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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o viajante apresenta um risco moral inegável, e isso por ser portador de novidades!" "É seu escapismo, essa capacidade de se movimentar, que o predispõe toda hora à sublevação, aos transbordamentos afetivos, à quebra da ordem estabelecida. O errante não perdeu nada em sua propensão ao movimento, até faz disso uma cultura, e isso é intolerável quando prevalecem os valores estabelecidos"  "A nostalgia do outro lugar engendra a errância que, por sua vez, favorece um ato fundador. A anomia e a efervescência são fundações sólidas de qualquer nova estruturação" "É uma boa metáfora do aspecto fundador do nomadismo que, por saber escapar da esclerose da instituição, pode ser eminentemente construtor" "Em constantes peregrinações, sempre à margem, vivendo e suscitando a aventura, o profeta está nas encruzilhadas. Seu discurso está sempre no limite, sua atitude é um desafio ao instituído. Seu discurso está sempre no limite,

Onde encontrar a poesia ?*

- Oi, quem bate? - É uma poesia!! Insiste a poesia Em bater levemente Assim, de forma tímida À portinha dum paraíso Coração feito abrigo Para que ele se abra Abracadabra!!! Desfaz o feitiço Pela doçura De alguma poesia Não existe Poesia em si Existe , sim, poesia em mim Existe , sim, Poesia em ti. Poderia ainda o amor Ser o contato Entre duas poesias? Até a queda livre pode ser livre... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Descrevendo o lógos como um zôon, Platão segue alguns retóricos e sofistas que, antes dele, opuseram à rigidez cadavérica da escritura a fala viva, regulando-se infalivelmente sobre as necessidades da situação atual, as expectativas e a demanda dos interlocutores presentes, farejando os lugares onde ela deve se produzir, fingindo curvar-se no momento em que ela se apresenta ao mesmo tempo persuasiva e constrangedora. O lógos, ser vivo e animado, é também um organismo engendrado" "O  lógos é, pois, o recurso, é preciso voltar-se para ele, e não somente quando a fonte solar está presente e nos ameaça queimar os olhos se os fixarmos nela; é preciso ainda voltar-se para o lógos quando o sol parece ausentar-se em seu eclipse. Morto, apagado ou oculto, esse astro é mais perigoso do que nunca" "Durante o reino de Osíris (rei-sol), Thot, que era também seu irmão, 'iniciou os homens nas letras e nas artes', 'criou a escritura hieroglífica para

Desejos*

Há muito, muito tempo começamos a gestar o micróbio da realidade que temos agora. Os anos calcificaram tanto a percepção até não mais lembrarmos que as agruras enfrentadas são justamente os males um dia pensados, materializados nas condições físicas e materiais do entorno ora vil. Um ditado para isso: “cuidado com o que desejas, pois pode se realizar”. Naquele tempo, não se sabia do “Segredo”, essa geração espontânea a partir do pensamento. E foi-se, dia após dia, não podendo mudar as circunstâncias nem a si mesmo, elaborando pragas e perjúrios, fornecendo substância para o que seria, no meio da jornada, uma pedra oca a guardar a escuridão. Numa estrada de terra no meio do quase nada, o motorista diz: “Olhe como são as coisas. Quando eu era menino, ficava andando nas estrada no Ceará, andava muito mesmo; de vez em quando, pegava carona e eu pensava – ainda vou dirigir um carro por essa terra toda. E hoje to aqui, sou motorista”. Por isso a gente precisa planejar o que quer

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o Viajante curioso é para o Passageiro responsável aproximadamente o que o camaleão era para o urso. O primeiro investigador, etnógrafo, no limite, espião, para recolher conhecimento, tem antes de mais nada necessidade de se fazer admitir no espaço-tempo onde transita: é por isto que, seja qual for o lugar onde se introduz, ele tem que se disfarçar segundo a 'cor local', até quase confundir-se com o Outro, sem chegar, no entanto, jamais a querer se fundir nessa identidade diferente (...)" "(...) Desse ponto de vista, a mudança, esperada, desejada, assumida, torna-se paradoxalmente produtora de identidade. Aderir a ela, não é nesse caso 'morrer um pouco' deixando partir, como o que foi, uma parte de si que não será mais: é talvez, exatamente ao contrário, um dos meios mais elementares de afirmar sua própria existência, tanto ao olhar de si mesmo como diante de outrem. É mudar se não 'a vida', em todo caso, o sentido de sua própria v

Parafraseando***

Antes de libertas, As palavras sonham. A emoção, então, prevalece E a razão se aquieta O sonho das palavras é destemido É urgente! As sensações estão presentes E as palavras brotam. Veem com os olhos do coração Ouvem o que com elas se parece E retumbam, céleres os seus anseios. Palavras vão, palavras sonham Sonhos utópicos e realizam o seu espanto... Destroem, constroem em devaneios O destino a elas se apresenta em forma de labirinto Um rascunho, pelo meio...incompletas... À moda de mensagens certeiras, destemidas. Ilegíveis, inaudíveis? Talvez... Mas, por vontade, realizáveis São fortes as palavras tímidas... A mesma natureza, que as move, Faz do rascunho que elas montam O percurso das ideias proibidas Em busca da fresta que as conduza Por aquelas zonas indecifráveis. Por que, então, o sisudo discurso Em tensos rompantes, já esquecido? Discurso inaudível, invisível sim Pois as palavras ditas se esvaem ... As ai

Noite*

“O sol data o tempo interpretado nas ocupações.” Martin Heidegger Eu não sei se a solidão maior é estar sozinho ou é estar diante das certezas absolutas da vida. Se a certeza é uma definição, o absoluto de todas as coisas afunda-se nas incertezas de algo que é coisa do humano, demasiado humano.  Estamos envolvidos até a morte com as certezas.  O sujeito chega e solta sua sentença, ele vem com suas armas de morte, não de vida, pois a vida está bem distante das certezas do sujeito que as sentencia. É melhor tomar conta da vida que simplesmente desaparecer. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Clarice Lispector entrevista Pablo Neruda*

Clarice Lispector — Você se considera mais um poeta chileno ou da América Latina? Pablo Neruda — Poeta local do Chile, provinciano da América Latina. Clarice Lispector —Escrever melhora a angústia de viver?   Pablo Neruda — Sim, naturalmente. Tra­ba­lhar em teu ofício, se amas teu o­fí­cio, é celestial. Senão é infernal. Clarice Lispector — Quem é Deus?   Pablo Neruda — Todos algumas vezes. Nada, sempre. Clarice Lispector — Como é que você descreve um ser humano o mais completo possível?   Pablo Neruda — Político, poético. Físico. Clarice Lispector — Como é uma mulher bonita para você?   Pablo Neruda — Feita de muitas mulheres. Clarice Lispector — Escreva aqui o seu poema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?   Pablo Neruda — Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos? Clarice Lispector — Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?   Pablo Neruda — Acredite-me tolo ou patriótico,

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