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Cartografia da Educação*

    Torna-se patente hoje o fato de que as construções modernas de uma razão subjetiva não eram menos utópicas do que as visões antigas e medievais de uma razão objetiva. Pois a razão subjetiva não é outra coisa senão um sujeito universal coerente. Peter Sloterdijk (Crítica da Razão Cínica)   Tenho medo de um país mais adiante, do país que vivo, ali na frente é na certa o naufrágio de um pôr do sol. Como tinha medo do país presente, melhor de um passado sem registros é o de conhecimento. É preciso que saiamos do legado moderno. Tenho este temor diante das cabeças em minha frente, o controle da ordem é a origem do pensamento, pois refletir nas certezas nos levaria ao racionalismo, nos poria no centro das discussões.  Não é o que parece, é o que vem acontecendo, cada vez mais o pensamento está sendo eivado pela brutalidade da lógica silenciosa de excluir o máximo possível, de colar o mínimo com mais força para poder fazer da realidade um acordo entre o que está disponíve

Tudo se me evapora*

Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora.  Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu. Encontro às vezes, na confusão vulgar das minhas gavetas literárias, papéis escritos por mim há dez anos, há quinze anos, há mais anos talvez. E muitos deles me parecem de um estranho; desreconheço-me neles. Houve quem os escrevesse, e fui eu. Senti-os eu, mas foi como em outra vida, de que houvesse agora despertado como de um sono alheio.  É frequente eu encontrar coisas escritas por mim quando ainda muito jovem - trechos dos dezessete anos, trechos dos vinte anos. E alguns têm um poder de expressão que me não lembro de poder ter tido nessa altura da vida. Há em certas frases, em vários períodos, de coisas escritas a poucos passos da minha adolescência, que me parecem produt

Errâncias*

Errante é o poeta Pois anda por caminhos Por ele mesmo desconhecidos Tão somente abre trilhas Tateando na sua penumbra Cambaleia, cai, e rasteja Levanta, e segue errando Sem saber ao certo Para onde vão seus passos. Como poderia conduzir Alguém por um caminho Se o próprio, desconhece Então escreve o seu caminho Para tentar conduzir-se Apenas por mais um passo Somente por mais um dia.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Sou*

Sou o que sabe não ser menos vão Que o vão observador que frente ao mudo Vidro do espelho segue o mais agudo Reflexo ou o corpo do irmão. Sou, tácitos amigos, o que sabe Que a única vingança ou o perdão É o esquecimento. Um deus quis dar então Ao ódio humano essa curiosa chave. Sou o que, apesar de tão ilustres modos De errar, não decifrou o labirinto Singular e plural, árduo e distinto, Do tempo, que é de um só e é de todos. Sou o que é ninguém, o que não foi a espada Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada. *Jorge Luis Borges

* Amores

O amor basta em si mesmo porque se espalha, contagia, realiza e completa qualquer lacuna, mesmo as mais persistentes, do início a eternidade. E quem ama, se ama mesmo, liberta e respeita. Quem ama, se ama mesmo, permite prosseguir; permite que se prossiga em paz.  Quem ama, se ama mesmo, deseja de coração aberto o melhor a quem ele libertou, independente de caminharem lado a lado ou distantes conforme escolha própria.  Quem ama, se ama mesmo é feliz porque torna os outros felizes, porque torna tudo que toca feliz, por gratidão e ternura sapiente para se aceitar como se é, ao mesmo tempo em que aceita os outros como eles são... Quem ama, se ama mesmo sorri e apoia as conquistas, sobretudo, alheias.  Porventura, amar não é apego, não é posse nem propriedade, não é cobrança nem imposição. Enfim, seguramente, amar é, tão somente, doação e libertação por amor agora. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Filósofo Clínico da Casa da Filosofia Clínica Porto

O afogado mais bonito do mundo*

SOU ANTROPÓFAGO. DEVORO livros. Quem me ensinou foi Murilo Mendes: livros são feitos com a carne e o sangue dos que os escreveram. Os hábitos de antropófago determinam a maneira como escolho livros. Só leio livros escritos com sangue. Depois que os devoro, deixam de pertencer ao autor. São meus porque circulam na minha carne e no meu sangue.  É o caso do conto "O Afogado Mais Bonito do Mundo", de Gabriel García Márquez. Ele escreveu. Eu li e devorei. Agora é meu. Eu o reconto. É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava... Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando, esp

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O nada e o ser são sempre absolutamente outros, é precisamente seu isolamento que os une; não estão verdadeiramente unidos, apenas se sucedem mais depressa diante do pensamento. Já que o vazio do Para-Si se preenche, já que o homem não está presente imediatamente a tudo, mas muito mais especialmente num corpo, numa situação e, somente através deles no mundo (...)." "(...) o olhar do outro - e é nisso que ele me traz algo de novo - envolve-me por inteiro, ser e nada." "Aparentemente, essa maneira de introduzir o outro como incógnita é a única que considera sua alteridade e a explica." "(...) o filósofo procura - uma linguagem da coincidência, uma maneira de fazer falar as próprias coisas." "(...) um mistério familiar e inexplicado, de uma luz que, aclarando o resto, conserva sua origem na obscuridade." "Lembrando Valéry: 'a linguagem é tudo, pois não é a voz de ninguém, é a própria voz das coisas, ondas e

Passagem*

Não dou conselho, viro a página do livro, Não vendo meus pertences, anulo meu sofrimento, Não compro drogas com código de barras, não voto na salvação, Não compro a alma de ninguém, não vendo meu coração, Alhures farei meu país, não jogo o jogo dos algozes, Não saio com bandeiras, minha luta é a paz, Não me iludo com promessas, minha pátria não tem dono. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Bruxa voa, não esqueçam*

  Pouco a pouco se esvai a energia de uma linda bruxa que dia após dia põe temperos de amor e dedicação em seu caldeirão. Se esvaindo troca de temperos põe agora tristeza e obrigação. O lar que antes afagava seus valores e sua doação hoje é sinônimo de vulcão que queima, machuca, não avisa. Mudar de lugar é imprescindível mas a bruxa está presa. Eu só fico na espreita do dia em que ela volte a voar... *Dionéia Gaiardo Filósofa Clínica da Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

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