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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) sempre existem, entre as dualidades universais, entre as pluralidades, o mundo da razão e o que é alheio a este" "É que o meu mundo não é o mundo de vocês (...). De forma que eu não conheço o mundo de vocês e vocês não conhecem o meu" "O que é a vida senão uma recordação de bundas e bocetas em que a gente penetrou ?"  "Penso que em outros tempos eu vivia num mundo mais semelhante ao de vocês, refiro-me ao mundo da razão, mas as coisas se tornaram cada vez mais insustentáveis e comecei a deixar a casa daquele mundo e a retirar-me para esta" "Ora, pelo amor de Deus, Moise, sou eu que me traio para todo mundo, ninguém se trai para mim nem é traído por mim" "O mundo da razão deixou de ser sustentável para mim (...) usei todas as minhas tintas até esgotá-las" "Suponho que seja simplesmente e inevitavelmente humano atribuir todas as deserções da pessoa amada a alguma influência diversa daquil

Fenomenologia das imagens*

                       “As sílabas recolhidas pelos lábios — belo silencioso círculo — ajudam a estrela rastejante em seu centro.” Paul Celan Os sentiment os andam ao lado de nossa vontade. Nossos desejos não são alterações meteorológicas e sim psíquicas. São funções de nossas percepções e sonhos. Um cruzar de idéias que percorrem o tempo de nossa existência. Esse cruzar complexo, onde mora o único valor, o que pode nos manter vivos todas às manhãs quando acordamos.  É o acordar do “trajeto antropológico” sob as imagens que circulam nosso Ser esse tempo todo. Sonoridade na dor, na despedida e nas chegadas das imagens. O encontro do vivido com o que buscamos mais adiante do olhar. Meus sentimentos começaram antes do século XX findar. Bem antes, quando ainda sentia poder encontrar através das imagens todas as linguagens que fossem o expressar do cotidiano. O cotidiano lançou seus dados Mallarmaicos que impulsionaria as inspirações nos signos de hoje. Assim acordei pe

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para os alunos, ele era um anarquista - vivaz, excêntrico, profano" "Sua mente era um fluxo só, a cabeça cheia de ideias discordantes, que se cristalizavam em belas sequências de prosa, que subiam do pântano às alturas do ascetismo" "Escrevia os contos que se tornariam Dubliners, luminosas imagens da cidade que professava odiar, mas que apesar disso estão impregnadas de ternura pelas criaturas perdidas 'excluídas do festim da vida'" "Durante toda a vida foi um leitor voraz. Lia livros, panfletos, manuais, guias de ruas, tudo e qualquer coisa para alimentar seus gostos ecléticos e sua sede de saber"  "Joyce recorreu em vão aos amigos literários. Thomas Kettle leu os contos e disse que eles fariam mal à Irlanda. A cada dia que passava, intensificavam-se os escrúpulos e objeções" "Dois anos depois, o editor original (...) decidiu publicar Dubliners. As críticas foram mornas, o material julgado medíoc

Verdade*

A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os dois meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram a um lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em duas metades, diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. As duas eram totalmente belas. Mas carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia. *Carlos Drummond de Andrade

Poéticas assimétricas*

São sem métricas Minhas poéticas Assim analfabéticas Tristes ou alegres Sem ordem alfabéticas Construções hipotéticas Assim peripatéticas Alegres ou tristes Criações céticas De uma fé herética Em busca de alguma estética.... Eu não sei...!!!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Demasiada loucura é o mais divino juízo*

Demasiada Loucura é o mais divino Juízo - Para um Olhar criterioso - Demasiado Juízo - a mais severa Loucura - É a Maioria que Nisto, como em Tudo, prevalece - Consente - e és são - Objecta - és perigoso de imediato - E acorrentado - *Emily Dickinson

A palavra vertigem*

      "O idioma está sempre em movimento, mas o homem, por ocupar o centro do redemoinho, poucas vezes percebe essa mudança incessante."                                Octávio Paz Um ser irreconhecível se desdobra na expressividade fugaz. Seu aspecto de invasor ameaça o saber encastelado, seu ritmo alucinado de vivências subjetivas re_apresenta um devir quase esquecido. Ao pensar o impensável realiza uma excursão pela partícula de infinito desconsiderada. Sua ótica de incerteza desconstrói o mundo de uma só verdade.     Os sons murmurados nas entrelinhas apresentam o instante entre um e outro. Sua lógica de estorvo, o caráter de percepção excessiva denuncia espaços, amplia escutas, vislumbra imaterialidades. As associações desgovernadas esboçam um contato com o absurdo. Parece recordar que a vida não tem ponto final.  Sua estranha dialética é ser registro de uma ausência. Como um acesso de desrazão, seu teor de expressividade não cabe numa definição. Nas po

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Eu não tenho nenhuma espécie de superstição pelos nossos títulos escolares ou universitários; eles dão algumas vezes algum saber profissional, muito restrito e ronceiro, e nunca uma verdadeira cultura" "Os leitores hão de dizer que não era possível encontrar isso numa casa de loucos. É um engano; há muitas formas de loucura e algumas permitem aos doentes momentos de verdadeira e completa lucidez" "Digo com franqueza, cem anos que viva eu, nunca poderão apagar-me da minha memória essas humilhações que sofri" "Esta passagem várias vezes no hospício e outros hospitais deu-me não sei que dolorosa angústia de viver que eu me parece ser sem remédio a minha dor" "Caído aqui (hospício), todos os médicos temem pôr logo o doente na rua. A sua ciência é muito curta, muito prevê; mas seguro morreu de velho e é melhor empregar o processo da Idade Média: a reclusão"   "Amaciado um pouco, tirando dele a brutalidade do ac

Ela tem olhos verdes*

Estou lendo um livro de 84 32 anos, exatamente minha idade Não busco nele ciências Quero a versão de uma mulher Encontro o avesso de várias Variadas versões dela Poderiam ser as nossas Mas uma predomina ser Menina, eu vi! ela é fogueira Tanto esquenta quanto aquece Você acha que a conhece? Ardente e mansa, Se metade dela eu fosse... Não mudaria, nem se quisesse Tem alma leve quando enlouquece Desnuda-se e atravessa oceanos Navega em mares que não conhece Ama o mistério dos olhos Sai do mar, põe os pés na areia Fala por nós, dores e amores... Séculos de dominação E ainda assim estamos soltas Se não em nossas almas, Na alma das outras! A natureza nos chama... *Dionéia Gaiardo Filósofa Clínica Porto Alegre/RS

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