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A cidade das palavras esquecidas*

“É possível que desde Sófocles todos nós sejamos selvagens tatuados. Mas na Arte existe alguma outra coisa além da retidão das linhas e do polido das superfícies. A plástica do estilo não é tão ampla como toda a ideia (...) Temos coisas demais para as formas que possuímos”                               Flaubert Num cotidiano de atividade limite existe uma aproximação com a subjetividade do não dito. O não sentido concede vestígios ao artesão das palavras. Uma nova conjugação se anuncia na rasura do texto conhecido. Manuscritos assim costumam se expressar em linguagem própria. A expressividade desses fenômenos, um pouco antes de significar-se no traço da autoria, se insinua nalguma forme de transbordamento. Sua subjetividade acolhe essa intencionalidade para resignificar seus dias. Busca compartilhada da contradição com a estrutura do delírio.   Um leitor de incompletudes desvenda esses horizontes por vir. Sua atividade inclui rituais de tradução a essas páginas chega

Uma Didática da Invenção*

I Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber: a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca b) 0 modo como as violetas preparam o dia para morrer c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos f) Como pegar na voz de um peixe g) Qual o lado da noite que umedece primeiro. Etc. etc. etc. Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios. IV No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava escrito: Poesia é quando a tarde está competente para Dálias. É quando Ao lado de um pardal o dia dorme antes. Quando o homem faz sua primeira lagartixa É quando um trevo assume a noite E um sapo engole as auroras IX Para entrar em estado de árvore é preciso partir de um torpor animal de lagarto às 3 horas da tarde, no mês de agosto

A vida e seus milagres*

A vida é um milagre que de repente acontece e aí já é; e continua. A vida é um milagre e por mais que ansiedades, pretensões, prepotências, egoísmos ou apegos possam intervir e superficialmente parecer dominar, na verdade, o poder do amor prossegue o seu caminho inabalável até tocar todos os corações mais dia menos dia. Por isso, a poesia persiste seja nas linhas seja nas entrelinhas, seja no suspiro sincero, na pulsação ou nos intervalos entre um pulso e outro. A poesia nunca morre nem esfria. Porventura, mentiras sempre cairão por terra, ilusões também, mas o amor, nossa o amor é foda e por ser ou estar infinitamente no agora, sempre continua enquanto máscaras se desfazem e corações se regeneram, sobretudo, quando se cansam de doerem, de amargarem, de se enganarem. E é quando o mistério da vida transborda e se torna resposta concreta é que percebemos o quanto a nossa alma se revela nas motivações provindas daquilo que vem de dentro para fora e que é provocado por inspira

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) sempre existem, entre as dualidades universais, entre as pluralidades, o mundo da razão e o que é alheio a este" "É que o meu mundo não é o mundo de vocês (...). De forma que eu não conheço o mundo de vocês e vocês não conhecem o meu" "O que é a vida senão uma recordação de bundas e bocetas em que a gente penetrou ?"  "Penso que em outros tempos eu vivia num mundo mais semelhante ao de vocês, refiro-me ao mundo da razão, mas as coisas se tornaram cada vez mais insustentáveis e comecei a deixar a casa daquele mundo e a retirar-me para esta" "Ora, pelo amor de Deus, Moise, sou eu que me traio para todo mundo, ninguém se trai para mim nem é traído por mim" "O mundo da razão deixou de ser sustentável para mim (...) usei todas as minhas tintas até esgotá-las" "Suponho que seja simplesmente e inevitavelmente humano atribuir todas as deserções da pessoa amada a alguma influência diversa daquil

Fenomenologia das imagens*

                       “As sílabas recolhidas pelos lábios — belo silencioso círculo — ajudam a estrela rastejante em seu centro.” Paul Celan Os sentiment os andam ao lado de nossa vontade. Nossos desejos não são alterações meteorológicas e sim psíquicas. São funções de nossas percepções e sonhos. Um cruzar de idéias que percorrem o tempo de nossa existência. Esse cruzar complexo, onde mora o único valor, o que pode nos manter vivos todas às manhãs quando acordamos.  É o acordar do “trajeto antropológico” sob as imagens que circulam nosso Ser esse tempo todo. Sonoridade na dor, na despedida e nas chegadas das imagens. O encontro do vivido com o que buscamos mais adiante do olhar. Meus sentimentos começaram antes do século XX findar. Bem antes, quando ainda sentia poder encontrar através das imagens todas as linguagens que fossem o expressar do cotidiano. O cotidiano lançou seus dados Mallarmaicos que impulsionaria as inspirações nos signos de hoje. Assim acordei pe

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Para os alunos, ele era um anarquista - vivaz, excêntrico, profano" "Sua mente era um fluxo só, a cabeça cheia de ideias discordantes, que se cristalizavam em belas sequências de prosa, que subiam do pântano às alturas do ascetismo" "Escrevia os contos que se tornariam Dubliners, luminosas imagens da cidade que professava odiar, mas que apesar disso estão impregnadas de ternura pelas criaturas perdidas 'excluídas do festim da vida'" "Durante toda a vida foi um leitor voraz. Lia livros, panfletos, manuais, guias de ruas, tudo e qualquer coisa para alimentar seus gostos ecléticos e sua sede de saber"  "Joyce recorreu em vão aos amigos literários. Thomas Kettle leu os contos e disse que eles fariam mal à Irlanda. A cada dia que passava, intensificavam-se os escrúpulos e objeções" "Dois anos depois, o editor original (...) decidiu publicar Dubliners. As críticas foram mornas, o material julgado medíoc

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