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Poemas Inconjuntos*

(...) A Criança A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em um ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer. A Espantosa Realidade das Cousas A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Ma

Terapia x Fé*

Podem as crenças ser objeto de terapia ? Uma pergunta muito comum durante minhas aulas é se a fé pode ser objeto de trabalho terapêutico em consultório. Sim, a fé pode ser objeto de trabalho terapêutico e é normal que assim o seja. Muitas pessoas possuem crenças de grande peso subjetivo, desempenhando funções importantes, servindo de base para suas formas de valoração, base para suas representações de mundo, para sua visão de si mesmo, para suas buscas, para seus limites e assim por diante. Neste sentido, um dos assuntos mais tratados em consultório diz respeito ao fato do objeto da fé ser ou não condizente com a Estrutura de Pensamento do sujeito. Isto é muito comum com pessoas que se desenvolveram durante toda a vida dentro de uma crença e recentemente trocaram de religião por algum fator externo, por um casamento, por uma mudança de endereço ou por um conflito qualquer. Nestes casos, a nova religião pode não ser condizente para com a pessoa, por exemplo. Digamos que

Outubro*

Outubro, choveu tanto este mês, Outubro fiz aniversário, sol no fim de tarde, Outubro é primavera, fiz meus olhos ficarem verdes, Tive tempo de deixar vermelho meu pensamento, Fui até o espelho e vi o vulto da velhice dançando, Meu corpo é um rio temperado de cumplicidade com a vida. Vou sair para ver o rio transbordar, santuário de águas, Vou ouvir o canto do sabiá antes do dia se apresentar, Outubro, eu entre os librianos, é o som da rua, O ladrão que esconde a chuva para não se molhar, O político que é preso para o tempo ser ultrapassado. Outubro, política da violência que discorre - dia e noite. Outubro é o mês do Cartola e de Vinicius. Em outubro a dor passa mas não descansa, A música é sumo nos lábios, entoa qualquer saída, Viver é a facilidade de todas as notas do pensamento. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

A cura pela fala*

"Sou uma microcirurgiã da mente. Médica, psiquiatra e psicanalista por formação, uso palavras e símbolos para explorar e modificar o panorama neural das mentes e cérebros de meus pacientes, da mesma maneira como o cirurgião maneja o bisturi para expor e extirpar estruturas comprometidas do corpo." "(...) a chamada 'cura pela palavra', originalmente criada por Freud, altera literalmente a conexão dos neurônios cerebrais entre si. Essa reformulação neuronal propicia mudanças na sua maneira de produzir, integrar, vivenciar e compreender informações e emoções." "Esse trabalho exige não apenas paciência, mas também persistência, para conseguir levá-lo a contento. Se formos muito duros, na tentativa de desfazer os nós rápido demais, corremos o risco de magoar o paciente, o equivalente psíquico de puxar-lhe os cabelos." "Trabalhando com Alice em psicoterapia, tenho de visualizar o mapa em ziguezague de sua mente e explorar sua ilha d

Nem tudo que reluz é ouro*

Certo dia, conversando com um amigo, médico esteta, dividimos um impasse sobre a mulher gostosa de verdade. Foi um “bate boca” danado porque ele insistia em dizer que remodelava e reformava os corpos de suas clientes e elas ficavam mais gostosas. Éramos cinco na mesa do almoço, Paulo o esteta, Ricardo o cirurgião plástico, Ibraim um clinico holístico, Carla uma dentista reabilitadora e eu, terapeuta de mulheres. Turminha da pesada contando casos interessantes e comentando as pirações das cabeças femininas sobre a forma física e tantas outras coisas. Em certo momento, a turma dividida, eu conversando com Carla e Ibraim enquanto Paulo conversava com Ricardo e... algo me chamou atenção na conversa deles dois. _ Rapaz, você viu a transformação da Suzana, aquela cliente que operou na clinica de Ipanema no mês passado? Fez lipo total, colocou 250 Gr em cada mama, reaproveitou parte da gordura do abdome e injetou nas nádegas. Voltou para uma revisão e eu fiquei de queixo caíd

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Literários*

"(...) é possível dizer que começamos a escrever no momento em que nascemos. Afinal, escrever é uma maneira de olhar para o mundo ao nosso redor. Aos poucos, vamos reparando nas coisas, coletando ideias, imaginando narrativas, até passar aquilo para o papel ou para a tela do computador." "(...) independente da forma, as palavras possuem um poder de criação. Quando as pessoas rezam, por exemplo, elas pronunciam diversas palavras, imaginando uma realidade diferente, criando um mundo em suas mentes. O mesmo acontece com a literatura. De alguma forma, aquelas palavras se tornam vivas, os personagens começam a ter existência própria." "O problema (e a sedução) da Clarice Lispector é que ela é uma ilha, não permite seguidores. Ela está ali sozinha. Ela começa e termina sozinha, fechada. É o caso do Guimarães Rosa também." "É preciso aceitar aquilo com o que não concordamos: cada personagem tem sua humanidade, e a arte surge quando abdicamos

O sonho das palavras*

“Quem se entrega com entusiasmo ao pensamento racional pode se desinteressar das fumaças e brumas através das quais os irracionalistas tentam colocar suas dúvidas (...).”                                                                        Gaston Bachelard Um enredo malabarista se insinua em apontamentos de quase lógica. O sonhar das palavras rascunha vontades, antecipa delirando aquilo desconsiderado pela razão conhecida. Seus apontamentos de estética maldita dizem mais do que consegue traduzir. Não-ser acontecendo nalgum ponto entre realidade e ficção.  Essa sensação do fenômeno ter alguma sobrevida nos termos agendados no intelecto, possui rasgos de transcendência inevitável. Parece reverenciar o lugar instante onde a exceção, o acaso, se desdobram num agora continuado.    É possível ao verso irreal conter mensagens ilegíveis. Sua referência ao texto repleto de incompletudes parece querer dizer, ao leitor atento, sobre as alternativas de reescrever-se com sua l

Mapa de anatomia: o olho*

O Olho é uma espécio de globo, é um pequeno planeta com pinturas do lado de fora. Muitas pinturas: azuis, verdes, amarelas. É um globobrilhante: parece cristal, é como um aquário com plantas finamente desenhadas: algas, sargaços, miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.   Mas por dentro há outras pinturas, que não se vêem: umas são imagens do mundo, outras são invetadas.   O Olho é um teatro por dentro. E às vezes, sejam atores, sejam cenas, e às vezes, sejam imagens, sejam ausências, formam, no Olho, lágrimas. *Cecília Meireles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Não pode imaginar o quanto é amargo para mim quando as pessoas não me compreendem, quando deturpam o que eu disse e veem tudo distinto do que eu pensei.." "Querido irmão, Perdoe-me por não ter escrito antes. Estou tendo, como de costume, um monte de aborrecimentos para resolver. Meu romance, do qual simplesmente não consigo fugir, mantém-me eternamente trabalhando. Se eu soubesse de antemão como seria isso, eu jamais teria começado a escrevê-lo. Decidi refazê-lo totalmente e, meu Deus, como isso fez o texto melhorar." "(...) Estive apaixonado pela esposa de Panaiev, mas passou, ainda que siga pensando nela. Minha saúde está terrivelmente abalada. Estou neurótico e temo ficar febril a qualquer momento. Não consigo viver decentemente, sou um dissoluto. Se não conseguir me banhar no mar durante o verão, serei um desgraçado. Adeus. Por favor, escreva. Perdoe-me por essa carta desajeitada. Eu estou com pressa. Um beijo, meu irmão. Seu, Dostoiév

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