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Azaleias e tapetes coloridos*

Minhas azaleias floriram Tão depressa e tão bonitas E tão cheias este ano Que me assustaram Espiando pela janela. Mas caíram tão depressa também E formaram um tapete colorido pelo chão. Agora fico querendo Colar elas de novo Uma por uma De volta ao pé... *José Mayer Poeta. Filósofo. Livreiro. Filósofo Clínico na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a desordem que comunica é desordem-em-relação-a-uma-ordem-anterior." "Das estruturas que se movem àquelas em que nós nos movemos, as poéticas contemporâneas nos propõem uma gama de formas que apelam à mobilidade das perspectivas, à multíplice variedade das interpretações. Mas vimos também que nenhuma obra de arte é realmente 'fechada', pois cada uma delas congloba, em sua definitude exterior, uma infinidade de 'leituras' possíveis."   "É típico da obra de arte o pôr-se como nascente inexaurida de experiências que, colocando-a em foco, dela fazem emergir aspectos sempre novos." "As poéticas contemporâneas, ao propor estruturas artísticas que exigem do fruidor um empenho autônomo especial, frequentemente uma reconstrução, sempre variável, do material proposto, refletem uma tendência geral de nossa cultura em direção àqueles processos em que, ao invés de uma sequência unívoca e necessária de eventos, se estabelece

Canção do dia de sempre*

Tão bom viver dia a dia... A vida assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas... *Mário Quintana

Maria sim, vai com as outras não*

É encantador ver a força da mulher atual. Do modernismo à contemporaneidade, essa batalha pelo direito de ser livre e feliz, é espetacular. Sou meio paradona, pacifista, um pouco avestruz e de verdade, me perdoem, prefiro ficar de fora das lutas, dessas lutas que se evidenciam por causas e ideias. Não me queiram mal. Admiro e faço minha parte na torcida e orações pelas conquistas que mulheres de fibra e, para alguns, diferentes de mim, buscam em nome do respeito que todas merecemos. Todo movimento dá em transformação. Tenho visto lutas de todos os tipos em favor da liberdade de expressão, do direito de igualdade no trabalho e na vida, quanto à proteção e defesa nos casos de violência, para uma maternidade mais bem exercida, parto natural garantido e tantos outros atos lindos direcionados a formas de como a mulher pode viver melhor, depois de tantos séculos onde era vista como símbolo de inferioridade e tudo o que a ela se relacionava. Fico feliz por quem arregaça as mangas

Noções*

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.   Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.   Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza.   Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera... *Cecília Meireles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado." "Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre (...)" "Deus é o existirmos e isto não ser tudo." "Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo (...)"   "Que coisa morro quando sou ?" "Damos comumente às nossas ideias do

Descrituras*

“(...) Deram-me esta bela gravata... como um presente de desaniversário! (...) o que é um presente de desaniversário ? – Um presente oferecido quando não é seu aniversário, naturalmente.”                                                     Lewis Carroll Uma redação se faz página cotidiana na vida de qualquer pessoa, quer ela entenda ou não. Algo que restaria esquecido, não fora a ousadia semiótica a tentar decifrar essa trama de códigos imperfeitos. Por esse esboço a lógica descritura se incompleta para prosseguir inconclusa, aberta, viva.  Nem sempre se escolhe escrever, muitas vezes são as palavras a escolher você para dizer suas coisas. Conteúdos de rascunho, ilação, percepção extemporânea de ideias, reflexão. Aproximações com a zona interdita das margens de cada um. O tempo aprecia conceder eficácia de tradução aos traços persistentes. O sujeito prisioneiro dessa armadilha conceitual experimenta liberdades nem sempre possíveis de mencionar na

Ora (direis) ouvir estrelas! *

XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." *Olavo Bilac

Sabor da vida*

Para saborear a vida é preciso vivê-la devagar Mastigar bem cada momento Respirar, sentir o cheiro de algo muito bom chegando… Não exagere no tempero, muita pimenta pode estressar O sal e o açúcar deve ser usado com moderação Observe o tempo, não deixe passar do ponto Sente-se à mesa com apetite e deguste um bom dia!… *Marli Savelli

Uma temporada no Hospício*

Entrada; A palavra tranca Regurgita e volta O que está sendo feito? O que fizeram de mim? O que fizeram em mim? Uma droga: Caio, desmaio Agora não lembro Agora não penso Agora não sinto Agora, nada sou... No porão: Aqui é escuro Não vejo nada Não sinto nada Nada fala em mim O que sou aqui? Como dizer O que não sei? Como encontrar Aquele que não pode ser encontrado?... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) cada época torna canônicos textos considerados marginais na época precedente." "A nova epopeia é a primeira a permitir que duas vozes sejam simultaneamente ouvidas: a voz do poeta e a dos outros, interiorizada; trata-se de um diálogo interior." "O ideal de Brecht não é um teatro total, mas um teatro do heterogêneo, no qual reina a pluralidade no lugar da unidade." "Então Brecht escolhe, sem talvez sabê-lo, a posição de Aristóteles, para quem a surpresa é a fonte de conhecimento." "(...) escritura; ou, em todos os casos, quando o aspecto literário adquire uma pertinência nova." "O leitor é constitutivo da literatura, repete Sartre: 'O objeto literário é um estranho pião que só existe em movimento. Para fazê-lo surgir, é necessário um ato concreto designado leitura, e este só dura enquanto a leitura durar."  "(...) um imperativo para os livros: o melhor sentido é atribuído pelos leito

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) esse projeto de uma obra de arte, que faz da categoria do provisório a sua própria categoria da criação, pondo em questão, constantemente, a ideia mesma de obra conclusa, instalando o transitório onde, segundo uma perspectiva clássica, vigeria a imutabilidade perfeita e paradigmal dos objetos eternos (...)." "O espectador influi sobre a formação, isto é, sobre a transformação do quadro e, assim, se converte em seu co-autor (...) O diálogo entre o quadro e o espectador renova-se continuamente, com a constante criação." "(...) a palavra é o resultado acústico do pensamento" "O que caracteriza a função poética é, assim, um uso inovador, imprevisto, inusitado das possibilidades do código da língua." "(...) justamente esse desvio da norma, que rompia as expectativas do leitor, explicava o processo da arte, que é um processo de desautomatização (o uso normal do código automatiza as reações) mediante um recurso de singul

A Verdade não me seduz*

A Verdade anda longe das possibilidades da Aventura e da Liberdade. Aventura para em um ponto onde a linguagem possa ser alcançada e sem que depois nos arrependamos do que pensar nos possíveis estragos. A aventura das palavras e das frases, aquilo que Paul Ricoeur nos mostra, “ela faz surgir, no próprio cerne da semântica da palavra, uma incerteza, uma inquietação, um espaço de jogo, a favor do qual se torna de novo possível lançar uma ponte entre a semântica da frase e a semântica de palavra”. Uma interação entre a aventura e o que se escreve sobre o que se pensa e dizemos. Retomo todos os dias, pelas manhãs preferencialmente, temas que considero pertinente à compreensão do cotidiano. Um deles é sobre o postulado da palavra Verdade nesta compreensão. Não há juízo nenhum que me faça a crer que a Ciências Humanas se vale dela para poder melhor chegar a conclusivas sem que o fim possa ser surpreendente. Mais uma vez, isso, escrito apenas em 1977 por Barthes, no livro “Leçon”

Póeticas*

A poesia acontece e cria outros mundos possíveis tão somente para iluminar o íntimo de quem a percebe e, na espera, acolhe e se conecta a ela. A poesia acontece porque transborda ao desapegar-se das margens do lugar de sua origem ou, ainda, do lugar ao qual outrora se comportou. A poesia acontece quando se percebe que é a superfície que sufoca, sobretudo, quando a dimensão é afetiva e existencial. A poesia sempre acontece na gratidão, na esperança, na compaixão; ela transforma qualquer momento em amor. Afinal, a poesia acontece e seguirá acontecendo enquanto vida houver. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Filósofo Clínico Porto Alegre/RS

A palavra mágica*

Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteira no mundo todo. Se tarda o encontro, se não a encontro, não desanimo, procuro sempre. Procuro sempre, e minha procura ficará sendo minha palavra. *Carlos Drummond de Andrade

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