessas que se embriaga e não pensa no que fala Não fumo maconha Não cheiro cocaína Não bebo cachaça Liberdade não é isso, eu não preciso disso Minhas viagens são sonhadoras não alucinógenas Na verdade, sinto que sou a própria droga Escrevo para não me perder de mim!… *Marli Savelli

A coisa*

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra. O leitor entende uma terceira coisa… e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita. *Mário Quintana

Anotações do Homem Nômade sobre o Acaso*

O Homem Nômade gosta dos exageros do pensamento e costuma se colocar com o advérbio “sempre”, contrariando as regras de como se escreve um texto acadêmico e por ora diz que sempre, no sentido de constantemente, ele se situa nos olhos da filosofia. Acordou pensando, quase sempre em suas obsessões pós-leituras de quotidiano, sobre o conceito, a noção de Acaso. Começa pelos gregos, por Aristóteles a pensar sobre o Acaso. Da noção subjetivista e objetivista se tira uma causa superior, em que o oculto afasta as explicações racionais e que a sorte é algo superior que está longe do alcance da inteligência humana. Os estoicos colocam o Acaso como algo que escapa da ilusão porque tudo que acontece é parte da necessidade racional. O Homem Nômade apenas gosta de refletir sobre isso, passa da filosofia à literatura, ao cinema, às imagens e desemboca na visão moderna de Acaso, mas continua a pensar, não para resolver os problemas do mundo, mas “sempre” para compreender o seu exagero qu

Sobre a escrita*

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio. Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento. Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo – é por esconderem outras palavras. Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa pa

A primavera e o amor*

Sim, eu fui ver Brotaram lá fora As flores ligeiras Das laranjeiras Brotaram os brotos Das flores no jardim Voltaram os passarinhos E os beija-flores E as borboletas Que sempre voltam.... É que mentiram para mim Durante este inverno frio Que nesta terra triste Estavam mortos os poetas Mentiram para mim Que a primavera não viria Fizeram chacota, pouco caso Dos amores românticos... O menino não morreu, não Apenas dormiu Vejo minha sombra no chão Sombra que não é minha Ela usa cabelos longos E um longo vestido , Azul... *José Mayer Poeta, Amante dos Livros, Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

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