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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Falar mete-me medo porque, nunca dizendo o suficiente, sempre digo também demasiado" "No escritor o pensamento não dirige a linguagem do lado de fora: o escritor é ele próprio como um novo idioma que se constrói" "Contrariamente ao Ser e ao Livro leibnizianos, a racionalidade do Logos pela qual a nossa escritura é responsável obedece ao princípio da descontinuidade." "Esta superpotência como vida do significante produz-se na inquietação e na errância da linguagem sempre mais rica que o saber, tendo sempre movimento para ir mais longe do que a certeza pacífica e sedentária" "Husserl sempre acentuou a sua aversão pelo debate, pelo dilema, pela aporia, isto é, pela reflexão sobre o modo alternativo em que o filósofo, no termo de uma deliberação, pretende concluir, isto é, fechar a questão, parar a expectativa ou o olhar numa opção, numa decisão, numa solução" "A palavra proferida ou inscrita, a letra, é sempre

Criando particulares*

Por uma questão de conhecimento científico, conhecimento aquele que pretende ser o mais acurado e rigoroso, muitas vezes destacamos uma parte do todo para dar mais ênfase no estudo, na averiguação, na pesquisa, enfim, para aprofundar o conhecimento deste tópico. Assim, por exemplo, falamos coisas do tipo: “Na armadilha conceitual o ponto cego acaba por nos deixar prejudicados. Pois o ponto cego acaba por tomar decisões por nós e nos impossibilita de perceber ou sentir com mais clareza”, e por aí vai. Quando falamos dessa forma, quando abstraímos uma parte do todo para melhor entendimento ou pesquisa daquele tópico, sem querer, muitas vezes, acabamos criando um particular excluído do todo, isto é, fazemos ontologia . O ponto cego, no exemplo, acaba por ser entendido e tratado como se fosse um ente de subsistência própria, destacada do todo. Criamos ontologicamente um particular e, portanto, como consequência, um universal . O universal é aquilo que identifica os particula

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O meu êxtase suscitou indizíveis que povoaram a minha imaginação, fomentaram a minha ternura e fortaleceram as minhas faculdades pensantes. Muitas vezes atribuí essas sublimes visões a anjos encarregados de prepararem a minha alma para destinos sobrenaturais. Elas dotaram os meus olhos da faculdade de ver o espírito íntimo das coisas, prepararam o meu coração para as magias que fazem o poeta infeliz, quando ele tem o fatal poder de comparar o que sente com o que existe." "(...) teve os olhos constantemente fixos no rio, mas pela maneira por que escutava, dir-se-ia que, à semelhança dos cegos, sabia reconhecer as agitações da alma nas imperceptíveis modulações da palavra." "(...) Era assim que ampliava, sem saber, o sentido das palavras, e que arrebatava nossa alma para regiões sobre-humanas." "O seu rosto é daqueles cuja semelhança exige o inatingível artista cuja mão sabe pintar o reflexo dos fogos interiores, e reproduzir essa penu

Poética clandestina*

                                                                                                                                                                                                Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão, desconstroem a certeza de uma só versão para todas as coisas.   A atitude inesperada de toda razão oferece uma perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar comentário ou técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros, reapresentada na inspiração libertária dos movimentos da irreflexão. Um cavalheiro andante em busca de sua tribo encontra Adão e Eva no paraíso da singularidade. A palavra realiza uma poética das ruas. Seu caráter de profanação reivindica um ritual de iniciados. Os enredo

Poemas Inconjuntos*

(...) A Criança A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em um ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer. A Espantosa Realidade das Cousas A espantosa realidade das cousas É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é, E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, E quanto isso me basta. Basta existir para se ser completo. Tenho escrito bastantes poemas. Hei de escrever muitos mais. naturalmente. Cada poema meu diz isto, E todos os meus poemas são diferentes, Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto. Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Ma

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