Pular para o conteúdo principal

Postagens

Póeticas*

A poesia acontece e cria outros mundos possíveis tão somente para iluminar o íntimo de quem a percebe e, na espera, acolhe e se conecta a ela. A poesia acontece porque transborda ao desapegar-se das margens do lugar de sua origem ou, ainda, do lugar ao qual outrora se comportou. A poesia acontece quando se percebe que é a superfície que sufoca, sobretudo, quando a dimensão é afetiva e existencial. A poesia sempre acontece na gratidão, na esperança, na compaixão; ela transforma qualquer momento em amor. Afinal, a poesia acontece e seguirá acontecendo enquanto vida houver. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

A palavra mágica*

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. *Carlos Drummond de Andrade

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o argumento de cada narrativa é também um testemunho de estranhamento, quando não uma provocação tendente a suscitá-lo no leitor." "Muito do que tenho escrito ordena-se sob o signo da excentricidade, posto que entre viver e escrever nunca admiti uma clara diferença; (...)" "(...) como escrevo de um interstício, estou sempre convidando que outros procurem os seus e olhem por eles o jardim onde as árvores têm frutos que são, por certo, pedras preciosas." "E, contudo, os contos de Katherine Mansfield, de Tchecov, são significativos, alguma coisa estala neles enquanto os lemos, propondo-nos uma espécie de ruptura do cotidiano que vai muito além do argumento."" "A consequência inevitável de todo orgulho e de todo egotismo é a incapacidade de compreender o humano, de se aproximar dos outros, de medir a dimensão alheia." "Imaginemos Edgar Poe num dia qualquer de 1843. Sentou-se para escrever numa das m

Onde pousam as borboletas*

Um perigo ronda O campo e a cidade Um homem e uma mulher Foram vistos fazendo amor Num campo florido Tomando banho numa cachoeira Num amor Que já não existe mais Estão desaparecidos Desde então... Um terrível perigo Paira no ar A civilização ocidental Corre um perigo iminente Localizem este homem e esta mulher Mortos, de preferência Capturem este casal fugidio Antes que seja tarde. Ronda um terrível perigo No campo e na cidade O governador decretou Toque de recolher O prefeito decretou Estado de sítio O FBI e a CIA Foram acionados Helicópteros sobrevoam a região Localizem este homem e esta mulher Antes que seja tarde. Todos a postos Capturem este casal atrevido Não procurem em Shopping Centers Muito menos em palácios Nem tampouco em igrejas frias Menos ainda em casa de políticos Procurem nas vielas e nos becos Ou nos bosques esquecidos Atentem ao cheiro de corpos e da pele Vejam onde as borboletas pousam

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O 'poético' é exatamente a capacidade simbólica de uma forma; esta capacidade só tem valor se permite à forma 'partir' para um grande número de direções e manifestar, assim, potencialmente, o infinito caminho do símbolo, de que nunca se pode fazer um significado último e que é, em suma, sempre o significante de um outro significante (...)." "(...) o sentido depende do nível em que o leitor se coloca." "(...) sobre o papel - e devido ao papel - o tempo está em perpétua incerteza." "Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória." "(...) a metáfora é a única maneira de nomear o inominável (transforma-se, então, em catacrese): a cadeia de nomes substitui o nome que falta." "Ora, é mais ou menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura',

Não sei quantas almas tenho*

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu. *Fernando Pessoas

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Que encanto a imaginação poética encontra em zombar das censuras! (...) A poesia surge então como um fenômeno de liberdade." "Com a poesia a imaginação coloca-se na margem em que precisamente a função do irreal vem arrebatar ou inquietar - sempre despertar - o ser adormecido nos seus automatismos." "A palavra de um poeta tocando o ponto exato, abala as camadas profundas do nosso ser" "Tudo se ativa quando se acumulam as contradições." "Assim, uma imensa casa cósmica existe potencialmente em todo sonho de casa. De seu centro irradiam-se os ventos e as gaivotas saem pelas janelas. Uma casa tão dinâmica permite ao poeta habitar o universo. Ou, noutras palavras, o universo vem habitar sua casa." "(...) os poetas são nossos mestres. Com que forças eles provam que as casas para sempre perdidas vivem em nós. Em nós elas insistem para reviver, como se esperassem de nós um suplemento de ser."  "Alojad

Pais são invisíveis*

Seria o primeiro dia dos pais em que ele não estaria conosco. Falecera em setembro passado e  sua ausência física ainda era bastante presente. Estava desconfortável com a aproximação da data, pois sabia que recordações e lágrimas fariam parte deste “dia festivo”, e não me sentia animado para comemorar nada, sequer um simples almoço em família. Preciso voltar um pouco no tempo. Logo após ele ter nos deixado, escrevi um artigo dizendo que pais não morrem, ficam invisíveis. Passado quase um ano, refleti melhor e hoje, penso que pais, mesmo vivos, são invisíveis na maioria do tempo. Filhos se comportam (ou descomportam) pela vida afora, seguindo experiências e exemplos observados presencialmente com seus pais. No entanto, mesmo longe da prole, o que se constitui quase a totalidade do tempo,  pais ainda continuam introjetados nos filhos, que anseiam a aprovação de suas condutas por parte de seus progenitores. É como se os pais estivessem invisíveis observando-os a todo momento.

Visitas