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A imagem na tela*

“O novo automatismo de nada serve por si só se não estiver ao serviço de uma poderosa vontade de arte, obscura, condensada, que aspira a desdobrar-se em movimentos involuntários que contudo não a constranjam.” Gilles Deleuze (A imagem-Tempo, Cinema 2) Sou do tipo que utiliza computador de mesa, um ser quase em extinção disse um dia desse uma voz cifrada do outro lado do écran. Agora o que mais se fala é da autonomia do cérebro, pensa em algo, lá está, o significado é o algoritmo da informação; os olhos, a câmara que move na linguagem cifrada. Para Deleuze, a informação aproveita-se de sua ineficácia para alicerçar seu poder. O poder impotente. O uso da linguagem cada vez mais é dependente das criptografias nulas, do constructo das linguagens a nudez vira um afronto. Era tudo que eu queria, a nudez viver ao lado do que cobre sobre a pele como uso livre da linguagem do corpo aos olhos do mundo laico. Tudo é uma questão de adaptação ou tudo é uma questão de tempo para n

Fragmentos Filosóficos, Poéticos, Delirantes*

"O leitor se inclina e se precipita. E ao cair - ou ao ascender, ao penetrar nos aposentos da imagem e entregar-se ao fluir do poema - se desprende de si mesmo para integrar-se em 'outro si mesmo' até então desconhecido ou ignorado."  "O próprio da poesia consiste em ser uma contínua criação e assim tirar-nos de nós mesmos, desalojar-nos e levar-nos às nossas possibilidades mais extremas." "A estranheza é assombro diante de uma realidade cotidiana que se revela de repente como o nunca visto." "(...) a esquizofrenia revela semelhanças com o pensamento mágico." "A poesia é metamorfose, mudança, operação alquímica, e por isso faz fronteira com a magia, a religião e com outras tentativas de transformar o homem e fazer 'deste' e 'daquele' o 'outro' que é ele mesmo."  "(...) nós somos o tempo, não são os anos que passam, mas nós que passamos." "Mas todo silêncio human

Transbordamentos*

Escrever transborda porque é um ato vivo. E se vivo, voluntário mesmo que por qualquer distração ou pretensão se pareça involuntário. Escrever nunca é um acidente, não é uma contingência; é intencionalidade, jamais por acaso. Escrever é vida por transbordar sentimentos sempre em alguma medida. E, talvez, a medida do poeta seja sempre a desmedida. Por isso, a poesia toca seja como for e nunca deixa ninguém sair ileso. Porventura, não há poesia indiferente - encanta ou desencanta - denuncia ou saúda - inquieta ou acalenta - repele ou atraí; transforma e comove tanto no mais profano dos ideias quanto no mais divino da prepotência. Enfim, para despertar consciência e conquistar sabedoria nunca bastará apenas conhecer caminhos, pois fundamentalmente, será sempre inevitável ter coragem e vontade para realizar percursos sem garantia de fato mas que poderão tornar-se coloríveis pela poesia de cada um como autor da sua própria história. Musa! Prof. Dr. Pablo Eutenio Mendes

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Meu pensamento não poderia dar um passo se o horizonte de sentido que ele abre não se tornasse, pela palavra, aquilo que no teatro se chama um praticável." "Diz-se que há um muro entre nós e os outros, mas é um muro que fazemos juntos: cada qual coloca a sua pedra no vão deixado pelo outro." "Coisa alguma, lado algum da coisa não se mostra senão ocultando ativamente as outras, denunciando-as no ato de encobri-las." "(...) a cultura nunca nos oferece significações absolutamente transparentes, a gênese do sentido nunca está terminada. Aquilo a que chamamos com razão nossa verdade, sempre o contemplamos apenas num contexto de signos que datam o nosso saber." "(...) Enfim, temos de considerar a palavra antes de ser pronunciada, o fundo de silêncio que não cessa de rodeá-la, sem o qual ela nada diria, ou ainda pôr a nu os fios de silêncio que nela se entremeiam." "(...) a linguagem diz, e as vozes da pintura sã

Extravio*

Onde começo, onde acabo, se o que está fora está dentro como num círculo cuja periferia é o centro? Estou disperso nas coisas, nas pessoas, nas gavetas: de repente encontro ali partes de mim: risos, vértebras. Estou desfeito nas nuvens: vejo do alto a cidade e em cada esquina um menino, que sou eu mesmo, a chamar-me. Extraviei-me no tempo. Onde estarão meus pedaços? Muito se foi com os amigos que já não ouvem nem falam. Estou disperso nos vivos, em seu corpo, em seu olfato, onde durmo feito aroma ou voz que também não fala. Ah, ser somente o presente: esta manhã, esta sala. *Ferreira Gullar

Insanidades...*

Da última vez que fizeram amor Esqueceram de se olhar bem nos olhos Esqueceram de dizer um ao outro Eu te amo... Riram muitas vezes E tantas vezes Que da última vez Ela chorou E ele não sabia porquê... Depois dos "metrossexuais" Surgiram os "sapiossexuais" Fascinação pela inteligência cultural Amor pela leitura, pelos livros. Agora ele era o "outro" Na vida dela Ela o trocou, de repente Pelo amor aos livros. *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Filósofo Clínico da Casa da Filosofia Clinica Porto Alegre/RS

Antes do nome*

Não me importa a palavra, esta corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o “de”, o “aliás”, o “o”, o “porém” e o “que”, esta incompreensível muleta que me apoia. Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada. Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. Puro susto e terror. *Adélia Prado

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O silêncio é o espaço onde as palavras  nascem e começam a se mover." "Aquilo que os poetas viram e desejam dizer não pode ser dito." "Os olhos que só vêem o visível não podem ver as ausências que moram ali." "Lembrando Valéry: ' Que somos nós sem o socorro daquilo que não existe ?'" "(...) não sabemos o nome de nosso desejo mais profundo. Resta-nos suspirar suspiros que são profundos demais para palavras. Nosso corpo fala línguas que ele mesmo desconhece." "Lembrando Guimarães Rosa: 'tudo é real porque tudo é inventado.'" "Para uma lagarta não há nada mais lindo que coisas que se assemelhem a ela. No mundo das lagartas, até os deuses são lagartas. Mas as borboletas obviamente dirão: tolice..." "Cada sonho é um testemunho de que o Paraíso ainda não chegou." "No mundo descrito por Orwell, 1984, sonhar era crime, e um homem foi preso porque, ao dormir

Invisibilidades*

Um reflexo parece dizer sobre se estar dentro da vida e fora do tempo, como uma ficção exilada na realidade. Ao ter uma epistemologia de subúrbio, sua filosofia da estranheza esboça um soar excessivo. A atitude introspectiva refaz manuscritos sobre o fenômeno à deriva no traço. Interseção extraordinária entre o lapso das travessias e as poéticas do absurdo. Atualiza a visão desses delicados contornos a se deslocar, parece reivindicar uma arte de tornar-se. A partir desse sujeito transbordando originais, os excepcionais eventos integram a irrealidade presente no cotidiano. Esse esboço de eus ficaria irreconhecível, não fora essa tradução nas entrelinhas de ir e vir. O estrangeiro de cada um se oferece nos trocadilhos, distorções, contradições quase imperceptíveis, muitas vezes em labirintos de lógica kafkiana, onde os delírios rascunham essa aptidão de estar inteiro a cada momento. Talvez a pessoa, na descrição inédita para si mesma, consiga dar visibilidade a essas

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